Na rede, usuários falam de demissões online, dão conselhos para melhorar o salário e encorajam as pessoas a examinar se estão realizadas com sua atividade. A nova tendência é gravar seu pedido de demissão e transmiti-lo ao vivo no aplicativo, mas calma, especialistas alertam que “confundir o plano da fantasia com o imaginário pode levar a um falso empoderamento que, na vida real os impactos podem ser ainda maiores”
O portal F5 Online conversou com a especialista em Gestão de Pessoas e Mestra em Gestão de Aprendizagens, Dayane Lira, ela esclarece que os riscos de expor pessoas e empresas nesses vídeos podem acarretar desde em ações judiciais gravíssimas, como o mais importante, segundo Dayane, os famosos halteres.
“No âmbito pessoal, o julgamentos da vida alheia é algo que vivemos muito hoje e que todos estão suscetíveis a isso, mas dependendo do estágio emocional que a pessoa esteja na vida, existe um risco muito grande atrelado a isso. E o mais importante, como vai se dar a vida profissional dessa pessoa no futuro? Isso precisa ser elaborado, pensado, antes de qualquer coisa, porque é pouco provável que essa pessoa consiga reingressar no mercado de trabalho tendo em vista que ela tem esse histórico negativo de falar mal do chefe ou da empresa que trabalhou”, analisou Dayane.
Nos últimos tempos, a rede social TikTok vem promovendo mudanças no mundo do mercado de trabalho no Ocidente, com essas ‘famosas’ demissões online, conselhos para melhorar o salário ou dicas para avaliar a realização profissional.
Esse movimento foi iniciado pela americana Shana Blackwell em outubro de 2020. Na época, a jovem de 19 anos anunciou que estava se demitindo da filial do Walmart em que trabalhava, usando o microfone do supermercado, em um vídeo que se tornou viral.
“Danem-se os gerentes, dane-se a empresa! Eu me demito, caramba!”, exclamou, após dois anos insuportáveis, nos quais disse ter sofrido assédio moral.
Sem querer, ela acabou lançando uma das maiores tendências da plataforma. Os vídeos com a hashtag #QuitMyJob (“me demito”, em inglês) acumulam hoje mais de 200 milhões de visualizações.
Essa onda tem a ver com “um forte efeito de imitação”, disse Dayane.
“O que se percebe é que, devido a esse excesso de conhecimento que os jovens têm hoje em dia por conta das redes sociais e em detrimento de tudo que vivemos neste mundo dentro da quarta revolução industrial- como é mencionado no livro de Conrado Schlochauer, Lifelong Learners ‘O poder do aprendizado contínuo’-, estamos vivendo duas grandes revoluções: a tecnológica e do conhecimento. E esse excesso de informação proporcionado por essas mudanças nesses dois pilares, pode ser bom e pode ser ruim. A gente pode levar esse pensamento para qualquer outro segmento da vida”, disse.
Além dos vídeos de demissão, o tema do trabalho vem ganhando espaço no TikTok, tornando-se, inclusive, um dos mais populares, superando 50 bilhões de visualizações.
A plataforma, no entanto, não foi pensada para falar de trabalho. No início, a rede era conhecida por seus vídeos com trechos de versões de músicas e cenas de humor.
Dayane completa que as redes sociais podem ser uma faca de dois gumes e explica: “ao mesmo tempo que o ‘gerador de conteúdo’ produz um material de qualidade, voltado e pautado para aquilo que acredita ser correto e que estaria gerando um conteúdo agregador para aquelas pessoas que estão lhe assistindo, o famoso ‘recrutador’ pode enxergar isso como ponto positivo, por outro lado, se tem aquela pessoa que critica empresas e sistemas governamentais e que tem no seu histórico pregresso, vídeos que viralizaram falando mal de empresas e expondo nas redes sociais, isso é algo maléfico para carreira de qualquer candidato a uma vaga de emprego”, e completa dizendo que “se você está pensando em pedir demissão, antes de pegar o telefone e ligar para o seu chefe, espere um momento, pense um pouco, tente agir mais com a razão do que com a emoção e pense: ‘quais serão os impactos que terei gravando um vídeo com meu pedido de demissão para postar numa rede social?’. As redes sociais oferecem possibilidades: os usuários são livres para se apropriar delas e adaptar seu uso conforme lhes convém, é uma terra ainda sem lei rígidas’, completou Dayane