O serviço penitenciário russo informou, na manhã desta sexta-feira (16), que o ativista Alexei Navalny, o principal opositor do presidente Vladimir Putin e crítico aberto do Kremlin, morreu aos 47 anos em uma colônia penal.
Navalny era há muito tempo uma pedra no sapato do presidente Vladimir Putin, expondo a corrupção em altos cargos do governo da Rússia, fazendo campanha contra o partido no poder e orquestrando alguns dos maiores protestos antigovernamentais vistos nos últimos anos.
É possível inclusive considerar que Navalny representou uma das ameaças mais sérias a Putin durante o seu governo, que já dura mais de duas décadas.
Ele organizou protestos de rua contra o governo e utilizou o seu blog e as redes sociais para expor acusações de corrupção no Kremlin e na economia russa.
Sua luta rendeu uma fama global quando foi envenenado com o agente nervoso Novichok, em 2020.
Isso aconteceu em agosto daquele ano, quando Navalny voltava a Moscou vindo da cidade siberiana de Tomsk.
O piloto fez um pouso de emergência em Omsk, onde Navalny foi levado ao hospital para um tratamento urgente antes de ser transferido para a Alemanha, ainda gravemente doente.
O governo alemão disse que Navalny foi envenenado com um agente químico nervoso chamado Novichok, conclusão que foi posteriormente apoiada por outros dois laboratórios na França e na Suécia.
Os agentes Novichok são altamente incomuns, tanto que poucos cientistas fora da Rússia têm alguma experiência real em lidar com eles.
Uma investigação subsequente da CNN descobriu que uma equipe de elite do serviço de segurança FSB da Rússia, composta por cerca de seis a 10 agentes, perseguiu Navalny durante mais de três anos.
Mais tarde, Navalny enganou um dos espiões, Konstantin Kudryavtsev, para que revelasse como foi envenenado.
Ele se passou por um alto funcionário do Conselho de Segurança Nacional da Rússia encarregado de realizar uma análise da operação de envenenamento e telefonou para Kudryavtsev, que forneceu um relato detalhado de como os agentes nervosos foram aplicados em uma cueca de Navalny.
A Rússia negou envolvimento no envenenamento de Nalvany em 2020. Putin disse naquela altura que se o serviço de segurança russo quisesse matar Navalny, “teriam terminado” o trabalho.
Ele retornou à Rússia em 2021 e foi rapidamente preso por acusações que rejeitou, dizendo que possuem motivação política. Ele estava na prisão desde então.
Os seus apoiadores continuamente alegaram que a sua detenção e encarceramento foram uma tentativa politicamente motivada de reprimir as suas críticas a Putin.
A morte de Navalany acontece pouco antes das eleições presidenciais da Rússia, marcadas para 17 de março, onde Putin concorrerá ao seu quinto mandato, em uma medida que poderá mantê-lo no poder até pelo menos 2030.
Navalny foi condenado a 19 anos de prisão em agosto passado, depois de ter sido considerado culpado de criar uma comunidade extremista, financiar ativistas extremistas e vários outros crimes.
Naquele momento, ele já cumpria uma pena de 11 anos e meio em uma instalação de segurança máxima por fraude e outras acusações que nega.
Quatro meses depois, os seus advogados afirmaram ter perdido contato com Navalny, que se acreditava estar preso em uma colónia penal a cerca de 240 quilômetros a leste de Moscou.
Ele não compareceu a várias audiências judiciais agendadas para dezembro.
Sua equipe jurídica disse, em 22 de dezembro, que ele estava desaparecido há 17 dias. “Navalny nunca esteve fora de vista por tanto tempo”, disse a equipe de Navalny em uma postagem no Telegram.
Depois de apresentar 680 pedidos para localizar Navalny, a sua equipe anunciou, em 25 de dezembro, que o tinha “encontrado” a mais de mil quilômetros de distância, na colônia penal IK-3 em Kharp, conhecida como “Lobo Polar”.
“As condições lá são duras, com um regime especial na zona de permafrost. É muito difícil chegar lá e não existem sistemas de entrega de cartas”, disse Ivan Zhdanov, diretor da fundação anticorrupção de Navalny.
Navalny passou as últimas semanas em uma prisão siberiana a norte do Círculo Polar Ártico, onde disse que dormia debaixo de um jornal para se aquecer e tinha de fazer as suas refeições em 10 minutos.
Ele contou a um tribunal de Moscou sobre as condições “congelantes” dentro de sua prisão, quando apareceu por meio de uma videoconferência em janeiro para descrever seu caso contra as autoridades na colônia penal onde estava detido desde dezembro.
Yarmysh, porta-voz de Navalny, disse que as condições na prisão siberiana eram “muito piores” do que perto de Moscou, onde ele tinha sido originalmente mantido.
“Fica no norte, então faz muito frio lá. Ainda hoje, a luz [solar] lá dura apenas duas horas por dia”, disse ela em janeiro. “Eles definitivamente tentaram isolar Alexei e tornar mais difícil avaliá-lo lá”, completou.
No Dia dos Namorados, um dia antes de sua morte, Navalny postou uma mensagem nas redes sociais para sua esposa, Yulia.
“Querida, com você tudo é como uma música: há cidades entre nós, luzes de decolagem de aeródromos, tempestades de neve azuis e milhares de quilômetros. Mas sinto que você está perto a cada segundo e te amo cada vez mais”, disse ele.
Informações da CNN