Um vídeo gravado em ação controlada da Polícia Federal, obtido pelo GLOBO, mostra o deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL-MA) manuseando uma caixa de dinheiro e a entregando para um homem desconhecido. Na gravação feita pela PF, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), o próprio parlamentar afirma que a caixa continha R$ 250 mil. Maranhãozinho nega qualquer irregularidade e diz que a imagem retrata a sua atividade empresarial na pecuária “com compra e venda de gado e equipamentos com órgãos privado”.
Investigação contra deputado captou entrega de R$ 250 (Vídeo: Reprodução/O Globo)
O vídeo faz parte de uma investigação sigilosa envolvendo Maranhãozinho por suspeita dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude em licitação. A PF desconfia que o dinheiro manuseado pelo deputado seria proveniente de um esquema de desvio de emendas parlamentares por meio de prefeituras do Maranhão, que contratariam empresas ligadas ao parlamentar para desviar os recursos.
Em abril de 2020, Maranhãozinho alocou R$ 15 milhões em emendas parlamentares destinadas à área da saúde para diversas prefeituras do Maranhão. Alguns dos municípios beneficiados contrataram, inclusive com dispensa de licitação, empresas que, segundo a PF, possuem vínculos com o parlamentar, como a Aguia Farma, a Medshop e Atos Engenharia. Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de combate à lavagem de dinheiro, identificaram “vultuosos saques” nas contas dessas firmas.
A Medshop, por exemplo, recebeu R$ 3,9 milhões por meio dos fundos de saúde de cinco municípios. Após o repasse, entre junho e agosto de 2020, foram feitos 13 saques em espécie das contas da empresa no valor total de R$ 3,1 milhões.A PF também monitorou saques em agências bancárias feitas em nome das empresas por pessoas que, em seguida, iam até o escritório de Maranhãozinho localizado em São Luis, no Maranhão.
Com base nessa suspeita, a PF instalou câmeras para gravação de áudio e vídeo no escritório do deputado e monitorou, no fim do ano passado, diversos diálogos sobre entrega de dinheiro vivo, além de imagens do parlamentar com caixas de dinheiro.A PF também descreveu ao STF outro diálogo: “Josimar (Maranhãozinho) utiliza o telefone fixo para falar com alguém, pedindo que ‘Sim, vê com a Marta aí pra separar 150 (cento e cinquenta), tá? Porque eu vou ter que passar pro Marcelo. E, liga pro Hélio aí pra trazer aquele recurso que nós mandamos pra casa dele … tem 01 (um) conto lá … ‘”.
De acordo com a PF, “o deputado Maranhãozinho liberou o valor aproximado de quinze milhões de reais em emendas parlamentares para municípios de seu curral eleitoral. Posteriormente, os municípios contrataram com dispensa de licitação empresas (provavelmente de fachada — Aguia Farma, Medshop, Atos Engenharia, entre outras) em nome de interpostas pessoas (as empresas provavelmente pertencem tacitamente ao deputado) e assim os municípios transferiram dinheiro a estas empresas, sendo que os valores estão sendo sacados e o dinheiro é transportado até o escritório do parlamentar em São Luís”.
Informações: O GLOBO