Em entrevista exclusiva ao jornalista Cândido Nóbrega, o presidente do Operador Nacional do Registro Eletrônico de Imóveis (ONR), Juan Pablo, criticou duramente iniciativas de empresas que estão promovendo a tokenização de imóveis à margem do sistema legal brasileiro.
“Isso é simplesmente tirar o imóvel do mundo jurídico, levar para o mundo digital e fazer com que ele tramite fora de qualquer tipo de legislação hoje prevista. É um desrespeito à população”, afirmou. Para garantir a segurança jurídica nesse novo cenário, o ONR participa do Grupo de Trabalho GT3 do Banco Central, responsável pela criação do Drex (plataforma oficial de moeda digital brasileira), e trabalha para que os registros de imóveis estejam plenamente integrados à blockchain do sistema financeiro nacional.
A ideia, segundo Pablo, é permitir que as operações digitais com imóveis, como financiamentos, escriturações e registros, ocorram dentro de um ecossistema seguro e regulado, evitando a criação de “mercados paralelos” sem amparo legal. “Estamos trabalhando de forma absoluta com o Banco Central para integrar nossa plataforma à rede Drex. Isso não significa tokenizar o imóvel, mas garantir transações digitais seguras e juridicamente válidas”, explicou.
Além disso, ele destacou que essa já é uma realidade crescente. Atualmente, o sistema RI Digital permite que praticamente todos os serviços disponíveis presencialmente nos cartórios possam ser acessados de forma eletrônica. A meta agora é evoluir do estágio de digitalização documental para a plena utilização de dados estruturados — como arquivos XML — tanto para escrituras públicas quanto para operações financeiras, o que trará mais agilidade, automação e integração entre sistemas públicos e privados.
Para acelerar esse avanço, o ONR encaminhou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) uma minuta de provimento que tornará obrigatória a recepção, pelos cartórios de registro de imóveis, de documentos estruturados enviados por instituições financeiras. Caso aprovado em agosto, o provimento estabelecerá um prazo de até dois anos para a obrigatoriedade plena dessa nova sistemática no país. “Queremos eliminar o vai e vem de papéis e permitir que as informações circulem de forma automatizada, precisa e segura”, enfatizou.
Juan Pablo também revelou que o ONR contratou empresas especializadas para modelar o novo sistema de registro e implementar soluções de inteligência artificial. Essas ferramentas vão desde a extração de indicadores e análise jurídica da matrícula até a conferência automatizada de documentos como guias de ITBI em bases municipais.
“Estamos investindo em robôs que auxiliam o registrador, melhoram o atendimento ao público e tornam o sistema mais confiável para o mercado imobiliário”, concluiu. Hoje, mais de 460 serventias já operam com certidões automatizadas em tempo real, e o número segue em crescimento.
Consiste na representação digital de um imóvel ou fração dele através de tokens, que são unidades digitais registradas em uma blockchain. Essa representação pode facilitar a negociação e a divisão do investimento em um imóvel, permitindo que várias pessoas comprem frações do mesmo.