Fora de linha desde o fim de janeiro, o Honda HR-V está de volta com visual totalmente novo e mudanças importantes na parte mecânica e também nos equipamentos de segurança.
Após conquistar clientes fiéis na geração anterior, o SUV compacto da marca japonesa busca ampliar o sucesso já obtido no mercado brasileiro, investindo em atributos como baixo consumo, bom espaço interno, design esportivo e capacidades de condução semiautônoma desde a versão de entrada
Já falamos das várias qualidades do lançamento da Honda, mas como ele se equipara com a concorrência, cada vez mais acirrada na categoria de SUVs compactos?
Para responder a essa pergunta, colocamos o HR-V para medir forças com um dos seus adversários mais qualificados: o Hyundai Creta, que também passou por uma reformulação profunda recentemente e está entre os mais vendidos do segmento.
O duelo que você confere a seguir acontece na faixa dos R$ 150 mil, entre a versão EXL do utilitário esportivo da Honda, que tem tudo para ser a mais vendida, e a configuração Platinum do Creta – a opção topo de linha com motor 1.0 turbo flex.
O Honda, que na versão avaliada traz propulsor 1.5 aspirado com injeção direta, também é candidato a se dar bem no mercado.
Confira a seguir como é e o que oferece cada um deles e tire suas próprias conclusões.
Preço: R$ 149.900
Motor: 1.5 flex aspirado com injeção direta, 4 cilindros
Câmbio: CVT com 7 marchas simuladas, tração dianteira
Potência: 126 cv a 6200 rpm
Torque: 15,8 kgfm a 4.600 rpm
Aceleração de 0 a 100 km/h: não informada
Velocidade máxima: não informada
Dimensões: 4,33 m de comprimento, 1,79 m de largura, 1,59 m de altura e 2,61 m de distância entre-eixos
Peso: 1.309 kg
Porta-malas: 354 litros
Tanque: 50 litros
Preço: R$ 145.990 (R$ 154.190 com teto solar panorâmico)
Motor: 1.0 turbo flex com injeção direta, 3 cilindros
Câmbio: automático de 6 marchas, tração dianteira
Potência: 120 cv a 6.000 rpm
Torque: 17,5 kgfm a 1.500 rpm
Aceleração de 0 a 100 km/h: 11,5 segundos
Velocidade máxima: 180 km/h
Dimensões: 4,30 m de comprimento, 1,79 m de largura, 1,62 m de altura e 2,61 m de distância entre-eixos
Peso: 1.270 kg
Porta-malas: 422 litros
Tanque: 50 litros
O novo HR-V investe em um visual mais dinâmico e até esportivo, com linhas limpas e fluidas e destaque para a traseira alongada com estilo de cupê e vidro bem inclinado na tampa do porta-malas.
As lanternas de LED estreitas, unidas por uma barra iluminada que atravessa a tampa do compartimento de bagagens, ajudam a compor o estilo mais urbano e próximo daquele de carros de passeio. A menor altura da carroceria, na comparação com o Creta, também reforça essa impressão.
A dianteira do novo Honda possui faróis full-LED bem afilados e posicionados junto ao capô, além da grade sem a enorme barra cromada da geração anterior. Ficou mais elegante e moderno.
Por dentro, a nova linguagem visual da Honda também está presente, com abundância de linhas retas – como as saídas do ar-condicionado, posicionadas em uma faixa que atravessa o painel.
Já o Creta exibe um design mais típico de SUVs, com traseira curta e carroceria mais elevada em relação ao modelo da Honda.
Além disso, não tem vergonha de ser diferente: o conjunto ótico dividido em três seções, considerado polêmico por muitos, particularmente me agrada e não passa despercebido – convenhamos que a Fiat Toro segue caminho parecido e também é um sucesso de vendas.
Também aprovo a traseira do Hyundai, com suas lanternas diferentonas e iluminadas por LEDs – cuja seção inferior lembra a letra “J”.
Nas laterais do Creta, a moldura na cor cinza acetinada que percorre a parte superior da carroceria, logo acima das portas, e que se alarga na coluna traseira dá um toque de sofisticação – o mais legal é que está disponível desde a versão Confort, de entrada.
Por dentro, painel e revestimentos das portas ajudam a compor o estilo arrojado e contam com peças bem encaixadas e sem rebarbas – apesar do predomínio de plásticos duros, o que não foge do padrão na entre SUVs compactos não produzidos por marcas de luxo.
Combinando dois tons, a cabine do Hyundai é mais chamativa em relação ao interior do HR-V, sobretudo devido ao painel de instrumentos digital e da multimídia maior.
O habitáculo mais sóbrio do Honda me agrada mais e também tem melhor acabamento, com painel das portas dianteiras macio ao toque e superfícies emborrachadas no painel e em outros lugares que o rival não tem.
Os dois carros têm visual marcante e empatam no quesito design.
Os dois SUVs são bem equipados nas configurações testadas e cada um é melhor em alguns aspectos.
O HR-V EXL, por exemplo, tem painel de instrumentos analógico e computador de bordo com tela colorida de alta resolução de 4,2 polegadas entre o conta-giros e o velocímetro de ponteiro.
Já no Creta Platinum a maior parte do cluster é digital, com tela central de 7 polegadas que também conta com boa resolução.
O Hyundai ainda oferece central multimídia consideravelmente maior, com 10,25 polegadas, ante oito polegadas do concorrente. O sul-coreano também se sobressai por ser o único a trazer navegação GPS nativa, que até informa congestionamentos.
Além disso, o Creta conta com recarga de celulares sem fio, por indução – ausente na versão testada do rival japonês.
Essa comodidade perde boa parte do sentido porque o Creta requer cabo para a conexão de smartphones via Android Auto e Apple CarPlay, enquanto no HR-V o pareamento é realizado sem a necessidade de fios.
O Honda vem com duas duas portas USB convencionais para os ocupantes dos bancos dianteiros e outras duas para quem viaja atrás – No Creta, são duas entradas USB: uma frontal e outra traseira.
Ambos contam com chave presencial e partida do motor por botão, além de ar-condicionado automático e digital com saída exclusiva para a segunda fileira de assentos.
Os dois utilitários esportivos têm bancos de couro sintético, ao passo que somente o Hyundai é equipado com ventilação no banco do motorista.
Outro ponto em comum da dupla, bastante valorizado pelos consumidores, é a presença de freio de estacionamento eletrônico com função auto hold, que mantém o veículo freado até o condutor acelerar novamente.
Só o HR-V vem de fábrica com faróis full-LED, enquanto no Creta eles são halógenos e só a luz de condução diurna traz LEDs.
O Hyundai contra-ataca ao oferecer na configuração Platinum o teto solar panorâmico, que eleva seu preço a R$ 154.190 – o item está ausente, inclusive como opcional, até na configuração topo de linha do representante da Honda.
Por fora, os dois têm rodas de liga leve de 17 polegadas, antena do tipo barbatana e faróis de neblina – que são de LED no HR-V.
Em relação a itens de conforto e conveniência, o Creta tem pequena vantagem, considerando o preço sugerido.
Equipados com pneus de perfil alto, nas medidas 215/60R17, HR-V e Creta têm rodar bastante confortável, também devido ao ajuste das respectivas suspensões, que trazem eixo de torção na traseira nos dois veículos.
Medindo 2,61 m de distância entre-eixos e 1,79 m de largura, os dois utilitários esportivos se destacam no que se refere ao espaço para os respectivos ocupantes.
Contudo, o Honda é ainda melhor do que o Hyundai, especialmente no assento traseiro, onde até ocupantes de estatura elevada conseguem esticar as pernas e viajar confortavelmente.
A montadora japonesa decidiu privilegiar o espaço no banco de trás, que foi recuado alguns centímetros ante a geração anterior do HR-V – devido a isso, a capacidade do porta-malas caiu de 437 para 354 litros e só não foi mais reduzida devido à traseira mais longa na comparação com o modelo “antigo”.
Dá para perceber facilmente que o bagageiro do Creta é maior, com 422 litros de capacidade – ambos os utilitários esportivos têm compartimento de bagagens iluminado e forrado com carpete.
Sem tanto espaço no porta-malas, o Honda HR-V traz o sistema Magic Seat de rebatimento e ajuste dos bancos, que permite transportar objetos de diferentes tamanhos e formatos, um diferencial que a concorrência não oferece.
A cabine do HR-V tem melhor acabamento e um diferencial que muitos deverão curtir: a função difusora das saídas dianteiras do sistema de climatização: girando um botão, você pode direcionar o fluxo de ar para as laterais e para a parte superior do painel, sem que ele atinja diretamente os ocupantes. Os bancos da dupla são bastante confortáveis.
Em relação ao conforto a bordo, o HR-V se sai melhor.
Em relação ao desempenho, não há muito o que discutir: o Creta é o melhor neste aspecto, trazendo motor 1.0 turbo de 120 cv e 17,5 kgfm a apenas 1.500 rpm – contra 126 cv e 15,8 kgfm a 4.600 rpm do HR-V., equipado com o mesmo propulsor 1.5 aspirado que estreou recentemente no novo City.
Ligeiramente menos potente, o veículo da Hyundai traz quase 2 kg a mais de torque, cujo pico é alcançado em rotações muito mais baixas.
Esses números, combinados com o câmbio automático convencional de seis velocidades, fazem do Creta um SUV bastante esperto e prazeroso de se conduzir, oferecendo muito mais vigor do que o HR-V nas acelerações e nas retomadas.
O Honda não é fraco, mas realmente está longe de empolgar. Nele, a adoção do motor aspirado e do câmbio CVT priorizam o baixo consumo de combustível, que realmente é de impressionar.
Em rodovia e com o pé leve, obtive em alguns trechos média superior a 17 km/l com gasolina no tanque.
O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia informa que o novo HR-V faz 8,8 km/l (cidade) e 9,8 km/l (estrada) com etanol; com o derivado do petróleo, as médias sobem para 12,7 km/l e 13,9 km/l, respectivamente.
Quanto ao Creta, o mesmo instituto aponta médias de 8,2 km/l (cidade) e 8,9 km/l (estrada) com álcool e de 12 e 12,2 km/l com gasolina.
Nunca é demais lembrar que, a partir de outubro, o HR-V terá as configurações 1.5 turbo flex de 177 cv à disposição dos consumidores, com preços a partir de R$ 176.800.
Para completar, ambos têm aletas no volante para troca manual de marchas, enquanto o Hyundai traz, ainda, seletor de modos de condução. Já o Honda tem o botão Eco, para economizar ainda mais combustível.
Nesse quesito, o duelo tem empate técnico: de um lado, o Honda é muito mais eficiente e, do outro, o Creta anda bem mais.
Aqui não tem para muito o que discutir: a vitória é do Honda devido ao pacote de assistências à condução Sensing, que vem de série desde a versão de entrada e contribui na prevenção a acidentes.
O pacote é composto por alerta de colisão com frenagem automática de emergência; controle de velocidade de cruzeiro adaptativo, que ajusta sozinho a velocidade selecionada e a distância segura do veículo à frente, além de funcionar em baixas velocidades; assistente de permanência na faixa, que movimenta o volante para mantê-lo entre as demarcações na pista; mitigação de evasão de pista, que traz o carro de volta para a faixa; e farol alto acionado automaticamente.
Tive a oportunidade de testar todos esses equipamentos e fiquei surpreso em relação à sua eficiência: funcionam mesmo, ainda que essas tecnologias tenham bastante o que evoluir, em qualquer veículo da atualidade, até existirem no mercado veículos capazes de trazer condução autônoma.
É verdade que uma boa parte dos assistentes disponibilizados no HR-V podem equipar o Creta, mas somente na versão topo de linha Ultimate, equipada com motor 2.0 flex aspirado de 167 cv e que sai por R$ 167.390.
É importante dizer que o Hyundai é melhor em alguns itens voltados à segurança: ele tem câmeras nos dois retrovisores, que são acionadas ao dar a seta e exibem a imagem das laterais do carro no painel digital; o Honda também traz o recurso, criado para prevenir pontos cegos, mas apenas no retrovisor esquerdo.
Além disso, a imagem da câmera aparece na central multimídia do HR-V, sobrepondo-se a qualquer conteúdo nela exibido – como a navegação do Waze, por exemplo – a função pode ser desativada a qualquer momento, bastando apertar um botão na extremidade da alavanca de seta.
Só o Creta tem o sistema de câmeras “360 graus”, que permite monitorar o entorno do SUV por meio de diferentes ângulos – o Honda EXL só traz a câmera de ré convencional, com pior resolução.
Ambos vêm de fábrica com seis airbags e sensores traseiros de estacionamento, mas só o Creta – na configuração avaliada – conta com o sistema de rastreamento e monitoramento remoto, que permite operar a distância, via aplicativo de celular, uma série de funções.
No HR-V, esse recurso é disponibilizado apenas nas configurações turbinadas.
Tanto o HR-V quanto o Creta são excelentes alternativas para quem busca um SUV compacto moderno, seguro e bem equipado.
Os dois têm mais semelhanças do que diferenças, a começar pelas respectivas dimensões, sem falar no preço.
Um pouco mais caro, o Honda vence no espaço interno, embora tenha porta-malas menor; no consumo, apesar do motor mais fraco; e também na segurança, por conta das tecnologias de assistência à condução – algumas das quais o Hyundai só oferece na versão mais cara.
É importante que uma marca “generalista” ofereça avançada tecnologia de direção semiautônoma em toda a gama, embora valha a pena lembrar que as assistências ainda estão longe de ser 100% confiáveis – independentemente da marca ou modelo do veículo.
Mesmo assim, segurança nunca é demais, se você puder pagar por isso.
Esse duelo terminaria empatado, já que o Creta compensa suas deficiências em relação ao rival oferecendo mais desempenho e alguns equipamentos, considerando as versões avaliadas.
Só que o Honda Sensing justifica o desempate. Assim, a vitória é do HR-V EXL.