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TELEGRAM: Como fotos nuas de mulheres são compartilhadas sem consentimento
17/02/2022 / 19:14
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Uma investigação da BBC descobriu que fotos íntimas de mulheres e meninas estão sendo compartilhadas em grupos com dezenas de milhares de usuários no aplicativo de mídia social Telegram com o objetivo de assédio, intimidação e chantagem.

Na fração de segundo que Sara descobriu que uma foto dela nua havia vazado e sido compartilhada no Telegram, sua vida mudou. Seus perfis do Instagram e do Facebook foram divulgados junto com a foto, assim como seu número de telefone. De repente, ela começou a ser contatada por homens desconhecidos pedindo mais fotos.

“Eles me faziam sentir como se eu fosse uma prostituta porque [acreditaram] que eu compartilhei fotos íntimas minhas. Isso significava que eu não tinha valor nenhum como mulher”, diz ela.

Sara (não é seu nome verdadeiro) compartilhou a foto com uma pessoa, mas a imagem acabou em um grupo do Telegram com 18 mil seguidores, muitos deles moradores de seu bairro em Havana, Cuba. Ela agora teme que estranhos na rua possam tê-la visto nua.

“Eu não queria sair, não queria ter nenhum contato com meus amigos. A verdade é que sofri muito.”

Ela não está sozinha. Após meses investigando o Telegram, a BBC encontrou grandes grupos e canais compartilhando milhares de imagens secretamente filmadas, roubadas ou vazadas de mulheres em pelo menos 20 países. E há poucas evidências de que a plataforma esteja lidando com o problema.

O Telegram se recusou a dar entrevista para a BBC, mas emitiu um comunicado no qual afirma que monitora proativamente espaços públicos e dá seguimento a denúncias de usuários sobre conteúdo que viola seus termos de serviço.

O Telegram não confirmou se a publicação de imagens íntimas de pessoas sem consentimento é permitida na plataforma ou se elas são removidas.

O lançamento de anúncios em alguns canais públicos do Telegram — junto mais investimentos — é um indicativo de como o fundador Pavel Durov pretende monetizar sua plataforma.

Isso provavelmente aumentará a pressão sobre o Telegram e seu fundador libertário para que a plataforma adote políticas mais semelhantes às de seus rivais de mídia social, como o WhatsApp, que começou a introduzir políticas contra o compartilhamento de fotos íntimas.

Resta saber por quanto tempo a empresa resistirá a uma maior moderação à medida que avança para novos mercados e começa a gerar receita.

Para as mulheres cujas reputações foram destruídas e vidas prejudicadas pelo compartilhamento de suas imagens íntimas no Telegram, a mudança pode vir tarde demais.

Investigação da Equipe de Desinformação do Serviço Mundial da BBC.