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Papa já fez outras piadas sobre cachaça e Brasil e até cantou marchinha de Carnaval
28/05/2021 / 07:52
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ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – “Que bom poder estar aqui com vocês! Que bom! […] Queria bater em cada porta, dizer ‘bom dia’, pedir um copo de água fresca, beber um cafezinho —e não um copo de cachaça!”

Não é de hoje que o papa Francisco gosta de brincar com o goró mais querido dos brasileiros. A troça do argentino com os vizinhos já acontecia desde o seu primeiro ano de pontificado. A que abre este texto foi feita em seu discurso em Varginha, favela carioca aonde chegou de papamóvel, em 25 de julho de 2013.

Quase oito anos depois, a maior liderança católica continuou a gracejar com a paixão nacional pela pinga. “Vocês não têm salvação. Muita cachaça e nada de oração.” Sorriso no rosto, foi o que disse a um padre da Diocese de Campina Grande, na Paraíba, após a audiência geral no Vaticano desta quarta-feira (26).

O papa é inclusive conhecedor de uma das mais tradicionais marchinhas de Carnaval do país, justamente a protagonizada pela aguardente. Quem lembra é Rubens da Cruz Carneiro Neto, 33, seminarista da Diocese de Registro (SP). “Eu estava na praça de São Pedro para participar da audiência geral. Ele veio ao meu encontro, e eu disse ‘papa, uma benção para um brasileiro’. Ele respondeu ‘ah, sim, um brasileiro!’ e cantarolou: ‘Você pensa que cachaça é água…'”

Era 2017, e os dois riram, conta Rubens. Em seguida, Francisco pegou a mão dele “e fez um ‘joinha’ com a outra”. Pediu então que o pontífice rezasse por sua vocação e ganhou uma benção.

A reportagem ouviu outros dois relatos semelhantes: o papa identifica o interlocutor como vizinho de seu país natal e canta o bordão carnavalesco. Num dos casos, também recorreu à histórica rivalidade entre Argentina e Brasil e perguntou quem era melhor no futebol, se Pelé ou Maradona.

A bebida alcoólica predileta do papa é bem mais suave do que a caninha brasileira. Na biografia “A Vida de Francisco”, Evangelina Himitian conta que, quando era bispo, Jorge Mario Bergoglio harmonizava as refeições na cúria portenha com meia taça de vinho. Quando esteve no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, a Salton anunciou a doação de 992 garrafas de vinho para servir a comitiva papal.

Em 2016, o pontífice saudou casais com meio século de matrimônio nas costas e disse que o feito merecia um brinde à altura. “Não se pode encerrar uma festa de casamento bebendo chá. Seria uma vergonha. O vinho é necessário para uma festa”, disse diante de milhares de fiéis na praça do Vaticano.

Nada no catolicismo impede o consumo de bebida alcoólica, desde que moderado. O salmo 104:15, por exemplo, cita “o vinho que alegra”. A mais célebre passagem bíblica sobre o tema, narrada no Evangelho de João, conta como Jesus transformou água em vinho após Maria, sua mãe, o alertar que a bebida havia acabado num casamento em Caná da Galileia. A façanha é tida como o primeiro milagre de Cristo.

Em 2019, o papa recomendou outro tipo de álcool a um jornalista-padre espanhol que, durante um voo da Itália à Tailândia, falou sobre um ataque no nervo ciático que por pouco não o fez perder aquela viagem.

“O pontífice argentino sofre há muito tempo da mesma condição, que produz uma dor que se irradia ao longo do nervo ciático e desce por uma ou por ambas as pernas pela parte inferior das costas”, narrou a repórter Inés San Martín em reportagem para o Crux, portal de notícias sobre a Igreja Católica. “Francisco ofereceu um remédio de poucas palavras para o padre: ‘Um copo de conhaque’.”

Na segunda-feira (24), dois dias antes de brincar que brasileiros estavam mais interessados em birita do que em oração, foi outra bebida que chamou a atenção de Francisco. Ele passou pela Redação da Rádio Vaticano e lá encontrou um funcionário gaúcho com uma cuia de chimarrão na mão. Pediu para beber o mate, mas estranhou que a erva não era argentina. Melhor ficar com o vinho.​