A Delegacia Especializada Contra Crimes Homofóbicos da Polícia Civil de João Pessoa está investigando um grupo que tem agido no Centro da cidade, agredindo mulheres transexuais. Segundo o delegado Marcelo Falcone, investigações estão acontecendo e mais detalhes não podem ser divulgados.
Em depoimento ao g1, uma das vítimas, que preferiu não ser identificada, relatou que as agressões por este grupo começaram em outubro e são sempre feitas por homens dentro de um carro branco nas imediações da Rua José Peregrino Montenegro, no Centro da cidade. As vítimas atuam como profissionais do sexo.
De acordo com a vítima, tentativas de atropelamento já aconteceram diversas vezes. Além disso, o grupo joga pedras, comete assaltos, espancamentos e profere xingamentos contra as mulheres transexuais.
“A gente decidiu formalizar a denúncia agora porque foram duas espancadas e todos os dias agora eles estão vindo para rua. Eles chegam e já dizem assim: ‘vai morrer tudinho”, relatou a vítima.
Ainda de acordo com uma das vítimas, ela só não chegou a ser espancada porque correu dos agressores. Mas essa não é a realidade para outras mulheres. Nesta quinta-feira (9), cinco mulheres transexuais foram até a delegacia, prestar queixa contra o grupo.
“Antes era uma vez perdida e agora, essa semana, ninguém está trabalhando no Centro, porque essa semana eles estão vindo todos os dias. Na segunda-feira, jogaram um paralelepípedo que pegou no pé de uma. Na terça-feira, botaram o carro por cima de uma e ela se jogou, saiu toda arranhada. Eles já chegam espancando, jogando pedra”, relata.
Mulher transexual registra BO depois de ter sido agredida com um paralelepípedo, em João Pessoa – Foto: Boletim de Ocorrência/Arquivo Pessoal
Um dos Boletins de Ocorrência (BO) registrados relata uma lesão corporal que aconteceu na noite desta segunda-feira (6). Segundo o documento, três homens em um carro branco abordaram a vítima inicialmente, fingindo interesse em contratar o serviço sexual.
Logo depois de perguntar os valores, o grupo jogou um paralelepípedo na vítima e logo depois, saíram em alta velocidade.
Uma mulher transexual foi assassinada na noite desta quarta-feira (8), na Avenida Edson Ramalho, em João Pessoa. De acordo com a perícia, ela foi alvo de vários golpes de faca no pescoço, peito e ombro. A mulher identificada como Yasmin Fontes tinha 23 anos. Ela era de Campina Grande e estava em João Pessoa a trabalho.
Conforme informações do delegado Diego Garcia, em entrevista ao JPB1, a bolsa da vítima foi encontrada em outro local, por isso a possibilidade de latrocínio é uma das analisadas.
Ao g1, a vítima que preferiu não ser identificada, afirma que Yasmin era uma conhecida da comunidade e que ela trabalhava no Centro e também na região da praia. Porém, acredita que a morte dela não tenha relação com as violências que estão acontecendo no Centro da cidade.
Em imagens de câmara de segurança é possível ver que a vítima já está ferida, com golpes de faca, ainda com vida, caída na calçada. Duas colegas, que também trabalham no local, aparecem nas imagens e recebem ajuda de um motoboy.
O local onde as agressões começaram, entre as avenidas Edson Ramalho e Jacinto Dantas, em Manaíra, foi isolado para o trabalho da perícia.
A polícia conseguiu imagem de circuito de segurança de outro ponto e que flagram um dos suspeitos, fugindo a pé.
Ao JPB1, a presidente da Associação de Travestis ou Transsexuais da Paraíba (Astrapa), Andreina Villarim, lamentou a crescente violência contra pessoas transexuais no Brasil.
“Isso tem sido uma crescente no brasil e na sociedade. Tem se naturalizado muito essa violência contra travestis e transexuais”.
Ela afirma que uma das reivindicações da associação é formação para a segurança pública, no que diz respeito ao atendimento das vítimas desse tipo de violência. “Nós temos procurado os espaços de segurança pública, inclusive é até uma reivindicação nossa uma formação, porque muitas travestis não têm nomes readequados, nem gênero readequado, mas elas estão dentro da questão da violência contra a mulher, então a denúncia é importante para a gente não virar estatística”, relatou.
Denúncias podem ser feitas no Disque 100, Disque 123 e Disque 197 da Polícia Civil. O Espaço LGBT também pode acompanhar o caso através dos números (83) 9 9119-0157 para João Pessoa e (83) 9 9163-3465 para Campina Grande.