TIAGO LEME
DOHA, QATAR (UOL/FOLHAPRESS) – A Copa do Mundo de 2022 é a esperança de fazer o futebol cair no gosto dos torcedores do Qatar. A aposta é, principalmente, no público mais jovem, que já acompanha à distância os clubes da Europa. A Qatar Stars League, o campeonato por pontos corridos do país, porém, ainda sofre com público.
Parte das arquibancadas é formada por imigrantes que receberam para estar ali e vem de países em que o futebol não é popular. A outra, por uma elite qatari que evita se misturar com a população mais pobre.
Um contraste que dificulta fazer enxergar um clima de Copa no país. A um ano e meio da grande festa em parceria com a Fifa, o Qatar não lembra uma nação que respira o Mundial.
Nos últimos anos, os clubes apostaram na presença de estrelas internacionais. O espanhol Xavi, ex-Barcelona, jogou e depois virou treinador do Al Sadd, atual campeão local. Mesmo assim, a média de público é de menos de 700 pessoas por partida —antes das restrições por causa da Covid-19.
Nem mesmo os clássicos entre os rivais Al Sadd, Al Rayyan, Al Duhail, Al Gharafa e Al Arabi atraem mais gente. Apenas a final da Copa do Emir costuma encher o estádio. Mas acontece só uma vez por ano. Na decisão de 2019, 38 mil espectadores compareceram para assistir ao título do Al Duhail —o clube do brasileiro Dudu, ex-Palmeiras.
“A cultura de ir ao estádio não é muito difundida aqui, eles preferem fazer outras coisas. Eu já fui assistir a um jogo aqui, uma vez no camarote, no VIP, e vi uma coisa me marcou, foi engraçado. Muita gente preferia ficar vendo o jogo nas televisões de uma área dentro do clube com sofás, nos chamados ‘majlis’, onde eles ficam tomando chá e conversando. E era só subir a escada para ver o jogo no campo mesmo, mas eles não têm este costume”, conta Arroyo Filho.
Nos estádios do Qatar, a divisão do público pelo nível econômico é clara: de um lado, no setor VIP, os qataris e alguns estrangeiros expatriados de classe alta; do outro, nas arquibancadas mais simples, a massa de trabalhadores imigrantes. Os ingressos para as partidas não são caros, variam entre 10 rials e 50 rials (R$ 15 e R$ 75), mas a procura é baixíssima.
Um jornalista do Qatar, que preferiu não se identificar, contou à reportagem que a elite local que frequenta os estádios não se mistura com os estrangeiros de baixa renda. Ele explicou também que muitos imigrantes são pagos ou recebem bilhetes gratuitos para irem torcer na tentativa de impulsionar o futebol no país.
Menos de 20% da população de 2,8 milhões de habitantes do Qatar é formada por qataris. Mais de 80% dos residentes são estrangeiros, a grande maioria de países menos desenvolvidos da Ásia, imigrantes que trabalham em serviços, obras e construções da estrutura para a Copa do Mundo.
Pessoas vindas da Índia, Bangladesh e Nepal formam quase metade da população do Qatar, e esses três países também não têm o futebol como principal esporte. A modalidade favorita é o críquete, que cada vez mais passa a fazer parte também do dia a dia desta região do Oriente Médio. Com isso, com a presença de craques como Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar e Mbappé, a Copa de 2022 terá um papel fundamental na tentativa de atrair a atenção dos residentes e desenvolver o futebol no país.