Quando se fala em futuro no mercado de trabalho, o setor de saúde sempre é um dos mais auspiciosos. E não é para menos, afinal, são vários os fatores que contribuem para a prosperidade do segmento, como aumento da população idosa, dificuldades no acesso a consultas, exames, cirurgias e internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS), expansão dos planos privados e, como se não bastasse, a pandemia de covid-19.
Neste cenário de possibilidades, destaque para o crescimento das healthtechs – as startups da medicina, que são as empresas que desenvolvem tecnologias para potencializar o sistema de saúde, conduzindo vários upgrades para a oferta de serviços.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Startups, nos últimos oito anos o número de startups cresceu 20 vezes. Em 2019 já eram quase 13 mil. E dessas 13 mil empresas startups mapeadas, 396 atuam no setor de saúde e bem-estar, fazendo com que este seja o terceiro maior mercado de atuação deste tipo de empresa do Brasil, atrás das inclinadas para a área de finanças (fintechs) e educação (edtechs).
Uma delas é a MedBolus, que nasceu em 2017, como uma plataforma de atualização médica com vídeos de até 15 minutos que tratam de diversos temas. “Com 4.500 usuários cadastrados, é como se fosse a Netflix de médicos especialistas, sendo que, no programa, médicos e estudantes de medicina de diferentes áreas de atuação têm a oportunidade de verificar as principais informações de maneira rápida e objetiva”, conta a reumatologista Cinira Soledade, uma das fundadoras da MedBolus.
O médico oftalmologista Aron Guimarães, investidor da startup 99 Farma, cujo objetivo é fazer com que o usuário tenha acesso, de forma intuitiva e descomplicada, às melhores farmácias do Brasil, compartilha da mesma opinião que Cinira. Sendo ele também um dos conselheiros da MedBolus, a meta deles, inclusive, é oferecer um suporte maior às empresas, planos de saúde, faculdades e seguradoras, através de um projeto embrionário, sobre business-to-business, expressão identificada pela sigla B2B, que é a denominação do comércio estabelecido entre empresas.
“Antes de investir, toda pessoa pensa onde vai aplicar o dinheiro, que se não poupado, pode faltar quando precisarmos. Por isso, quem tem planos para o futuro, principalmente aqueles que dependem de dinheiro para serem alcançados, só tem duas alternativas: ou contar com a sorte ou investir no presente para utilizar no futuro. Infelizmente, na área médica os profissionais se veem como ativos e só agora essa visão a respeito de investimento começa a ganhar corpo”, diz ele, que, ao todo, faz investimentos em cinco startups, sendo quatro delas na área de healtech, abrangendo a Zenklub, que contém mais de 500 especialistas em desenvolvimento pessoal, psicológico e bem-estar emocional; e outra no segmento de tecnologia de detecção de vazamento em dutos de petróleo.
A confirmação do crescimento de startups médicas se dá também pela Mitfokus, cujo trabalho é guiar profissionais e empresas da área da saúde a encontrarem as melhores soluções para as questões tributárias, contábeis e financeiras, e que desde janeiro de 2021 foi procurada para abrir 17 novos registros no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). No que diz respeito a dicas de consultorias e investimentos, foram mais de 20 atendimentos.
A procura pelos serviços de uma consultoria especializada se dá porque, muitos médicos, querendo abrir o próprio negócio, se deparam com as dificuldades e incertezas naturais do início, além da ausência de informações sobre as questões tributárias, trabalhistas, contábeis, societárias e empresariais, assuntos que não são discutidos na faculdade.
Neste sentido, com 1.200 médicos na carteira de clientes, a Mitfokus viu a procura aumentar durante a pandemia.
“Os profissionais queriam receber indicações de como abrir o próprio negócio ou se tornar investidor-anjo, por exemplo, que é a pessoa física ou jurídica que faz investimentos com seu próprio capital em empresas nascentes com um alto potencial de crescimento, como as startups. Só ano passado foram dez que demandaram direcionamento e orientação de nossos especialistas, sendo que cerca de 6% entraram como investidores-anjo em startups, com ticket médio de investimentos de 50 mil reais”, comenta Tiago Lázaro, CEO da Mitfokus.
Sócio da WeDoc, um aplicativo de rede social para médicos e alunos de medicina, via aporte de recursos oriundos diretamente de seu patrimônio, o médico urologista Guilherme Munhoz é um investidor e garante: ter uma boa noção sobre gestão de negócios faz muita diferença para os resultados da carreira.
“Infelizmente, ainda existe quem pensa que, sendo um profissional da saúde, isso não importa tanto. Porém, é fundamental que médicos tenham boas convicções de gestão empresarial, principalmente se o intuito é investir ou abrir uma empresa, o que, de fato, não é uma tarefa fácil”, diz o profissional formado em 2007.
Sabendo que a organização, o foco e um bom planejamento são essenciais para manter as contas em dia, os negócios prosperando e os clientes satisfeitos, a expectativa da Mitfokus é que a procura por orientações tributárias e jurídicas aumente ainda mais. Um dos motivos é a publicação do Marco Legal das Startups, publicado por meio da Lei Complementar nº 182, em 1º de junho de 2021, que visa fortalecer o ambiente de negócios para as healthtechs, aumentando, assim, o número de empresas inovadoras, bem como a oferta de capital para investimentos.