O Nordeste brasileiro está no centro da nova estratégia logística do país. A afirmação é do secretário executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, que participou do congresso “Energia 360 Alagoas”, realizado pela Origem Energia, em Macéio, revelou que a região deve receber mais de R$ 20 bilhões em investimentos estruturantes nos próximos anos, com foco na integração entre matriz energética renovável e infraestrutura de mobilidade.
Entre os projetos anunciados e em implantação, está o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Campina Grande, na Paraíba, com previsão de funcionamento já em 2026. “Esse VLT vai aproveitar uma linha ferroviária existente, que antes servia ao transporte de cargas, para criar 15 km de mobilidade urbana. É um projeto concreto, já lançado, e que começa a rodar no ano que vem”, garantiu Santoro.
Segundo o secretário, os VLTs em Campina Grande (PB) e Arapiraca (AL) são apenas o começo de uma estratégia de reaproveitamento de malhas ferroviárias subutilizadas no interior do Nordeste. “Além desses dois, temos projetos em fase de estruturação para trens de passageiros entre Fortaleza e Sobral (CE) e entre Feira de Santana e Salvador (BA). São investimentos que promovem a mobilidade urbana sustentável, reaproveitando a infraestrutura já existente”, explicou.
Os quatro projetos somam quase R$ 10 bilhões em investimentos, segundo Santoro. “E ainda temos a Transnordestina, maior obra ferroviária em andamento no Brasil, com mais de R$ 10 bilhões já aplicados e 4 mil pessoas trabalhando diretamente. Só aí, já ultrapassamos os R$ 20 bilhões investidos em infraestrutura ferroviária no Nordeste.”
A declaração de George Santoro reforça a integração entre transporte e energia, especialmente no contexto da transição energética, uma das pautas mais desafiadoras do Governo Federal, segundo Santoro. “Estamos criando os chamados corredores azuis, com pontos de abastecimento para veículos elétricos, a gás e GNL (Gás Natural Liquefeito) ao longo das rodovias federais. Essa política está sendo implementada com apoio do DNIT e da Senatran, e já está presente em concessões rodoviárias operadas por empresas privadas”, destacou.
O secretário executivo disse que o Ministério dos Transportes também trabalha para autorizar e regulamentar caminhões elétricos e movidos a gás, como parte da estratégia nacional de descarbonização da frota pesada.
Os investimentos anunciados devem gerar impactos expressivos na economia nordestina. “O efeito multiplicador no setor de transporte é grande. Cada real investido pode gerar de duas a quatro vezes mais em movimentação econômica e geração de empregos, especialmente na construção civil e nas cadeias de suprimento”, afirmou Santoro.
Além do impacto direto, a nova malha ferroviária permitirá escoar com mais eficiência a produção agrícola, industrial e energética da região, conectando o Nordeste a grandes centros consumidores e portos estratégicos como o de Itaqui (MA). “Estamos negociando grandes investimentos com a FCA (Ferrovia Centro-Atlântica) para renovar a malha ferroviária da Bahia e interligar com o Sudeste”, revelou.
Ao falar da Paraíba, Santoro foi enfático ao destacar o papel estratégico do estado. “Campina Grande está à frente com o VLT, e há uma conexão muito importante entre a vocação energética da Paraíba e o modelo de mobilidade sustentável que estamos implantando. A região tem matriz energética limpa, barata e renovável. Agora precisa da logística para transformar esse potencial em competitividade.”
Segundo ele, os investimentos federais têm foco em viabilizar rotas eficientes para a produção de gás natural, energias renováveis, grãos e cargas industriais, o que deve posicionar a Paraíba como elo logístico fundamental no Nordeste.
Ao final da entrevista, George Santoro fez uma projeção otimista sobre o futuro do Nordeste. “Não é exagero dizer que o Nordeste será um dos pólos de desenvolvimento mais dinâmicos do Brasil na próxima década. O que estamos vendo é um avanço estrutural: energia limpa, logística eficiente e integração com o restante do país. Junto com o sudeste, essa região vai crescer acima da média nacional”, pontou.