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Soldado da PM que arremessou jovem de ponte é preso
05/12/2024 / 13:20
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Policial Luan Felipe Alves Pereira – Imagem: Reprodução

A Justiça Militar decretou nesta quinta-feira (5) a prisão do policial Luan Felipe Alves Pereira, apontado como o responsável por jogar um homem de uma ponte na Zona Sul de São Paulo, no último domingo (1°).

O soldado da PM já estava detido na Corregedoria da Polícia Militar, onde prestou depoimento sobre a sua conduta. Segundo informações do inquérito militar, ele disse que pretendia jogar o homem no chão. As imagens gravadas por uma testemunha mostram o momento em que ele ergue e atira o homem da ponte.

Com a prisão decretada, Luan Felipe será encaminhado para o Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte de São Paulo. A reportagem tenta contato com a defesa dele.

Cenas chocantes

O caso aconteceu na Vila Clara, região de Cidade Ademar, no domingo à noite, durante a dispersão de um baile funk.

O soldado foi filmado atirando o rapaz da ponte sem nenhum motivo ou resistência aparente.

A vítima se chama Marcelo, tem 25 anos e é entregador. Ele caiu de cabeça de uma altura de três metros, teve ferimentos, mas passa bem. Marcelo recebeu ajuda de pessoas que moram na região.

O pai dele se disse indignado com o episódio e exigiu explicações das autoridades. Em entrevista ao Jornal Nacional, Antonio Donizete do Amaral disse que Marcelo não tem passagem pela polícia.

“É inadmissível, não existe isso aí. A polícia está aí para fazer a defesa da população, não fazer o que fez. Trabalhador, menino que sempre correu atrás do que é dele. Não tem envolvimento, passagem [pela polícia], não tem nada. Queria a explicação desse policial e o porquê ele fez isso”, afirmou.

Na quarta-feira (4), quando foi questionado sobre esse e outros casos recentes de violência policial e sobre a gestão de seu secretário de Segurança Pública, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) defendeu Guilherme Derrite: “Olha os números que você vai ver que está [fazendo um bom trabalho]”, disse o governador. Diante da insistência dos jornalistas, repetiu: “Olha as estatísticas”. Tarcísio não explicou, porém, quais seriam esses dados.

A Corregedoria da PM determinou o afastamento de treze policiais que participaram da operação na Vila Clara. O Ministério Público abriu uma investigação.

Histórico do PM

O soldado da Polícia Militar que arremessou o entregador já foi indiciado por homicídio por matar um homem com 12 tiros em Diadema, na Grande São Paulo, no ano passado.

Segundo a TV Globo apurou, o caso foi arquivado em janeiro porque o Ministério Público entendeu que houve legítima defesa. O juiz, então, aceitou o pedido.

Luan trabalha na Rondas Ostensivas com Apoio de Moto (Rocam), no 24º Batalhão de Polícia de Diadema.

Pedido de prisão

O pedido de prisão de Luan tem seis páginas e foi assinado pelo capitão Manoel Flavio de Carvalho Barros, encarregado do inquérito. No documento, o oficial narra o início da ocorrência, com a perseguição a motociclistas. Em seguida, destaca cinco fotos feitas a partir de câmeras de segurança, que mostram a parte final da ação, quando o homem é jogado da ponte.

O encarregado do inquérito diz que, ao ser questionado sobre a cena, o soldado se reconhece e diz que “a projeção seria realizada ao solo”, ou seja, que o objetivo era jogar o homem no chão.

No parágrafo seguinte, o responsável pelo inquérito se dirige diretamente ao juiz: “Excelência, não há como acolher as declarações apresentadas pelo investigado, pois as imagens largamente difundidas e materializadas no presente feito demonstram conduta errante e inaceitável a quem deveria proteger a integridade de outrem e fazer cumprir a lei”.

Os crimes inicialmente imputados ao soldado são lesão corporal e violência arbitrária, todos previstos no Código Penal Militar.

O encarregado do inquérito termina dizendo que a prisão é a única forma de retomar a hierarquia e a disciplina e manter a ordem pública e social.

Flagrante

Um vídeo enviado à TV Globo flagrou o momento da abordagem. Nas imagens, que aparecem no começo desta reportagem, é possível ver que um policial levanta uma moto que está no chão. Um segundo e um terceiro policial se aproximam. Depois, o primeiro PM encosta a moto perto da ponte.

Um quarto policial chega segurando o homem pela camiseta azul, que seria o motociclista abordado. Ele se aproxima da beirada da ponte e o arremessa no córrego. Nenhum dos colegas faz nada.

Uma testemunha, que preferiu não se identificar, relatou ao Jornal Nacional que os policiais estavam no bairro para dispersar moradores de um baile funk.

“Tinham dois policiais da Rocam parados ali, com cacetete na mão, esperando para abordar. Aí esse menino veio da avenida, virou e aí foi a hora que ele viu os polícias e caiu no chão com a moto. Na hora em que ele caiu no chão com a moto, policiais vieram em cima dele. Eu e minha amiga saímos correndo”, afirmou.

13 PMs afastados

De acordo com a Polícia Militar, os agentes são do 24º BPM de Diadema, na Grande São Paulo. Os 13 policiais afastados das ruas estão envolvidos direta ou indiretamente no episódio, segundo a Corregedoria.

Todos os PMs usavam câmeras corporais e gravaram a abordagem. Essas imagens serão usadas pelos investigadores para entender os detalhes da ocorrência.

O que dizem as autoridades

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse, em uma rede social, que o policial militar que “atira pelas costas” ou “chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte” não está à altura de usar farda. Disse ainda que o caso será investigado e “rigorosamente” punido.

O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), também criticou a ação do policial militar.

“Anos de legado da PM não podem ser manchados por condutas antiprofissionais. Policial não atira pelas costas em um furto sem ameaça à vida e não arremessa ninguém pelo muro. Pelos bons policiais que não devem carregar fardo de irresponsabilidade de alguns, haverá severa punição”, escreveu em uma rede social.

Ao falar de policial que “atira pelas costas”, Derrite se referia a um segundo ato de violência policial na capital paulista nos últimos dias. Um PM que não estava fardado executou um jovem negro em frente a um mercado, atirando pelas costas da vítima.

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa – principal representante do Ministério Público paulista, também emitiu uma nota pública de repúdio à cena, e disse que as imagens são “estarrecedoras e absolutamente inadmissíveis”.

Ele afirmou que já designou que o Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (Gaesp) integre as investigações a fim de “punir exemplarmente” os policiais envolvidos na abordagem.

Com informações do g1