João Pessoa 29.13ºC
Campina Grande 30.9ºC
Patos 35.75ºC
IBOVESPA 127670.15
Euro 6.1162
Dólar 5.7661
Peso 0.0058
Yuan 0.7972
Turmalina: uma das gemas mais caras do mundo é brasileira (e paraibana)
22/02/2023 / 10:31
Compartilhe:

O Brasil é protagonista no fornecimento de recursos minerais para a indústria. Basta ver os sucessivos recordes anuais nas exportações de petróleo, ouro e minério de ferro. Já no mercado de gemas (popularmente conhecidas como “pedras preciosas”), o Brasil sempre foi inovador na produção de águas-marinhas, esmeraldas, ametistas, diamantes, topázios e safiras. Elas são utilizadas na produção de joias de alto padrão desde a época do Brasil império, com destaque para as gemas de Minas Gerais encontradas nos vales dos rios Doce, Araçuaí e Jequitinhonha.

O município de Salgadinho, localizado no sertão do estado da Paraíba, ficou famoso internacionalmente no início da década de 1980, quando foi descoberta uma das mais belas, valiosas e fascinantes gemas que o mundo já tinha visto: a “Turmalina Paraíba”. Ela pertence ao grupo de minerais genericamente denominados de turmalinas, o que inclui minerais com enorme variabilidade de composição e de cores.

A Turmalina Paraíba pertence ao subgrupo elbaíta, e destaca-se pela cor azul néon (podendo variar para verde ou lilás néon). Veja alguns exemplos abaixo.

(a) Exemplares de elbaítas coloridas, apresentando hábito prismático trigonal e estrias longitudinais características – extraído de Trinchillo et al. (2015). (b) Modelo cristalográfico da turmalina elbaíta com vista a partir da sua seção basal triangular. (c) Modelo tridimensional da estrutura cristalina da turmalina elbaíta. mindat.org e Museu de Minerais, Minérios e Rochas Heinz Ebert. /Reprodução

A Turmalina Paraíba possui uma fórmula química bem complexa, com quantidades consideráveis de elementos incomuns na crosta terrestre, como lítio, boro, cromo e flúor. O intenso azul turquesa e o brilho “neon” ou “elétrico” são diferenciais que fazem dela uma gema excepcional e única no mundo. A variação de cor entre os exemplares normalmente depende de elementos químicos denominados cromóforos. Altas concentrações (acima de 2%) de cobre são responsáveis pela sua cor azul peculiar.

Exemplar de Turmalina Paraíba, com sua cor azul turquesa característica Robert Weldon/GIA; courtesy of David Bindra, B&B Fine Gems./Reprodução

A Turmalina Paraíba (assim como outras variedades de turmalinas) é encontrada em pegmatitos graníticos: rochas de origem ígnea compostas por minerais de grande tamanho, centimétrico a decimétrico. Em geral, os pegmatitos ocorrem em veios ou diques que alcançam metros de extensão; eles são conhecidos por hospedar minerais exóticos, muitos deles com potencial para aproveitamento – como as gemas.

Agregado de cristais de turmalina elbaíta em pegmatito granítico – extraído de Beurlen et al. (2011). Beurlen et al.,2011/Reprodução

A Turmalina Paraíba é rara e só é encontrada na Província Pegmatítica da Borborema, situada entre os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, além da Nigéria e Moçambique, na África.

Mapa geológico com a indicação da área de abrangência da Província Pegmatítica da Borborema. Os pegmatitos graníticos onde a Turmalina Paraíba é encontrada estão representados pelas estrelas vermelhas – Modificado de Soares (2004)/Reprodução

A Província Pegmatítica da Borborema possui mais de 750 pegmatitos identificados. Muitos deles representam reservas estratégicas de lítio, berílio, bismuto, nióbio e tântalo, inclusive alguns foram explorados desde a Primeira Guerra Mundial.

As rochas que compõem essa província foram formadas na convergência entre os continentes sul-americano e africano, durante a formação do Supercontinente Gondwana há aproximadamente  510 milhões de anos atrás. Isso explica a ocorrência da Turmalina Paraíba nos dois lados do Atlântico.

Reconstituição geográfica-geológica da disposição dos continentes sul-americano e africano mostrando a distribuição dos depósitos de Turmalina Paraíba (estrelas vermelhas) no momento de sua formação – Modificado de Soares (2004)/Reprodução

A distribuição da Turmalina Paraíba nos pegmatitos ocorre comumente na zona intermediária de cristais coloridos de elbaíta, que possuem um núcleo rosa a vermelho (rico em alumínio e manganês) e borda verde a verde escura (rica em ferro e magnésio). Isso indica que a Turmalina Paraíba se formou durante os últimos estágios de cristalização do magma que deu origem aos pegmatitos mineralizados, numa condição em que boa parte do ferro e magnésio havia sido consumida na cristalização de outras variedades de turmalina – como schorlita e dravita, menos apreciadas pelo mercado joalheiro.

(a) Contato entre o pegmatito Capoeira – único produtor da Turmalina Paraíba em atividade no Brasil – e sua rocha hospedeira, um metaconglomerado. Grandes cristais de turmalina preta (schorlita) ocorrem próximos à zona de contato. (b) Exemplar de elbaíta com variação de cores associada à mudança da composição química. A seta amarela indica uma porção reliquiar de Turmalina Paraíba (PT) – extraído de Beurlen et al. (2011). Modificado de Soares (2004)/Reprodução

Atualmente, a maioria das minas de Turmalina Paraíba no Brasil estão exauridas a única ainda em operação está localizada no município de Parelhas (pegmatito Capoeira), Rio Grande do Norte. As turmalinas encontradas na Nigéria e Moçambique, apresentam em geral qualidades gemológicas inferiores às encontradas no nordeste brasileiro. As gemas brasileiras são reconhecidas por laboratórios internacionais como Gemological Institute of America e Swiss Gemmological Institute. Dependendo da qualidade da gema, o quilate ( 0,2 gramas) da Turmalina Paraíba pode variar de alguns milhares a centenas de milhares de dólares. Um pingente, brinco ou anel de ouro cravejado com Turmalina Paraíba pode atingir valores superiores a US$600.000 (equivalente a R$3 milhões).

O Brasil destaca-se então como o principal fornecedor de uma das mais belas e valiosas pedras preciosas já encontradas na Terra.

*Texto extraído do blog Deriva Continental/Revista Superinteressante, escrito por Lauro Cézar Montefalco de Lira Santos, da Universidade Federal de Pernambuco, e Guilherme dos Santos Teles, da Universidade Federal de Campina Grande.