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Proibir uso de celulares nas escolas: solução ou medida paliativa?
30/09/2024 / 04:00
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(Foto: LBeddoe / Shutterstock)

Nos últimos anos, o uso de celulares em salas de aula tem sido alvo de intenso debate entre educadores, pais e especialistas em saúde mental e educação. Em 2024, o Ministério da Educação (MEC) sinalizou uma nova medida que pode levar à proibição do uso de celulares nas escolas públicas e privadas do país.

O objetivo é claro: reduzir a distração dos alunos e melhorar a qualidade do ensino. No entanto, a proposta levanta a questão: seria essa uma solução eficaz ou apenas uma medida paliativa diante de um problema mais profundo?

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O uso de celulares em escolas tem sido associado a diversos fatores negativos, como queda no rendimento escolar, aumento de casos de bullying virtual e diminuição do foco nas aulas. Segundo um levantamento do MEC, mais de 70% dos alunos utilizam os aparelhos durante as aulas, muitas vezes para atividades não relacionadas ao aprendizado.

Com esse cenário em mente, a medida do governo surge como uma tentativa de resgatar a atenção e a concentração dos alunos nas atividades escolares.

O que dizem os especialistas?

Entre os que defendem a proposta está o renomado neurocientista Fabiano de Abreu Agrela, que desde 2018 tem se destacado como uma das vozes mais ativas em alertar sobre os malefícios do uso excessivo de celulares, principalmente entre jovens em idade escolar. Em diversos artigos e entrevistas, Fabiano tem destacado o impacto negativo da hiperconectividade no desenvolvimento cognitivo e social das crianças.

O uso de dispositivos móveis na escola prejudica o aprendizado e contribui para aumentar casos de ansiedade, dificuldade de manter o foco e facilita o desenvolvimento de vícios, por isso, não basta apenas limitar a certos horários ou a certas idades, é preciso que seja uma proibição mais ampla. O QI das crianças está sendo reduzido porque não existe uma amplitude de conhecimento. O que o TikTok te ensina? Dancinhas. Mas cadê o desenvolvimento cognitivo? Não tem

Fabiano tem destacado o impacto negativo da hiperconectividade no desenvolvimento cognitivo e social das crianças (Foto: Divulgação)

A exposição precoce às redes sociais pode contribuir significativamente para o aumento de ansiedade e depressão entre crianças. Uma pesquisa publicada no Canadian Journal of Psychiatry com 3 mil adolescentes, de 13 a 16 anos, revelou que o uso excessivo de celulares e redes sociais está diretamente relacionado ao crescimento de problemas psicológicos.

Curiosamente, o estudo aponta que nem todas as telas apresentam o mesmo risco. O aumento nos casos de depressão e ansiedade está mais vinculado às redes sociais e à programação televisiva, enquanto o uso de videogames não demonstrou uma ligação direta com esses transtornos.

A medida é suficiente?

Apesar de reconhecer a importância de limitar o uso de celulares, Fabiano de Abreu Agrela levanta uma reflexão crítica sobre a nova medida do MEC. Ele acredita que a proibição, por si só, pode não ser suficiente para resolver os problemas subjacentes ao comportamento digital dos jovens.

“Apenas proibir não é o mais importante, é fundamental incluir outras medidas, como educar os pais a como lidar com o uso de tecnologia pelos filhos, pois de nada adianta proibir nas escolas e eles serem usados em todas as horas em que estão em casa, por exemplo”.

Segundo ele, apenas restringir o uso dos celulares não aborda a raiz do problema, que envolve a educação sobre o uso saudável da tecnologia e o papel da família e da escola no processo.

“Seria muito bom incluir disciplinas ou conteúdos nas grades curriculares que ensinassem os alunos a usarem de forma controlada a tecnologia, esses dispositivos estão presentes na maior parte do nosso dia a dia, mas nunca aprendemos sobre o uso responsável deles”, comentou.

Educação digital: o papel das escolas e da família

Uma das grandes críticas à proposta de proibição é que ela pode criar um “vácuo” em termos de como os alunos devem lidar com a tecnologia. Se, por um lado, os celulares podem ser fontes de distração, por outro, são também ferramentas poderosas de aprendizado, comunicação e acesso a informações.

O ideal seria que as escolas implementassem programas de educação digital, que ensinassem aos alunos a usarem os celulares de maneira produtiva, incentivando, por exemplo, o uso de aplicativos educacionais e a realização de pesquisas supervisionadas.

A família também tem um papel crucial nesse processo, com os pais estando atentos aos hábitos digitais dos filhos, incentivando a prática de atividades offline e o uso consciente da tecnologia.