O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello tem se preocupado com a possibilidade de ser preso diante do avanço das investigações da CPI da Pandemia e após o Ministério Público Federal (MPF) ingressar, no início de julho, com uma ação de improbidade administrativa contra o ex-ministro por uma gestão “gravemente ineficiente e dolosamente desleal (imoral e antiética)”.
Nesta sexta-feira (16), uma reportagem da Folha de S. Paulo revelou que, durante uma reunião fora da agenda oficial, em 11 de março, no Ministério da Saúde, Pazuello prometeu a um grupo de intermediadores comprar 30 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac que foram formalmente oferecidas ao governo federal por quase o triplo do preço negociado pelo Instituto Butantan.
A negociação, que foi registrada em um vídeo divulgado pela Folha, mostra o general da ativa do Exército ao lado de quatro pessoas que representariam a World Brands, uma empresa de Santa Catarina que lida com comércio exterior. As gravações já estão sob posse do comando da CPI.
A proposta da World Brands oferece os 30 milhões de doses da vacina do laboratório chinês Sinovac pelo preço de US$ 28 a dose, com depósito de metade do valor total da compra até dois dias após a assinatura do contrato.
Naquele dia, 11 de março, o governo brasileiro já havia anunciado, dois meses antes, a aquisição de 100 milhões de doses da Coronavac via Instituto Butatan, pelo preço de US$ 10 a dose.
A demissão de Pazuello seria tornada pública por Bolsonaro quatro dias depois, em 15 de março.
Além da discrepância no preço, o encontro fora da agenda contradiz o que Pazuello afirmou em depoimento à CPI, em 19 de maio. Aos senadores o general disse que não liderou as negociações com a Pfizer sob o argumento de que um ministro jamais deve receber ou negociar com uma empresa.
No vídeo, um empresário que Pazuello identifica como “John” agradece a oportunidade do ministro recebê-lo e diz que podem ser feitas outras parcerias “com tanta porta aberta que o ministro nos propôs”.
Após a gravação, de acordo com apurações da Folha de S.Paulo, parte da equipe do ministro pediu que os empresários não compartilhassem o vídeo, que foi feito pelo celular do empresário identificado como “John”.
Um dos assessores de Pazuello teria alertado o general após a reunião de que a proposta era incomum, acima do preço, e a empresa poderia não ser representante oficial da fabricante da vacina.
Caso o negócio fosse adiante, as doses seriam as mais caras contratadas pelo ministério, posto hoje ocupado pela indiana Covaxin (US$ 15), que tem o contrato suspenso por suspeitas de irregularidades.
Apesar de Pazuello ter dito no vídeo que havia assinado um memorando de entendimento para a compra, a negociação não prosperou.
Em nota, a Sinovac disse que “APENAS” o Instituto Butantan pode oferecer a Coronavac no Brasil.
Segundo registros da Receita Federal, a World Brands tem capital social de R$ 5 milhões e atua com comércio de diversos produtos, como materiais para uso médico, além de atividades de agenciamento marítimo e de despachantes aduaneiros.
O empresário identificado como “John” afirmou à Folha de S.Paulo que havia uma cota da Coronavac que poderia ser ofertada ao Brasil.
NOTA
Na noite dexta sexta-feira (16), em nota à Folha de S. Paulo, negou que tenha negociado compra de Coronavac no ministério com intermediários e que foi apenas ‘cumprimentar representantes’ de empresa e, por sugestão da assessoria, gravou o vídeo.
“Enquanto estive como ministro da Saúde, em momento algum negociei aquisição de vacinas com empresários, fato que já foi reiteradamente informado na CPI da Pandemia e em outras instâncias judicantes”, escreveu o general da ativa.
Segundo Pazuello, a reunião com representantes da empresa “World Brands Distribuidora S/A (representante comercial da empresa chinesa Sinovac Biotech Ltd. no Brasil) ocorreu após um pedido formal endereçado ao Ministério da Saúde”.
De acordo com o ex-ministro, ele determinou que a Secretaria-Executiva, então sob comando do coronel da reserva Elcio Franco, fizesse “pré-sondagem acerca da proposta a ser ofertada pela World Brands Distribuidora S.A. (Sinovac Biotech Ltd.)”.
“Ante a importância da temática, uma equipe do Ministério da Saúde os atendeu e este então ministro de Estado —que detém o papel institucional de representar o Ministério da Saúde— foi até a sala unicamente para cumprimentar os representantes da empresa, após o término da reunião”.
Pazuello afirmou que a assessoria de comunicação da pasta foi quem sugeriu a realização da gravação, para tornar público o encontro, em respeito aos princípios previstos no artigo 37 da Constituição, que trata das regras gerais para atuação na administração pública.
“Após a gravação, os empresários se despediram e, ato contínuo, fui informado de que a proposta era completamente inidônea e não fidedigna. Imediatamente, determinei que não fosse elaborado o citado memorando de entendimentos —MoU—, assim como que não fosse divulgado o vídeo realizado”, escreveu o ex-ministro.
Da Redação com Folha de São Paulo