
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou, na manhã desta segunda-feira (8/12), a Operação Aurora, uma ação nacional que investiga uma organização criminosa especializada no tráfico de medicamentos controlados — entre eles o misoprostol, comercializado ilegalmente sob o nome Cytotec e usado clandestinamente para a prática de aborto.
A ofensiva ocorre em parceria com a Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública (DIOPI/Senasp), por meio do Projeto Impulse, integrante do Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas (ENFOC/MJSP).
A operação, realizada simultaneamente em diversos estados, contou com apoio das Polícias Civis locais, incluindo a Paraíba, onde a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRACO) atuou no cumprimento das diligências.
Os alvos da ação estão distribuídos por diferentes regiões do país. As diligências foram cumpridas em:
Segundo a investigação gaúcha, o grupo vendia ilegalmente misoprostol e oferecia orientações virtuais às mulheres sobre o uso do medicamento durante o procedimento abortivo — o que indica uma estrutura criminosa organizada e com atuação interestadual.
A operação teve início após um caso registrado em 2 de abril deste ano, em Guaíba (RS). Na ocasião, uma jovem procurou atendimento no hospital regional com dores intensas e acabou expelindo dois fetos. Ao ser ouvida pela polícia, relatou ter ingerido misoprostol comprado pela internet. Junto aos comprimidos, ela teria contratado uma espécie de “assessoramento técnico” remoto para realizar o aborto, supostamente feito por “uma doutora”.
Durante o procedimento, no entanto, a orientadora passou a demorar para responder às mensagens, deixando a gestante sem assistência. Com o agravamento das dores, a jovem buscou atendimento médico.
A vítima contou à polícia que encontrou o contato da rede criminosa por meio de pesquisas no TikTok sobre aborto e gravidez indesejada. Abordada por uma pessoa, foi informada que existiam “profissionais” capazes de ajudá-la “com segurança” a interromper a gestação.
Após o primeiro contato, recebeu uma tabela com valores do misoprostol e a quantidade de comprimidos recomendada conforme as semanas de gravidez. Em seguida, foi adicionada a um grupo de WhatsApp chamado “Sinta-se acolhida”, supostamente criado para compartilhar experiências após o procedimento. Apesar disso, o grupo orientava que detalhes sobre o processo e o preparo não fossem divulgados.
A investigação telemática identificou os administradores do grupo, únicos autorizados a vender o medicamento e a orientar o uso durante o aborto. Eles residem em diferentes estados, formando uma rede de atuação nacional.
Segundo a Delegada Karoline Calegari, responsável pelo caso, mais de 250 mulheres faziam parte do grupo. A estimativa é de que o esquema tenha movimentado valores expressivos com a venda do medicamento.
A primeira etapa da Operação Aurora busca determinar o papel de cada integrante na estrutura criminosa e identificar a origem do misoprostol desviado — já que o fármaco é de uso exclusivo hospitalar e sua comercialização é proibida em farmácias.
Em nota, a Polícia Civil destacou que a operação, com o apoio do Ministério da Justiça e das Polícias Civis de vários estados, representa um esforço conjunto no combate ao narcotráfico, na proteção da integridade física de mulheres expostas a riscos e na defesa da vida.
Na Paraíba, a operação contou com o suporte da DRACO, que participou das ações desta segunda-feira (8/12).