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Pacientes sofrem com falta de médicos e suspensão de cirurgias no Hospital Santa Isabel em João Pessoa
24/11/2023 / 14:27
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O Hospital Municipal Santa Isabel (HMSI) é especialista em procedimentos de alta e média complexidade e oferta aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) mais de 20 especialidades médicas para tratamento cirúrgico como cirurgia geral, urologia, coloproctologia, vascular, cabeça e pescoço, mastologia, bariátrica, entre outras.

Segundo a prefeitura de João Pessoa, responsável pela administração, no primeiro semestre do ano foram realizados 2.322 procedimentos cirúrgicos no hospital, sendo 293 na área de ginecologia, uma das mais procuradas.

Apesar da demanda, cirurgias de endometriose profunda e histerectomia que vinham sendo realizadas na unidade não estão nem mais sendo agendadas, conforme denúncias de pacientes à reportagem. Um abaixo-assinado na internet busca chamar a atenção de autoridades e entidades de classe para a situação e pede o retorno dos procedimentos ginecológicos.

O portal F5 Online entrou em contato com a direção administrativa do hospital, que informou que as cirurgias estão suspensas desde o último mês de agosto e não há previsão de retorno. A justificativa é de que a médica responsável deixou a unidade por questões pessoais e a direção do hospital ainda estaria resolvendo, junto com a prefeitura, a contratação de outro profissional para assumir as funções.

Ainda de acordo com a direção administrativa do Santa Isabel, durante a suspensão, as pessoas que precisarem passar por procedimentos de endometriose profunda ou histerectomia devem procurar o Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba.

“Tem muita mulher sofrendo”

Enquanto o hospital municipal segue sem médico, pessoas que necessitam das cirurgias permanecem na fila sem saber quando poderão ter suas demandas de saúde atendidas. O F5 Online conversou com duas dessas pacientes:

Samara Matias tem 34 anos, é publicitária e mora em João Pessoa. Foi diagnosticada com endometriose profunda, um tipo da doença que cria lesões e pode afetar múltiplas partes do corpo, gerando dores intensas e risco de infertilidade, comprometendo a qualidade de vida.

Ela está no processo para conseguir a cirurgia há cerca de um ano, quando passou por um posto de saúde e foi encaminhada para o Santa Isabel através da regulação. Após uma série de exames e apresentação do risco cirúrgico, chegou à etapa final para agendar a cirurgia, no último dia 16 de novembro, ocasião em que foi informada de que as cirurgias não estão mais sendo feitas, que não há previsão de retorno e que o hospital estaria realizando o controle clínico da evolução da doença.

“Se as cirurgias estivessem acontecendo, eu já estaria com a minha data marcada”, lamenta Samara. “E foi comemorado aqui na nossa cidade a conquista de que esses procedimentos cirúrgicos estavam acontecendo no Santa Isabel, com uma equipe muito capacitada, qualificada. A gente que sofre com a endometriose muitas vezes é obrigada a fazer algum tipo de acompanhamento no particular. A gente tem acesso aos especialistas no particular e percebe que esses bons especialistas estavam atendendo no SUS, então gerou uma ponta de esperança pra muita gente”.

“Em geral é uma doença incapacitante, não tem um risco imediato de morte, mas tira muito a qualidade de vida, muitas dores, muito sofrimento”, relata a publicitária.

No hospital, Samara chegou a ouvir de funcionários que, além do problema administrativo envolvendo saída de médica responsável, a suspensão das cirurgias estaria ligada à falta de instrumentos e equipamentos.

“A fila está enorme, as cirurgias não estão sendo marcadas e é algo que envolve diretamente a saúde da mulher. A gente faz tanta campanha, acabamos de sair do outubro rosa e tal, e no caso tá só no discurso né, uma doença tão voltada para o universo feminino, uma doença ginecológica”

Hospital Santa Isabel, em João Pessoa, presta assistência especializada em saúde da mulher – Foto: Secom

Comprometimento na qualidade de vida

Andréia Galdino é outra paciente diagnosticada com endometriose profunda. No seu caso, a doença está comprometendo intestino e reto.

“Preciso com urgência fazer a cirurgia, a qual já fui encaminhada e já dei entrada no Hospital Santa Isabel, porém fui comunicada que teria que aguardar uma liberação, pois essa cirurgia de endometriose profunda não está sendo realizada, está nesse momento suspensa”.

Ela comenta sobre a perda na qualidade de vida em razão do problema, diz que “as dores são constantes e intensas” e lembra de outras mulheres em situação semelhante.

“Eu consegui o encaminhamento pra cirurgia, consegui também já deixar toda a documentação, tudo direitinho lá pra cirurgia, com urgência, porém orientaram pra que eu ficasse no aguardo da liberação dessas cirurgias, assim que retornasse, eu seria informada pra que eu tivesse providenciando o gera da secretaria de saúde do meu município, no caso Araçagi, para assim também estar providenciando os exames pré-operatórios, pra poderem informar o dia da realização, mas que precisaria estar aguardando porque até então as cirurgias estão suspensas”.

Na ocasião, em novembro, profissionais do setor de marcação de cirurgias “informaram que a suspensão da realização dessas cirurgias de endometriose profunda está relacionada à questão da suspensão de repasse de recursos e falta de material”, comenta Andréia, que assim como Samara, denunciou a situação na Defensoria Pública.