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Presidente do conselho do BB renuncia ao cargo e ataca interferência de Bolsonaro
02/04/2021 / 09:29
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JULIO WIZIACK

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, Hélio Magalhães renunciou ao cargo de presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil nesta quinta-feira (1) por discordar da interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na instituição, com a indicação de um novo presidente e novos integrantes do colegiado, grupo que determina a direção que o banco vai tomar.

Além de Magalhães, outro conselheiro indicado por Guedes, José Guimarães Monforte, abriu mão do cargo. Ambos deixam os cargos oficialmente na sexta-feira (2), segundo comunicado do BB ao mercado.

Na carta de renúncia, Magalhães critica a interferência de Bolsonaro no banco ao indicar o administrador Fausto de Andrade Ribeiro, 52, como novo presidente. Segundo ele, Ribeiro não passou pelo crivo do Conselho de Administração. Tido como bolsonarista, ele hoje dirige o braço de consórcios do BB.

Ambos não foram indicados para uma recondução ao cargo. Magalhães escreve que, mesmo se isso ocorresse, não continuaria no posto.

“No caso do BB, me refiro às tentativas de desrespeito à governança corporativa, ainda que frustradas pela atuação diligente deste conselho e pela higidez dos mecanismos de governança da companhia,” escreveu ao justificar a saída. “Como exemplo, cito as interferências externas na execução do plano de eficiência da companhia aprovado por este conselho e obviamente necessário para adequá-la aos novos tempos e desafios do setor.

Ato contínuo, renovo meu protesto ao rito de escolha do novo presidente do banco, o qual simplesmente não considera o desejável crivo deste conselho, vez que baseado em legislação anacrônica e contrária às melhores práticas de governança em nível global.”
Segundo ele, o governo, controlador do banco, “vem tratando com reiterado descaso”a instituição e outras estatais de capital aberto.

A Folha não teve acesso à carta de renúncia de Monforte. No entanto, executivos do banco afirmam que o conselheiro deixa a instituição pelos mesmos motivos de Magalhães.
Pessoas que participaram das discussões no banco afirmam que a ideia do governo é retomar um política antiga do BB de indicar secretários da Economia ao conselho. Waldery Rodrigues, atual secretário especial de Fazenda, deverá presidir o conselho. Dessa forma, afirmam esses executivos, o governo terá mais controle sobre as decisões.

Bolsonaro decidiu trocar o presidente do BB, André Brandão, por um nome mais afinado com ele. Brandão é um executivo de mercado, atuou no HSBC e tinha simpatia de Guedes, que escolheu nomes independentes para comandar estatais e as instituições financeiras controladas pelo governo –BB, Caixa Econômica Federal e BNDES.

Brandão conquistou a antipatia de Bolsonaro em janeiro deste ano, depois de anunciar o fechamento de 112 agências do BB e um programa de desligamento de mais de 5 mil funcionários no momento de alta da taxa de desemprego no mercado.

Guedes resistiu e, junto com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tentaram indicar um nome de consenso: Eduardo Dacache, diretor da Caixa Seguridade.

Assessores do Planalto afirmam que Bolsonaro gostou do perfil do executivo, mas queria alguém mais próximo a ele.

A interferência no BB ocorre na sequência da ingerência do governo na Petrobras. Bolsonaro demitiu Roberto Castello Branco porque o executivo não concordava em usar o caixa da companhia para conter os repasses de preços aos combustíveis.