João Pessoa 27.13ºC
Campina Grande 23.9ºC
Patos 31.82ºC
IBOVESPA 129480.89
Euro 5.5315
Dólar 5.1435
Peso 0.0058
Yuan 0.7119
Voa? Pedreiro constrói helicóptero com motor de Fusca na Bahia
06/11/2023 / 16:54
Compartilhe:

Junte um motor de Fusca, um banco de ônibus, algumas chapas de fibra de carbono e outras de alumínio aeronáutico, além de cola, porcas, parafusos, lixadeira, trena e planímetro. O resultado? Um protótipo de helicóptero brasileiro, ao custo inferior de R$ 50 mil, inventado, projetado e construído pelo pedreiro Antonio de Matos, na Bahia.

Mas será que um protótipo tão simples consegue voar? Seu criador diz que sim. Que o motor de Volkswagen Fusca, apesar de não ter potência elevada e apresentar uma quantidade menor de rotações, é suficiente para fazer a aeronave de Antonio se erguer a pelo menos entre 15 a 20 metros de altura. Ao menos é no que ele acredita, já que, até o momento, ele ainda não pôde testá-la em campo.

Aos 43 anos, Antônio se diz semianalfabeto. Nascido e criado numa cidadezinha com pouco mais de 33 mil habitantes no norte da Bahia, a 241 quilômetros da capital, Salvador, ele teve uma infância difícil financeiramente. Os pais não tinham condições de proporcionar a ele e aos irmãos carrinhos, aviões e trenzinhos.

“Desde criança fabrico meus brinquedos. Fazia os meus carrinhos com lata de óleo, nunca teve tempo feio para mim, não. Eu cortava, dobrava a lata, colocava rodinhas de madeira que eu mesmo lixava. E assim fui levando a vida”, contou, em entrevista ao UOL.

Os estudos, ele teve que abandonar aos 16, enquanto ainda cursava a 6ª série do ensino fundamental, após engravidar a garota com quem namorava e ter que abandonar a escola para se casar com ela. A interrupção dos estudos, porém, não o impediu de manter a mente aguçada e com facilidade para cálculos matemáticos.

Graças a essa facilidade, ele alimentou por décadas o desejo de aprender a construir e poder voar em um helicóptero, a aeronave pela qual tinha a maior fixação quando criança. Porém, com os filhos crescendo e a necessidade de manter a casa, o sonho foi sendo adiado. Assim, ele trabalhou como pintor, encanador, eletricista e pedreiro até que, em 2018, surgiu a oportunidade de começar a pesquisar sobre o assunto na internet.

 

Cinco anos de estudos

 

Durante cinco anos, Antonio pesquisou, leu textos especializados, buscou informações, assistiu tutoriais. Até que, em 2022, com um dinheiro que juntou durante esse tempo, começou a comprar o material para a construção do seu protótipo.

Ele cortava e modelava as chapas usando apenas uma lixadeira elétrica. A maioria das peças ele mesmo construiu, com exceção do banco e do motor. Em onze meses, ele estava pronto e ganhava até nome: AntonioCG.

Eu trabalhava à noite, quando chegava do trabalho, até duas, três horas da manhã. Durante quase um ano eu dormi umas três, quatro horas por noite só. Meu foco era a construção do helicóptero. Aos finais de semana, em vez de descansar, ficava na minha oficina improvisada e continuava trabalhando. Meus filhos, que moram comigo, me apoiavam, traziam um lanchinho, água, tudo para eu não precisar parar. Quando ele ficou pronto, que liguei o motor e as hélices giraram, eu chorei. Chorei feito criança.

O pedreiro conta que os vizinhos riam dele durante todo o tempo em que ele se dedicou à construção do protótipo. Faziam piadas maldosas. Mas Antonio seguia firme, sem dar atenção às chacotas. “Me chamavam de louco, pirado. Mas ajudar que é bom, ninguém ajudou. Nem prefeitura, nem empresários. Fiz tudo sozinho mesmo. Com a ajuda de Deus. Não tenho carro, nem moto, ando de bicicleta para economizar. Mas agora tenho um helicóptero”, declara, orgulhoso.

Antonio afirma que chegou a investir entre R$ 45 mil a R$ 50 mil na construção do protótipo, que conta com um banco de ônibus para o lugar do piloto e possui apenas 220 quilos de peso total – 30 quilos a menos do que as aeronaves classificadas como sujeitas à autorização do órgão para a realização de voos, diz

“Como é uma aeronave experimental, eu posso colocá-la em voos curtos, em locais não habitados, sem precisar de autorização da Anac [Agência Nacional de Aviação Civil]. Pesquisei tudo antes de começar o projeto. Não posso usar aeroportos ou pistas autorizadas, apenas fazer experiências em locais desabitados”

 

F5online com UOL