
Gerson, conhecido no bairro e nas delegacias pelo apelido de “Vaqueirinho”, tinha apenas 19 anos, mas acumulava um histórico extenso marcado por transtornos mentais, episódios de vulnerabilidade social e sucessivas passagens pela polícia. O jovem cresceu enfrentando crises psiquiátricas que, segundo relatos de investigadores e pessoas próximas, nunca foram tratadas de forma contínua.
Desde a adolescência, as dificuldades emocionais e cognitivas eram notadas. Entre os 10 e os 17 anos, Vaqueirinho acumulou pelo menos dez ocorrências registradas pela polícia, principalmente por furtos simples e depredação de patrimônio. As ações, em muitos casos, eram descritas como impulsivas e desconectadas de planejamento, compatíveis com o quadro psiquiátrico apontado por quem o acompanhava.
Depois de atingir a maioridade, o padrão continuou. Gerson somou mais seis passagens como adulto, sempre envolvendo pequenos delitos. Na maior parte das ocorrências, segundo relatos policiais, ele demonstrava confusão, comportamento desorganizado e dificuldade de compreender as consequências dos atos.
Na semana anterior à morte, Vaqueirinho foi detido após violar um caixa eletrônico em Mangabeira. O delegado responsável decidiu liberá-lo naquele momento, considerando o baixo potencial ofensivo do caso e o evidente estado de desorientação do jovem. Menos de uma hora depois, ele voltou a ser detido ao arremessar uma pedra contra uma viatura da polícia. Na ocasião, teria revelado aos agentes que queria ser preso de propósito por estar desempregado e sem perspectiva de assistência.
Na audiência de custódia, o juiz determinou que Gerson fosse encaminhado ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps) para tratamento psiquiátrico. A decisão visava iniciar um acompanhamento regular, já que os episódios envolvendo o jovem eram frequentes e pareciam ligados diretamente à falta de suporte clínico. Mesmo assim, ele acabou fugindo do serviço de saúde antes do início das avaliações.
Na manhã deste domingo, Vaqueirinho voltou a protagonizar um episódio extremo. Ele entrou no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa, e escalou a estrutura de proteção do recinto de uma leoa. Câmeras registraram o momento em que ele ultrapassa grades e alcança a área reservada ao animal. A invasão terminou de forma trágica, com o ataque que resultou em sua morte.
A trajetória de Vaqueirinho evidencia um ciclo que mistura vulnerabilidade social, ausência de acompanhamento contínuo em saúde mental e sucessivas interações com o sistema de segurança pública. A morte encerra uma história marcada por pedidos indiretos de ajuda, comportamentos desorganizados e episódios que revelavam, segundo agentes que lidaram com ele, mais sofrimento do que intenção criminosa.