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O Microfone invasivo do WhatsApp: quando a privacidade é posta à prova
21/05/2023 / 18:30
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A discussão sobre o uso de microfones em segundo plano pelo aplicativo WhatsApp ganhou força nas redes nos últimos dias e, de fato, merece uma reflexão. Sem entrar na celeuma de jogos de poder entre as principais plataformas digitais, o alerta foi feito por um engenheiro do Twitter, que publicou, inclusive, print de uma timeline dessa vigia enquanto estava dormindo e logo que acordou. Bastou o post ser replicado por nada menos do que Elon Musk, dizendo que o app de troca de mensagens não é confiável, que as redes ferveram.

Em tempos de inteligência artificial, internet das coisas e uso massivo de aplicativos de troca de mensagens, não há ingenuidade que disfarce o fato de que, sim, estamos sendo observados, monitorados, vigiados o tempo todo. Como previu George Orwell no seu distópico e cabalístivo livro 1984, estamos na era do Grande Irmão, uma espécie de Big Brother, porém, com toda a humanidade conectada participando e onde a verdade é manipulada e associada à repressão das liberdades individuais. O livro, escrito e publicado pela primeira vez em 1949, é um clássico obrigatório que captura os temas centrais sobre vários tipos de opressão e, por isso mesmo, que vale a pena ser revisitado nesta era de transformação digital.

Sem querer dar spoiler, já dando, nesse “futuro” de Orwell a humanidade era controlada por algo que o autor chamou de “teletela”, uma tecnologia onipresente e opressiva, uma espécie de televisão que transmite programação controlada e capta imagens do ambiente, monitorando as pessoas o tempo todo e, com isso, permitindo ao poder vigente o total controle e manipulação sobre as pessoas, vigiando e espionando movimentos e qualquer palavra, sem falar na modelagem do pensamento.

Voltando, da ficção de George Orwell para o microfone em background do Whatsapp, em menor grau, claro, já estamos vivenciando algo parecido. Há muitos pontos de contato da obra de Orwell com os dias atuais e o que nos espera no futuro muito próximo,sendo que até esse tipo de TV foi anunciada nas últimas semanas. O fato é que a denúncia contra o WhatsApp trouxe à tona questões fundamentais sobre a segurança e a privacidade online e que merecem ser discutidas.

Como sabem, o WhatsApp, pertencente ao Facebook, é um dos aplicativos de mensagens mais populares do mundo, com mais de dois bilhões de usuários ativos. A confiança dos usuários em relação à privacidade de suas comunicações é essencial para o sucesso contínuo do aplicativo e foi exatamente essa crença que começa a ficar abalada com essa onda de preocupações e denúncias.

De acordo com o engenheiro do Twitter, o WhatsApp teria desenvolvido um recurso que permite a ativação do microfone em segundo plano, mesmo quando o aplicativo não está sendo usado. A justificativa para essa funcionalidade seria melhorar a experiência do usuário, detectando quando uma pessoa está próxima ao telefone para facilitar o envio de mensagens de voz, por exemplo.

No entanto, o engenheiro afirma que a utilização do microfone em segundo plano não se restringe a esse propósito aparentemente benigno. Ele alega que o aplicativo está coletando áudio constantemente, mesmo quando o usuário não está ciente disso, com o objetivo de monitorar conversas e atividades do dispositivo para fins de publicidade direcionada e coleta de dados pessoais.

Essas alegações levantam uma série de preocupações em relação à privacidade e à segurança dos usuários. A ideia de ser vigiado ou espionado sem o conhecimento ou consentimento é alarmante e pode levar a inúmeras consequências negativas, como o uso indevido de informações pessoais, violações de privacidade e até mesmo a perpetração de crimes cibernéticos.

E vejam, foi um engenheiro de uma plataforma também gigantesca que gerou o alerta, ou seja, alguém que sabe minimamente o que está falando e quais devem ser as preocupações a partir daí.

Em resposta à denúncia, o WhatsApp emitiu um comunicado oficial enfatizando seu compromisso com a privacidade dos usuários. A empresa negou veementemente as acusações e afirmou que não utiliza o microfone em segundo plano para espionar os usuários. Além disso, o WhatsApp ressaltou que todas as comunicações realizadas por meio do aplicativo são protegidas por criptografia de ponta a ponta, garantindo que apenas os participantes das conversas tenham acesso ao conteúdo das mensagens.

Como usuários do WhatsApp em nossa vida pessoal e profissional, é fundamental que estejamos cientes dos recursos de privacidade disponíveis nos aplicativos que utilizamos e tomemos medidas para proteger nossas informações pessoais. Isso inclui a revisão das configurações de privacidade, a utilização de senhas fortes e o cuidado com os dados compartilhados nas plataformas digitais. Não percamos de vista que a privacidade online é um direito fundamental, e a discussão em torno do uso do microfone em background pelo WhatsApp destaca a importância contínua de garantir a segurança dos usuários em um mundo cada vez mais digitalizado.

Finalizo voltando ao grande pensador sobre opressão e manipulação, George Orwell, que publicou antes da obra 1984 outro livro que aborda temas semelhantes – A Revolução dos Bichos, em 1945 – e que vai um pouco além em uma narrativa que se encaixa no jogo político dos homens, mas isso é tema para outro domingo. Fico por aqui deixando uma frases emblemáticas do autor:

“Power is in tearing human minds to pieces and putting them together again in new shapes of your own choosing.” (O poder está em despedaçar mentes humanas e juntá-las novamente em novas formas de sua própria escolha.)

“Who controls the past controls the future. Who controls the present controls the past.” (Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado.)

“Big Brother is watching you.” (O Grande Irmão está te observando.)

“Doublethink means the power of holding two contradictory beliefs in one’s mind simultaneously, and accepting both of them.” (Duplipensar significa o poder de manter simultaneamente duas crenças contraditórias em sua mente e aceitar ambas.)