Desde que o mundo é mundo, o capitalismo prega a livre concorrência. Mas não consegue evitar certas concentrações de mercado. O segmento de automóveis está aí para corroborar essas questões do liberalismo econômico. Principalmente no Brasil, onde alguns carros mais vendidos são um verdadeiro monopólio em suas categorias. Veja os principais exemplos.
Não tem como não começar uma lista de monopólios dos carros mais vendidos no Brasil sem falar da Strada. O modelo não é apenas a picape mais vendida do país há mais de duas décadas, como não toma conhecimento dos adversários. Só no acumulado do primeiro semestre deste ano, foram mais de 51 mil unidades entregues do veículo da Fiat.
Isso significa que a Strada vendeu quase 17 vezes mais que a sua única rival, a Volkswagen Saveiro, que teve apenas 3.781 carros negociados no período. Com isso, nove em cada 10 picapes pequenas vendidas no país são do modelo da Fiat, que tem um dos maiores monopólios do segmento automotivo, com mais de 93% de participação.
Entre os carros mais vendidos, o custo-benefício ajuda a explicar muito do domínio do Compass na categoria de utilitários esportivos. A Jeep começou a produzir a segunda geração em Goiana (PE) e, desde então, posicionou o carro entre os compactos topo de linha, e mais barato que os médios à época. Sem rivais diretos, nadou de braçadas no segmento.
Só no total de 2021, foram mais de 71 mil emplacamentos, com 10% de participação no mercado geral de SUVs e o dobro das vendas do Corolla Cross, que foi lançado justamente no ano passado com preços para brigar direto com o Compass. A diferença para o Toyota diminuiu bastante este ano, porém ainda é significativa.
No primeiro semestre de 2022, o Compass anotou mais de 31 mil unidades, o que o torna não só o mais vendido do segmento, como também o SUV mais comercializado do país até o momento – mesmo sendo mais caro e maior que a turma compacta. São 9 mil unidades a mais no acumulado em relação ao Corolla Cross.
Antes do segmento de sedãs médios encolher, o Corolla já vendia quase o dobro que seu arquirrival, o Civic. Agora, com o fim da produção do Honda no Brasil, a Toyota consolidou seu monopólio na categoria. O modelo soma 20.836 unidades entregues nos seis primeiros meses do ano e quase 70% de market share.
Os concorrentes não dão nem para a saída. O segundo colocado, o Chevrolet Cruze, teve 4.835 carros vendidos no período, 16% de participação. Afora quase 2.000 unidades de Civic ainda de estoque, modelos como o Caoa Chery Arrizo 6, Volkswagen Jetta (que foi remodelado em sua versão única GLi) e Kia Cerato não fazem nem cosquinha no segmento.
Não chega a ser um monopólio, mas em um segmento estratégico e importante como o de furgões e vans, o Master se destaca. Remodelado em janeiro, o comercial leve da Renault responde por mais de 27% de uma categoria que tem outros pesos-pesados.
Para se ter ideia, as 4.434 unidades vendidas em 2022 até agora são mais que o dobro do segundo colocado, o Peugeot Expert (2.008 unidades e 12,5% de mix). Fiat Ducato (1.691 e 10,5%), Citroën Jumpy (1.582 e 9,8%) e Iveco Daily (1.228 e 7,6%) também ficam bem atrás do Master.
Outra categoria na qual a Fiat não é importunada e se destaca entre os carros mais vendidos é o de minifurgões. O Fiorino responde por quase 93% do mercado em 2022. No acumulado do ano, foram 9.592 unidades, 30 vezes mais do que o Renault Kangoo comercializou no mesmo período.
O Grupo Stellantis até lançou o Peugeot Partner Rapid, clone do Fiorino com a marca do leão, mas, por enquanto, pouco animou nas vendas: 271 unidades na metade do ano.
Outra categoria em extinção, mas que tem seu monopólio nas rodas da Spin. A minivan da Chevrolet é o modelo de sete lugares mais barato do país e único monovolume ainda feito no Brasil. Por isso mesmo, reina absoluta.
As quase 7 mil unidades entregues no ano significam 97% de participação de mercado. Só não é 100% porque a Fenabrave inclui a Kia Grand Carnival (que custa meio milhão de reais) no bolo.
É uma categoria de nicho, contudo, mesmo assim tem seu monopólio. A versão de entrada do Série 3 faz a festa entre os considerados sedãs grandes, pela Fenabrave, onde só existem praticamente modelos de marcas de luxo. O BMW 320 totaliza 2.271 unidades no semestre, o que resulta em 61% de market share. Vendeu quase quatro vezes mais que toda a linha Mercedes-Benz Classe C, o principal concorrente.
Virou rotina a Fiat ter monopólio em categorias de comerciais leves. Mas vamos combinar que é até covardia neste segmento de picapes médias-compactas, já que a Toro tem como principal rival a Renault Oroch (modelo que, de fato, inaugurou essa categoria meio-termo entre as pequenas e as médias).
Com mais de 25 mil unidades vendidas entre janeiro e junho de 2022, a Toro dá uma poeira na concorrente da Renault, que vendeu menos de 4.000 carros. Já a Fenabrave coloca o exemplar da Fiat no balaio das médias, e a Toro ainda representa quase 30% do mercado, à frente de Toyota Hilux e Chevrolet S10 – maiores e mais caras, obviamente.
Entre os carros mais vendidos, o segmento de SUVs maiores também é bastante peculiar no mercado brasileiro, com poucos concorrentes. São modelos derivados de picapes e feitos sobre longarinas,com preços na casa dos R$ 400 mil. E quem chama a atenção nesse nicho é o Toyota SW4, com 6.700 unidades vendidas no segmento.
Se somar as vendas de seus dois principais rivais no período, não chegamos à metade do que o utilitário feito sobre a base da Hilux emplacou. O Mitsubishi Pajero negociou 1.222 unidades e o Chevrolet Trailblazer, 1.180.
Existe um certo domínio entre carros esportivos mais vendidos também. No ano passado, o Porsche 911 já tinha sido o mais vendido desta categoria – que só considera esportivos natos. Foram quase 900 unidades do modelo premium comercializadas em 2021, quase o dobro do Ford Mustang.
No primeiro semestre deste ano, o 911 continua bem à frente. O Porsche vendeu 251 unidades, com 27% de participação no segmento – isso porque a Fenabrave colocou o elétrico Taycan no bolo. Nesta corrida, o Mustang continua bem atrás, com 132 unidades.
Fonte: UOL