ARTHUR SANDES
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Já faz mais de ano que o Brasil não tem torcida regular em partidas de futebol. Desde o começo da pandemia de Covid-19, alguns estádios do país viraram hospitais de campanha e depois passaram a receber jogos de portões fechados. Mas, no restante do mundo, não é necessariamente assim: já tem arquibancada por aí com mais de 50 mil pessoas e sem nem precisar se preocupar com o coronavírus.
No mês passado, 51.723 pessoas estiveram em um jogo de futebol australiano entre Carlton Blues e Collingwood Magpies, uma das maiores rivalidades do país. No estádio, a aglomeração estava liberada e ninguém precisava nem sequer usar máscara. Não era uma quebra de protocolo, mas um evento comum e autorizado.
A partida ocorreu em uma região que já vive no pós-pandemia: o estado de Victoria não tinha nenhum caso ativo de Covid-19 no dia do jogo. A Austrália, aliás, registrou apenas uma morte pela doença nestes quatro meses de 2021.
Já há eventos esportivos acontecendo com torcida em um punhado de países do mundo. Na Nova Zelândia, por exemplo, já em junho de 2020 havia partidas de rúgbi com 42 mil pessoas, afinal, o país sempre esteve praticamente livre da Covid-19 —hoje, tem apenas 32 casos ativos da doença.
Outro exemplo é Israel, no qual mais da metade da população (56%) já está vacinada e completamente imunizada. Por lá, os públicos do futebol ainda estão limitados a 5 mil pessoas, que precisam comprovar terem sido vacinadas ou agendar um teste rápido horas antes da partida.
Também já há futebol com público em vários países europeus. A final da Copa da Liga Inglesa, por exemplo, receberá até 8 mil pessoas neste domingo (25). Será um teste para a liberação de até 10 mil torcedores nos grandes estádios, prevista para ocorrer na metade de maio.
Flexibilizações desse tipo são possíveis porque o Reino Unido registrou apenas 180 pessoas mortas com Covid-19 na última semana —no Brasil, para comparação, foram mais de 20 mil no mesmo período.
O recorde de público em eventos esportivos durante a pandemia talvez seja da Índia, que, também no mês passado, teve dois jogos de críquete com público de 66 mil e 67 mil pessoas em um estádio com capacidade para 130 mil. No entanto, ao contrário de Austrália, Israel e Nova Zelândia, o país vive nova alta de casos: foram 7.875 óbitos na semana passada.
O maior público em tempos de Covid-19, no entanto, em breve será dos Estados Unidos. Nesta semana, os organizadores anunciaram ocupação de até 40% do Circuito de Indianápolis para as 500 Milhas deste ano —o evento pode receber até 135 mil pessoas em 30 de maio. O estado de Indiana registra dez mortes por covid-19 na média móvel de mortes —a do Brasil passa de 2,5 mil.
A maioria dos países citados vive situações muito diferentes da que é visto no Brasil neste momento da pandemia. Austrália e Nova Zelândia praticamente não têm mais mortes por Covid-19; Israel é o país que lidera a vacinação no mundo; e, no Reino Unido, os casos da doença são 4% do que foram no auge da segunda onda.
Os EUA já vacinaram totalmente 27% da população; enquanto o Brasil ainda não passou de 4,4%. A Índia, pelo contrário, vive seu pior momento em toda a pandemia —mas nem assim o número de mortes registradas chega perto das estatísticas do Brasil.