O Nordeste brasileiro reúne condições naturais, técnicas e estratégicas para liderar a nova era da energia limpa no Brasil. A afirmação é de Luiz Felipe, CEO da Origem Energia, empresa que desenvolve projetos pioneiros de armazenamento de gás natural em terra, e que tem atuação em Alagoas. Durante entrevista exclusiva ao F5 Online, realizada durante o congresso Energia 360 Alagoas, promovido pela Origem Energia, ele defendeu a descentralização do consumo energético, alertou sobre as ineficiências do atual modelo nacional e comparou o potencial do Nordeste ao de regiões ricas em energia no Oriente Médio. “Somos a Arábia Saudita dos ventos, a Dubai do sol”, disse.
Leia a entrevista completa com Luiz Felipe Coutinho, CEO da Origem Energia:
F5 Online – Qual o papel do Nordeste no cenário energético nacional?
Luiz – Sem dúvida, o Nordeste é a região do Brasil que produz a energia mais limpa e mais competitiva para o sistema. Como disse nosso diretor de novos negócios, somos a Arábia Saudita dos ventos, talvez a Dubai do sol, e ainda temos a Origem aqui em Alagoas com a segurança do gás natural. Mas o modelo atual ainda exporta essa energia barata para o Sul e Sudeste, o que encarece o processo. Precisamos repensar o desenvolvimento nacional, trazendo indústrias e empregos para a região.
F5 Online – É viável que o Nordeste assuma a liderança energética do país nos próximos anos?
Luiz – Completamente viável. Mas isso exige planejamento. O Brasil desperdiça oportunidades por falta de visão estratégica. Já disse que “propósito sem visão é conhecer o destino sem saber o caminho”, e sem planejamento, tudo vira desperdício. O país precisa organizar seu sistema energético com base nas forças regionais, e não em interesses isolados.
F5 Online – Qual o papel do gás natural na transição energética brasileira?
Luiz – O gás natural é hoje, para o mundo, a “bateria” que garante segurança ao sistema elétrico. As fontes renováveis, como eólica e solar, crescem rápido, mas são intermitentes. Não temos sol à noite, e nem sempre venta. Quando isso acontece, o sistema precisa de potência de reserva e o gás é a fonte mais barata, eficiente e segura para fornecer essa compensação.
F5 Online – Como a Origem Energia tem contribuído nesse cenário?
Luiz – Desenvolvemos um projeto pioneiro de armazenamento de gás natural em terra, em Alagoas. Trabalhamos nele desde 2021. Esse tipo de tecnologia já é consolidado fora do Brasil, foi o que salvou a Europa durante a guerra na Ucrânia. Aqui, não havia regulação. Então, a Origem atuou junto ao regulador e ajudou a construir as normas. Recentemente, conseguimos a licença prévia ambiental, o que nos coloca perto da licença de instalação e, em seguida, da autorização da ANP para operação.
F5 Online – Que impacto esse projeto terá para o consumidor de energia no Nordeste?
Luiz – Ao longo da expansão, vamos ver uma energia mais barata e regionalmente mais competitiva. Isso não só reduz custos para o consumidor, mas atrai investimentos. Empresas, data centers e indústrias tendem a se instalar onde a energia é mais acessível. Se estruturarmos isso bem, todos ganham: governo, iniciativa privada e sociedade.
F5 Online – É possível estimar quando esses efeitos serão percebidos?
Luiz – Sim. Num horizonte de 5 a 10 anos, os efeitos devem se tornar evidentes. Com as condições corretas, o Nordeste pode competir globalmente, inclusive com países como Chile e México, que também têm vocação para energia limpa.
F5 Online – Qual é a proposta da Origem para que isso aconteça?
Luiz – Estamos trabalhando para juntar as peças de um quebra-cabeça que ainda não está completo. Temos as fontes limpas e a infraestrutura, mas falta um sistema planejado para integrá-las de forma eficiente. O debate que ocorre agora, com racionalidade, é o primeiro passo. Se combinarmos investimento privado e boas políticas públicas, teremos resultados concretos em breve.
F5 Online – Além de Alagoas, a Origem atua em outros estados do Nordeste?
Luiz – Sim, estamos também em Tucano Sul, na Bahia. São as duas únicas bacias de gás natural não associado conectadas à malha nacional. Por isso concentramos nossos investimentos nessas regiões. Alagoas, em especial, tem reservas promissoras e infraestrutura estratégica para prover energia segura e competitiva ao sistema.