Setores da economia brasileira afetados pelo tarifaço dos Estados Unidos elogiam o plano de apoio lançado nesta quarta-feira (13) pelo governo Lula (PT), mas cobram novas medidas para enfrentar a situação. Também pedem mais esforços diplomáticos contra a sobretaxa de 50% de Donald Trump.
O pacote anunciado em Brasília inclui uma linha de crédito de até R$ 30 bilhões para ajudar as companhias que foram prejudicadas pela guerra comercial, além do adiamento de impostos federais, maior ressarcimento de créditos tributários e uma reformulação nas garantias à exportação para facilitar a busca de novos mercados.
Em nota, a Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados) afirmou que o plano representa um avanço no apoio às empresas, com medidas alinhadas aos pleitos da entidade.
A associação, porém, disse que o conjunto de ações apresentado ainda não contempla plenamente a cadeia produtiva do setor.
“O pequeno produtor, que comercializa sua produção para empresas exportadoras, corre o risco de ficar desamparado neste plano de contingenciamento, uma vez que os instrumentos anunciados priorizam diretamente o exportador direto”, afirma o comunicado, assinado pelo presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho.
“Sem medidas que cheguem efetivamente à base da produção, há risco de retração nas compras e prejuízo à renda e à permanência desses produtores no campo”, acrescenta.
Manga, uva e açaí são exemplos de frutas do Brasil exportadas para os Estados Unidos. A Abrafrutas diz que continuará atuando junto ao governo e ao Congresso para que sejam intensificados os esforços diplomáticos para retirada definitiva da taxação sobre o setor.
A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) disse que o plano anunciado nesta quarta é um primeiro passo para mitigar os danos impostos pelas medidas dos Estados Unidos. A entidade cobra agilidade na implementação do pacote do governo Lula.
“A Firjan considera ser fundamental que as empresas, principalmente as pequenas e médias, tenham acesso rápido às ações do programa do governo para mitigação dos impactos.”
Segundo a federação, 2% das exportações fluminenses estão sujeitas às tarifas implementadas por Trump. Há, porém, temor de efeitos indiretos ao longo das cadeias produtivas do estado, principalmente em pequenas e médias indústrias.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) diz que seguirá contribuindo com propostas para ampliar a resiliência do setor produtivo. A entidade também defende a manutenção do diálogo com o setor privado norte-americano.
Para a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), a retomada nas negociações com o governo dos Estados Unidos deve ser a prioridade da gestão Lula. “O momento é de evitar declarações retaliatórias e evitar discussões públicas improdutivas. É mais relevante negociar com responsabilidade e moderação”, diz a federação.
No setor calçadista, medidas como a ampliação do Reintegra, programa que prevê o ressarcimento de parte dos tributos para empresas que exportam manufaturados, o crédito e a extensão do prazo de drawback (mecanismo de suspensão, isenção ou devolução de tributos sobre insumos adquiridos para a produção voltada à exportação) são importantes e contemplam parte das solicitações do setor.
Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), ressalva, porém, que o segmento ainda espera novas medidas voltadas à manutenção dos empregos, pois o setor faz uso intensivo de mão de obra.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) classificou como positivas as medidas. O presidente da entidade, Ricardo Alban, participou do evento de lançamento em Brasília e considerou que o pacote traz o que chamou de conceitos básicos –dar prioridade às negociações e tomar novas medidas se houver necessidade.
Outros setores bastante afetados pela sobretaxa de 50%, como café, pescados e madeiras, ainda analisavam o texto da medida provisória para avaliar o quanto os exportadores estão atendidos pelo pacote de socorro anunciado pelo governo.
Com Folha de São Paulo