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Pernambucana inicia graduação em jornalismo aos 90 anos após cinco formações 
23/03/2024 / 11:42 / Redação
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Dorothi Lira da Silva está matriculada em sua sexta formação – Foto: Unicap/Divulgação

Manter a mente ativa e sem perder o prazer pelo aprendizado. O que pode ser um desafio para muitos jovens é a realidade da pernambucana Dorothi Lira da Silva, que chega aos 90 anos matriculada na sexta formação.

Aluna do curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), a idosa tem encontrado na graduação um incentivo para se manter ativa.

Nascida em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, Dorothi aprendeu a ler em casa, aos sete anos, com a ajuda da mãe. Após concluir a formação básica, a jovem precisou interromper a jornada escolar devido ao medo do pai de uma doença que, até então, não tinha tratamento: a tuberculose.

Impedida de cursar o ensino médio, na época chamado de ginásio, Dorothi precisou começar a trabalhar quando ainda tinha apenas 13 anos. Somente após quase duas décadas, já casada e com três filhos, a pernambucana conseguiu retomar os estudos.

“Eu falei para o meu marido que ia estudar e ele dizia que não tinha necessidade, mas fui mesmo assim”, afirmou.

Com insistência e desejo pelo aprendizado, Dorothi concluiu a primeira formação, em pedagogia, curso que era exigido para que ela pudesse atuar como professora. E foi justamente o bom desempenho na profissão que levou Dorothi a outras três formações: ensino religioso, ciências físicas e biológicas e matemática.

Na lembrança, a idosa destaca o início da relação com o ensino religioso e o aprendizado, que teve duração de três anos.

“Um dia a Secretaria de Educação definiu que era preciso ter uma pessoa responsável pelo ensino religioso. Foi aí que a minha superior me chamou e disse: ‘Ninguém quer, a única pessoa da igreja é você’. Quando falei que não tinha formação, ela me respondeu com: ‘Vai atrás’. E eu fui”.

Apesar de já ter acumulado formações diversas, Dorothi manteve dentro de si o sonho de cursar jornalismo. Depois de aposentada, já com seis filhos, dez netos e quatro bisnetos, a idosa retomou a jornada nos estudos.

Moradora de Olinda, ela viu na Focca (Faculdade de Olinda) a oportunidade de buscar mais uma graduação. Porém, a falta do curso tão desejado na instituição de ensino perto da sua casa não foi um impedimento para esse retorno. Durante a matrícula, Dorothi optou pelo curso de direito, graduação concluída no ano passado.

No entanto, a conquista do diploma não apagou o desejo de cursar jornalismo. “Enquanto ainda estava na faculdade, eu ouvia os professores falando o tempo todo: ‘Escreva, escreva, escreva’. Mas eu ainda não me achava pronta para isso. Foi aí que decidi que ia, sim, fazer jornalismo”.

Aluna está matriculada no primeiro período do curso superior da Unicap – Foto: Unicap/Divulgação

Matriculada no primeiro período do curso da Unicap, Dorothi convive diariamente com alunos e professores bem mais novos. A diversidade na sala de aula encanta a idosa, que conta com satisfação sobre a relação que mantém com os colegas de classe.

“A turma tem 18 alunos, o mais novo tem 17 anos. Eles me ajudam o tempo todo, vivem querendo me ajudar a carregar a bolsa, a subir no elevador, me ajudam em tudo. Os professores também são muito atenciosos comigo, todos mais novos”, contou animada.

Para ela, se manter ativa é uma forma de ocupação. Com orgulho, dona Dorothi relata a rotina na universidade que inclui a apresentação de trabalhos e a realização de atividades que exigem dedicação.

“Eu gosto do campo acadêmico, faço para não ficar parada. Estudar é uma motivação para mim. Além do curso de jornalismo, também tenho outras ocupações. Faço um curso de computação para me ajudar a estudar. Eu já tinha feito um, mas não foi suficiente, então agora estou fazendo outro”, afirmou.

Além do ensino formal, ela também é auxiliada pela família, que apoia e vibra com as conquistas da idosa. “Meu neto me ajuda quando preciso fazer alguma atividade no computador, ele imprime o que preciso e me auxilia. Também me ajuda a ir e voltar da faculdade porque não me sinto pronta para dirigir, mesmo tendo habilitação”, declarou.

Para as próximas gerações, Dorothi revela o desejo de que o ensino se torne cada vez mais acessível e de maior qualidade.

“Eu quero que as crianças possam estudar e aprender o que precisam, que esse ensino seja de qualidade e atenda a todos”, concluiu.

Folha de Pernambuco