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Zazen: a meditação que ensina a observar a mente e viver o presente
01/09/2025 / 12:14
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Sentar e meditar: o poder do Zen para cultivar consciência e compaixão – Foto: Freepik

“Zazen é um termo japonês que significa tanto ‘sentar’ quanto ‘meditar’. Na tradição da Escola Soto Zen de Budismo no Japão, é a prática essencial transmitida pelo Mestre Zen Eihei Dogen Zenji no século XIII. No caso de Nanzenji, a Comunidade Zen do Sul, essa prática foi iniciada em 1987 em Buenos Aires por nosso fundador, o venerável mestre Jisen Roshi”, segundo o Venerável Senpo Oshiro, monge budista da Escola Soto Zen.

Argentino de ascendência japonesa, Oshiro iniciou suas primeiras práticas de meditação no Dojo Zen do Jardim Japonês de Buenos Aires em 1987. Posteriormente, aprofundou sua experiência em monastérios budistas no Brasil e viajou diversas vezes ao Japão, até receber os preceitos de um monge budista da escola Soto Zen do Monastério Shogoji em 2004.

Atualmente, coordena e orienta as atividades da Nanzenji em Buenos Aires, dedicada às práticas de meditação (zazen), costura de mantos budistas (saihoe), dharma alimentar (oryoki), cerimônias religiosas, funerais, casamentos, memoriais, retiros de meditação (sesshin), cursos e conferências.

— O budismo oferece muitos caminhos, mas o Zen é único: não busca fora o que já está dentro. Não há necessidade de decifrar mistérios ou encontrar chaves perdidas. A porta está sempre aberta — alerta Oshiro.

Quando questionado sobre recomendações gerais para a prática de zazen, ele se refere ao Fukanzazengi, um texto tradicional da Escola Soto Zen no qual seu fundador, Mestre Dogen Zenji, fornece orientações detalhadas: encontre um lugar tranquilo; sente-se em um zafu (almofada redonda) na posição de lótus ou meio-lótus (você também pode sentar em uma cadeira); coloque as mãos em hokkai join (mudra cósmico); mantenha as costas retas e respire suavemente pelo nariz, com os olhos entreabertos. Portanto, preste atenção à sua postura e respiração. Apenas sente-se. Talvez seja aí que o filme mental começa.

Então, o que fazemos com ideias, memórias, pensamentos ou emoções?

— Como diz nosso professor: você não precisa perseguir as nuvens, apenas observe-as passar, deixe-as ir e vir. Isso é difícil para a maioria de nós? Sim, é por isso que é uma prática, não uma teoria. Não importa o quanto você entenda, se não sentir, é inútil — explica Oshiro, que recebeu a transmissão do Dharma (Denpo) do professor Jisen Oshiro no Templo Jionji em San Vicente de Cañete (Peru), e em 2007 foi oficialmente reconhecido como monge da escola Sotoshu. — Acredito que cada vez que nos sentamos, a prática do zazen é única, pessoal, intransferível e irrepetível, e cada pessoa terá sua própria experiência e circunstâncias particulares. Hoje somos diferentes de como éramos ontem, e o mesmo se aplica à prática. É por isso que não existe uma receita 1+1=2. Mas existe uma forma e um ambiente que compartilhamos, como indica o Fukanzazengi — acrescenta.

Oshiro esclarece que no Nanzenji eles não curam, não oferecem terapia, nem intervêm em problemas emocionais, conflitos ou traumas. Também não substituem profissionais de saúde. Seu propósito é transmitir os ensinamentos de seus professores, oferecendo um espaço para a prática do zazen, a meditação praticada por Buda Shakyamuni, cultivando a consciência e a compaixão. Cada pessoa, então, decide o que fazer com essa experiência.

O poder de largar o celular

— Durante o zazen, observamos tudo: risos, lágrimas, tosses, roncos… até mesmo o tédio. Mas o que mais me comove é ver aqueles que ousam largar o celular ou permanecer em silêncio por uma hora, sabendo o quão difícil é para eles — continua Oshiro, que ao longo dos anos também fez peregrinações a templos e santuários na China, Tibete, Nepal e Tailândia.

O Mestre Dogen, que transmitiu o Budismo da China para o Japão e fundou o Monastério Eiheiji, afirmou que não há diferença entre prática e iluminação. O que isso significa? Na tradução do Fukanzazengi, está escrito:

— Essas ações vêm da prática, que está além da mente. Portanto, pouco importa se você é inteligente ou estúpido, superior ou inferior. Concentrar-se de todo o coração é a verdadeira prática do Caminho. A prática na vida diária é a realização do Caminho — diz Oshiro, que, com mais de 20 anos como monge budista na escola Soto Zen, compartilha seu maior aprendizado ao longo de todos esses anos.

sso também é o interessante sobre o Zen: você não precisa entender para praticar, basta fazê-lo de todo o coração, completamente, nas coisas do dia a dia.

— Não importa o quanto você tente controlar o caminho, a vida sempre te leva aonde você precisa estar. Hoje, depois de duas décadas de prática budista, continuo surpreso ao ver como as coisas raramente acontecem como eu imaginava. Mas, nesse desapego, surgem pessoas, ensinamentos e lugares que eu jamais teria imaginado quando estava no meu antigo escritório. Continuo, com muito a aprender, mas com a convicção de que, apesar das minhas deficiências, este é o verdadeiro caminho. E que, no fim, tudo se resume a confiar e servir, para o bem de todos — conclui.

La Nacion via jornal O Globo