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Preparação para a comunicação muito além do media training (parte 1)
14/08/2023 / 20:09
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Na sociedade da economia da atenção e da visibilidade, não basta fazer media training para saber como funciona a imprensa, treinar lideres para dar entrevistas, independente do veículo e do meio de comunicação, e se relacionar bem com jornalistas.

É preciso capacitar os líderes para a comunicação de uma maneira muito mais ampla. Aqui não se está falando apenas de candidatos, mas, também, de diretores e CEOs de empresas, dirigentes organizacionais, religiosos, sindicais, etc. Conseguir se comunicar de maneira clara com seus públicos é uma necessidade imperiosa para quem exerce liderança.
Nos dias atuais de grande fragmentação das mídias e do aumento da exposição pública gerada pela onipresença das redes sociais e dos aplicativos de mensagens, especialmente o WhatsApp, é preciso estar preparado não apenas para situações do cotidiano como entrevistas, participação em programas de TV e rádio, podcasts, lives, etc. mas para saber enfrentar crises de imagem que ocorrem com muito mais frequência. Com os smartphones as figuras públicas estão na vitrine o tempo todo.
Para o coreano Byung-Chul Han, no livro de ensaios Infocracia, “o telefone móvel se transforma em um aparato de vigilância.” Segundo o filósofo, vivemos em um estado de visibilidade consciente e permanente, onde as pessoas deixam-se ver permanentemente, é o “ser-visto ininterrupto”. Por isso, podemos falar hoje da economia da visibilidade. A visibilidade se tornou um recurso altamente valorizado e cobiçado, capaz de moldar percepções, influenciar comportamentos e determinar o sucesso ou o fracasso de empresas e lideranças.
Hoje, pequenos deslizes podem virar memes e viralizar, com sérios efeitos na reputação.
Líderes precisam ter autonomia e autossuficiência na sua capacidade de comunicar e de dar resposta em situação de pressão. Saber reagir no tempo certo, sem pestanejar. Precisam estar preparados para o enfrentamento das crises. Aqui estamos falando de treinamentos onde a carga de tensão e pressão é intensa, com objetivo de reproduzir, ou simular, uma situação real de stress junto à opinião pública, onde a reputação esteja em risco.

Numa campanha eleitoral, os debates tendem a ser os momentos mais críticos, em que os candidatos ficam sozinhos, expostos e vulneráveis. Por isso, a preparação para estes eventos é intensa, nervosa e, a todo momento, é simulada uma situação em que o candidato é colocado na berlinda.
Treinamento como os que fazemos para debates precisam agora ser aplicados com mais frequência para preparar os líderes para as crises de imagens do dia a dia. É necessário treinar para gerar condicionamento no líder para que tenha capacidade de improvisar e saber reagir de maneira natural e assertiva nos momentos em que estiver sendo questionado e ameaçado.

Para que um lutador tenha uma boa performance em um combate real é necessário que, antes, seja treinado e condicionado para saber reagir na hora em que não há tempo para pensar. Saber trabalhar sob pressão exige treino, preparo psicológico e físico. Na comunicação é assim também.

Ao mesmo tempo, hoje em dia é importante ter forte presença digital e poder de influência na sua comunidade ou no seu segmento. As pessoas estão conectadas e interligadas em redes. A ideia é treinar as lideranças para assumir um papel de influenciadores, criadores e disseminadores de conteúdo. O líder precisa, ele mesmo, identificar oportunidades de comunicação e compreender que o timing na rede social é fundamental.
Enfim, os líderes precisam ser autoridades no espaço social onde atuam – experts em determinada área, nicho ou tema – compartilhando informações relevantes e úteis para a sua rede.

É claro que este trabalho não se limita ao ambiente digital, deve, também, acontecer no offline, em reuniões, palestras, cursos, artigos e presença na mídia.
Contudo, para a pessoa fortalecer a marca pessoal, com relevância e autoridade, é necessário que ela se humanize e se aproxime dos seus públicos.
Aqui abro um parêntese para contar uma situação que vivenciei quando fui secretário de comunicação no estado de Mato Grosso do Sul. Realizamos vários lançamentos de grandes programas do governo, nas áreas da saúde, das obras, de assistência social e divulgamos estes programas nas redes sociais. Em seguida, estes programas eram compartilhados e veiculados na página pessoal do governador. Sabe qual foi o evento que mais gerou visualizações, curtidas, comentários, enfim, engajamento? Não foi nenhum destes grandes lançamentos. Foi um singelo vídeo em que o governador estava sentado no tapete da sala da sua casa, brincando com os seus netos no dia dos pais.
Confesso que isso me surpreendeu e o aprendizado que este fato gerou sobre como funciona a rede social me marcou. Fica claro que não há mais uma linha clara a separar o público do privado. As pessoas querem ver a intimidade do líder. Querem se ver no líder, a partir da sua dimensão humana. Isso é a rede social.
Para fechar, um resumo. Precisamos preparar os líderes para serem capazes de enfrentar as crises de imagem cada vez mais frequentes e gerar neles a capacidade de serem influenciadores e autoridades nas suas redes sociais. Um desafio e tanto!
PS. No próximo artigo, tratarei de técnicas que os líderes podem utilizar para se comunicar bem, explorando sobretudo os aspectos não-verbais da comunicação. Até lá!

 

Rodrigo Mendes* é estrategista e consultor de marketing e comunicação desde 1996. Sociólogo, especialista em marketing e inteligência de mercado e mestre em ciência política.