Na última década, o agronegócio passou a contar com um aliado que vem do céu, literalmente: o drone ou veículo aéreo não tripulado (VANT). Utilizado inicialmente como uma tecnologia militar, o potencial do equipamento passou a ser explorado de forma comercial e tem na agricultura uma das aplicações mais recorrentes, seja para detectar deficiência hídrica do solo ou a existência de pragas, por exemplo.
Buscando compreender como o uso de drones pode favorecer a produção agrícola, pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo o projeto Imageamento suborbital de altíssima resolução como ferramenta para o planejamento hidroagrícola.
O estudo tem como pesquisador responsável na USP o docente Edson Cezar Wendland, da Escola de Engenharia de São Carlos. Na UFPB, instituição parceira, a pesquisa é coordenada pelo professor Davi de Carvalho Diniz, do Centro de Ciências Agrárias (CCA), campus de Areia.
Com financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o projeto é um dos dez selecionados por meio de uma chamada colaborativa entre as duas fundações para desenvolvimento de projetos em diversas áreas, com vigência de dois anos (de novembro de 2020 a novembro de 2022). Os dez projetos foram selecionados dentre cerca de 140 propostas apresentadas.
Na semana passada, a Fapesq realizou o último repasse dos valores destinados a esses estudos selecionados. Da parcela de aproximadamente R$ 1 milhão paga, R$ 100 mil foram para o projeto sobre uso de drones, que já tinha recebido, em dezembro de 2020, a primeira parcela do aporte da Fundação, também no valor de R$ 100 mil. O mesmo montante – R$ 200 mil – foi aportado pela Fapesp aos parceiros na USP.
O coordenador do projeto na UFPB, o engenheiro civil Davi de Carvalho Diniz Melo, explicou que o monitoramento em campo deve começar em agosto, tanto na Paraíba quanto em São Paulo. A área onde o estudo vai ser realizado é um local sob plantio de cana-de-açúcar, no Engenho São Paulo, em Cruz do Espírito Santo, na Zona da Mata paraibana.
Ele explicou que um dos objetivos do projeto é calcular a evapotranspiração (processo de evaporação da água do solo e perda de água por transpiração das plantas), utilizando dados meteorológicos combinados com imagens captadas por câmeras acopladas ao drone.
O segundo objetivo é identificar áreas onde há necessidade de irrigação, com uso de uma câmera termal que vai gerar imagens de temperatura da superfície, permitindo ao produtor saber exatamente qual o déficit de água no solo.
Como produto resultante do projeto, os pesquisadores pretendem criar um software para que os produtores agrícolas possam ter acesso às imagens geradas pelo drone e gerarem mapas e relatórios que auxiliem no planejamento da irrigação.
De acordo com Davi de Carvalho, o uso de veículos aéreos não tripulados apresenta uma série de vantagens à produção agrícola quando comparado ao sensoriamento remoto (uso de satélites), por oferecer informações bem mais precisas, por meio de câmeras de alta resolução espacial e boa sensibilidade.
“Eles são capazes de identificar e diferenciar respostas específicas das plantas, o que dá ao produtor um levantamento detalhado para tomar as decisões mais acertadas. O mapeamento sistemático do campo leva ao uso mais adequado dos insumos agrícolas e, por fim, à produção mais sustentável, em termos econômicos e ecológicos”, explicou.
Quanto ao custo do equipamento, ele admite que o valor para aquisição ou contratação de profissionais especializados para manuseio ainda é uma barreira de acesso dos produtores à tecnologia.
Davi acredita que uma solução pode ser a aquisição do drone por meio de cooperativas agrícolas, que podem auxiliar os pequenos produtores que não têm condições de adquirir a ferramenta. Na opinião do docente, os diferenciais dos atuais drones se sobrepõem a essa limitação do custo.