
As principais pesquisas globais sobre mídia digital indicam uma mudança profunda no comportamento informacional do brasileiro. Dados da Comscore 2024, do Digital News Report 2025 e do estudo Mapping News Creators and Influencers in Social and Video Networks, do Reuters Institute, mostram que as redes sociais já superaram os veículos tradicionais como principal fonte de notícias no país. Nesse novo cenário, influenciadores, celebridades e políticos ganham relevância como “criadores de notícias”.
Segundo a Comscore, o Brasil foi o país que mais consumiu notícias pelas redes sociais na América Latina em 2024, somando 6,4 bilhões de interações em conteúdos jornalísticos. Para o relações-públicas e pesquisador Alfredo Albuquerque, essa mudança exige que a comunicação institucional adote a lógica das plataformas: velocidade, atualizações constantes e respostas imediatas. Ele alerta que essa pressão pode ser incorporada ao jornalismo, aumentando a responsabilidade na apuração, checagem e na escolha de figuras que representam credibilidade.
O relatório do Reuters Institute reforça essa tendência ao mostrar que o brasileiro tem recorrido a influenciadores, celebridades e atores políticos para se informar. Entre os nomes mais relevantes estão Virgínia Fonseca, Carlinhos Maia, Lula, Jair Bolsonaro, além de jornalistas como William Bonner, César Tralli, Hugo Gloss e Leo Dias. Essa mistura cria um ecossistema híbrido, onde a fronteira entre opinião, entretenimento, ativismo e notícia fica cada vez mais difusa.
Alfredo Albuquerque faz um alerta: a ascensão de perfis sem critérios editoriais ameaça a credibilidade da informação. “As redes democratizaram a fala, mas não os critérios jornalísticos”, afirma. Para ele, quando influenciadores substituem a imprensa como fonte primária, opiniões passam a ser tomadas como verdades, favorecendo interesses individuais e fragilizando o direito coletivo à informação.
O especialista destaca ainda que essa mudança afeta diretamente o ambiente democrático. Informar-se apenas por perfis políticos reforça vieses partidários e aprofunda a polarização. “Quem consome notícias exclusivamente de líderes políticos vive em um ciclo contínuo de polarização e bloqueia espaços de diálogo, essenciais para a democracia”, conclui.