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Premiados em Toronto, disponíveis no streaming: cinco filmes para assistir agora
05/09/2025 / 10:56 / Matheus Melo
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Lester Burnham e o espelho da sociedade: em ‘Beleza Americana’, sua obsessão adolescente evoca ‘Lolita’ e expõe o vazio da classe média suburbana

O Festival Internacional de Cinema de Toronto, ou simplesmente TIFF, completa meio século em 2025 e consolidou um papel raro no circuito de festivais: é, ao mesmo tempo, uma vitrine para a crítica e um palco para o público comum. Ao contrário de Cannes e Veneza, onde o tapete vermelho e os jargões da indústria dominam o debate, Toronto faz questão de se abrir para plateias inteiras de curiosos, cinéfilos e espectadores ocasionais. É justamente essa recepção popular que moldou, ao longo das décadas, o festival como um termômetro confiável do Oscar.

De lá saíram longas que redefiniram carreiras, lançaram diretores ao estrelato e provaram que cinema de autor também pode emocionar multidões. De Carruagens de Fogo a Nomadland, o TIFF construiu uma ponte entre o cinema independente e o mainstream, sempre pela via do aplauso caloroso das plateias canadenses.

Inspirado na newsletter Maratonar, da Beatriz Izumino (Folha), abordo cinco vencedores do Prêmio do Público de Toronto que estão disponíveis no streaming e que, cada um à sua maneira, refletem essa capacidade rara de unir experimentação e apelo universal.

1. Carruagens de Fogo (1981)

Disponível no Disney+

Clássico incontornável, que sintetiza o espírito olímpico sem jamais cair no clichê motivacional barato. A história dos corredores Harold Abrahams e Eric Liddell vai muito além da pista: fala de fé, preconceito e superação em uma Inglaterra que ainda se reinventava entre guerras. A trilha de Vangelis virou ícone, mas é o rigor humano de Hugh Hudson na direção que mantém o filme vivo.

O filme que projetou Almodóvar: Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos transformou paixão e caos feminino em obra-prima mundial

2. Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988)

Disponível em Belas Artes à La Carte, Filmelier+, Mercado Play e Pluto TV

O filme que tirou Pedro Almodóvar do gueto do cinema espanhol e o transformou em um dos autores mais reconhecidos do planeta. A tragicomédia de Pepa (Carmen Maura) é um furacão de cores, diálogos afiados e descontrole emocional coreografado. Em Toronto, o público percebeu antes da Academia que havia algo universal naquela explosão de melodrama mediterrâneo.

Beleza Americana: o olhar cru e poético sobre a classe média americana que conquistou Toronto e o Oscar – Foto: divulgação

3. Beleza Americana (1999)

Disponível no Mercado Play e para aluguel em Amazon, iTunes e YouTube

Um retrato da classe média americana que, visto hoje, é também um documento de seu tempo. A crise existencial de Lester Burnham (Kevin Spacey) e a desconstrução do “american way of life” renderam cinco Oscars, mas permanecem incômodos pela crueza com que expõem frustrações e hipocrisias. Toronto captou a potência do filme antes do resto do mundo — e não se enganou.

Apesar de alguns aspectos do filme terem envelhecido mal, principalmente a reputação de Kevin Spacey, confesso que segue sendo um dos meus filmes favoritos.

Quem Quer Ser um Milionário?, longa-metragem do cineasta britânico Danny Boyle (de Trainspotting), vencedor de oito Oscar, entre eles melhor filme e direção – Imagem: Divulgação

4. Quem Quer Ser um Milionário? (2008)

Disponível no Amazon Prime Video e Runtime

Um filme que quase não existiu. Perdido em disputas de distribuição, o longa de Danny Boyle foi salvo pela recepção arrebatadora no TIFF. O romance improvável entre Jamal e Latika, costurado pela estrutura do programa de TV, conquistou plateias com sua energia pop e seu olhar para uma Índia em ebulição. Resultado: oito Oscars e a consagração de Dev Patel.

Nomadland: um olhar sensível sobre liberdade, precariedade e conexão humana – Foto: Reprodução

5. Nomadland (2020)

Disponível no Disney+

Chloé Zhao transformou um filme pequeno, quase documental, em um épico silencioso sobre a precarização do trabalho e a busca por dignidade. Frances McDormand oferece uma atuação que é menos performance e mais entrega absoluta ao cotidiano dos nômades modernos. Toronto e Veneza o consagraram simultaneamente, e o Oscar apenas confirmou: era o filme certo para o tempo da pandemia.

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Um festival que traduz o mundo

Esses títulos mostram o que faz do TIFF um evento único: sua capacidade de revelar histórias que falam ao mesmo tempo com a crítica, com a indústria e, sobretudo, com o público. Não é exagero dizer que cada um desses filmes, à sua maneira, traduziu ansiedades, sonhos e contradições do seu tempo.

E assisti-los agora, no streaming, é também revisitar como o cinema — seja por meio de uma comédia almodovariana, de um retrato da classe média americana em crise ou do olhar poético sobre a vida nômade — foi capaz de nos mostrar quem éramos, quem somos e quem ainda podemos ser.