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Zoë Kravitz sobre viver nova mulher-gato: ‘É uma personagem complexa, mas vai muito além do sexy’
17/03/2022 / 13:11
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Enquanto estava se preparando para interpretar a Mulher-Gato na nova versão de Batman, Zoë Kravitz recebeu conselhos de duas atrizes que já viveram na pele o peso de encarnar a icônica anti-heroína: “Halle Berry me disse que eu tentasse ao máximo imprimir minha personalidade à personagem. Já Michelle Pfeiffer recomendou que eu garantisse que o figurino fosse prático para quando precisasse fazer xixi”, diverte-se a atriz em entrevista exclusiva para a Vogue Brasil. “Uma das partes mais difíceis foi fazer algo diferente do que já tínhamos visto. Especialmente porque me sinto inspirada pelas versões anteriores, mas amo não ser a primeira negra neste papel”, acrescenta.

Escrito e dirigido por Matt Reeves, o filme começa na noite de Halloween e mostra um lado mais rock’n’roll da saga. Inspirado em Kurt Cobain, o Bruce Wayne vivido por Robert Pattinson ainda atua nas sombras como Batman e, mesmo assim, Gotham City segue assolada pelo crime. O enredo engata quando o serial killer Charada (Paul Dano) assassina o prefeito da cidade, vaza fotos que ligam o político a um esquema de corrupção e deixa pistas de sua próxima vítima por enigmas destinados ao homem morcego. No meio deste quebra-cabeça, Bruce conhece Selina Kyle, bartender e motoqueira vivida por Zoë. Junto com o tenente Gordon (Jeffrey Wright), ela vira sua principal parceira na investigação. Inclusive, é a química entre Rob e Zoë que faz valer as quase três horas de filme. “Tanto Selina quanto Bruce se sentiram sozinhos a vida toda. Ela é uma personagem complexa, mas vai muito além do sexy. É uma mulher feminista que está tentando sobreviver em uma cidade difícil e que quer lutar por pessoas que, como ela, estão perdidas”, conta a artista.

A atriz norte-americana Zoë Kravitz em uma das cenas do filme The Batman (Foto: Matt Easton / Warner)

Zoë confessa que, dado o tamanho do projeto e sua legião de fãs, participar do casting e depois, das filmagens, foi intimidador. Mas estar ao lado de Robert Pattinson ajudou muito. “Rob faz escolhas ousadas e inteligentes com cada personagem. Somos grandes amigos, ele é uma pessoa incrível e um ator fantástico”, conta. Para encarnar a jovem conhecida por suas acrobacias e dom ímpar para abrir cofres, Zoë dedicou onze horas de seu dia entre filmagem e treino. Como ela conseguiu ter equilíbrio entre saúde física e mental? “Bom, eu não tive (risos). Gravava o dia todo, treinava por mais duas horas e meia, dormia e fazia tudo de novo. Fiquei exausta, mas valeu a pena”, relembra.

Natural de Los Angeles, Califórnia, a norte-americana começou a atuar ainda adolescente e despontou em filmes como X-Men: Primeira Classe (2011) e Mad Max: Estrada da Fúria (2015). Filha do cantor Lenny Kravitz e da atriz Lisa Bonet, ela não esconde que, no começo de sua carreira, lá em 2007, muitos pensavam que se ela conseguisse um trabalho, seria por conta do sobrenome. Quando pergunto se essa pressão ainda a acompanha, ela é enfática: “Não sei, talvez ainda pensem isso, mas meu medo foi embora, pois trabalhei muito e acreditei no meu processo e intenção. E não quero perder tempo me preocupando com o que os outros vão pensar.” O boom de reconhecimento veio com performances carismáticas nas séries Big Little Lies (2017) e High Fidelity (2020).”A cada experiência, fui crescendo enquanto artista e aprendendo, seja com os erros que cometi ou no impacto de cada papel sobre mim”, diz ela, que também atua como embaixadora da Saint Laurent.

Bastante reclusa com sua vida pessoal, Zoë prefere não comentar sobre o fim do seu casamento de 18 meses com o ator Karl Glusman, mas já revelou publicamente que irá abordar o assunto em seu primeiro disco-solo. E a lista de novos projetos não para por aí: em breve, ela fará o seu début como diretora em Pussy Island, filme estrelado por Channing Tatum, ainda sem data de lançamento.

Essa mesma postura discreta vale para sua exposição nas redes sociais: “Tento estar presente em cada momento ao invés de postar fotos na internet para pessoas que eu não conheço”, defende. Dos únicos oito posts no feed do Instagram, seis são sobre seu papel como Mulher-Gato, experiência que ela admite ter sido especial. “Fiquei surpresa quando me escalaram para o papel, mas segui os meus instintos e deu certo. É engraçado, pois não sou fã de gatos, mas sei que sou um pouco como eles: fazemos o que queremos e gostamos de ser tocados no nosso tempo. É uma questão para tratar na terapia, com certeza”, finaliza.

Batman (Foto: Warner)

Queria começar com os bastidores do casting para The Batman. Você se sentiu intimidada pelo peso do papel da Mulher-Gato?
Com certeza. Foi um longo processo e eu fiquei bem nervosa com ele. Tentei não ficar animada de mais assim que recebi a ligação e fiquei sabendo que estava na lista de atrizes consideradas para o papel da Mulher-Gato. Quando você quer muito um papel e não consegue, é de partir o coração, e eu já vivi isso antes. Então tentei não me apegar e pensei comigo: ‘nunca vai rolar’.

Depois, eu peguei um avião e me encontrei com o diretor e fiquei apaixonada por ele enquanto artista e pela visão que ele tinha para o esse filme pois era muito diferente do que já tínhamos visto desse universo do Batman. Selina é tão rica, complexa e humana, isso foi muito emocionante para mim.

A última etapa foi fazer esse teste de câmera com o Rob (Robert Pattinson) e ele estava caracterizado de Batman e tudo, com o traje de super-herói. Ali tudo virou bem real para mim.

Depois de um tempo, recebi uma ligação e é engraçado porque ao mesmo tempo que eu sentia uma conexão bem profunda com essa personagem, sentia no meu coração que a entendia e queria fazer justiça ao papel, demorei um tempo para acreditar que realmente tinham me escolhido para o papel.

Como você se preparou para este papel? É verdade que você recebeu um conselho de Halle Berry?
Halle Berry me disse para apenas tentar fazer a personagem do meu jeito e dar o meu toque pessoal, o que foi um ótimo conselho. E Michelle Pfeiffer me disse para garantir que o figurino fosse prático e que eu tivesse como fazer xixi no macacão, pois esse era o que ela mais sofria durante as gravações (risos).

Qual foi a maior dificuldade que enfrentou nesse papel?
Uma das partes mais difíceis com papéis tão conhecidos como esse é de imprimir a sua personalidade na personagem e torná-la sua, especialmente quando você ama tanto as versões anteriores como eu e se sente inspirada por elas e precisa fazer algo diferente daquilo que você já ama tanto, então para mim essa foi a maior dificuldade. O que eu fiz foi criar a personagem de dentro para fora e segui meus instintos. Tentei pensar nela mais como uma mulher do que uma mulher-gato. É uma mulher que está tentando sobreviver em uma cidade difícil, que teve uma vida bem complicada e está preocupada com o desaparecimento de sua amiga e roommate.

Warner/Divulgação

Vi que você passou 11 horas entre treinos intensos e gravações. Como você conseguiu equilibrar a saúde física e mental?
Bom, eu não tive equilíbrio e foi bem louco isso (risos). Fiquei treinando por meses antes das gravações e durante as filmagens eu continuava treinando por duas horas e meia por dia, dormia e fazia tudo de novo. Foi muito trabalho, mas estou tão feliz por estar nessa posição. Fiquei bem cansada, mas depois que vi o resultado final, senti que valeu a pena ficar tão exausta.

Na primeira cena em que o público vê Selina Kyle, ela surge com uma plataforma de cano alto, o que vira uma marca registrada da personagem. Você se divertiu com as provas de figurino?
Sim, foi tão divertido! E, por sorte, Mack e Jackeline, os figurinistas, eram bem talentosos e colaborativos. Eles realmente estavam interessados na minha opinião e trabalhamos bastante nos looks despojados que Selina usa na boate onde trabalha. Para o look de jaqueta de couro que ela usa quando está dirigindo a moto, queríamos passar essa ideia de que fossem peças antigas do guarda-roupa dela. Conhecemos Selina na primeira cena como bartender e não como mulher-gato, então queríamos que o guarda-roupa dela tivesse pistas de que ela se tornaria a mulher-gato.

Você acredita que a Mulher-Gato é feminista?
Com certeza, sua conexão com gatos de rua está bem ligada com o fato de que ela também foi abandonada e se sente sozinha. Ela quer lutar por pessoas que, assim como ela, também estão perdidas e que foram maltratadas e não têm nada. E, muitas vezes, essas pessoas são mulheres.

Você é amante de gatos?
É engraçado, pois eu prefiro cachorros. Não sou fã de gatos, mas me sinto e me identifico com os comportamentos deles. Sei que sou bastante como eles. Eles fazem o que querem fazer, gostam de serem tocados e acariciados no tempo deles. Você não pode dizer o que eles estão pensando. E sou bastante assim, por mais que não goste tanto. É uma questão para tratar na terapia, com certeza.

Qual foi a cena mais desafiadora em The Batman?
Todas foram muito desafiadoras. Fisicamente, tem uma cena em que eu roubo dinheiro do porta-malas de um carro e estava tão frio e chuvoso que eu e Rob nem conseguimos nos ver ou ouvir no set, então foi bem difícil.

Outra cena bem difícil foi a primeira luta entre o Batman e a Mulher-Gato, essa demorou bastante tempo e foi uma das primeiras que gravamos, então foi uma maneira bem intimidadora de começar o filme.

E como foi trabalhar com Robert Pattinson num filme que tem tanta expectativa envolvida dos fãs?
Foi ótimo. Sou amiga do Rob faz um tempo, ele é uma pessoa incrível e um ator fantástico. Fiquei tão feliz quando soube que ele tinha sido o ator escolhido para ser o Batman porque ele tem tanto bom gosto e faz escolhas ousadas e bem inteligentes com cada personagem, então estava bem intrigada para ver o que ele faria com o Bruce. Afinal, é um papel bem difícil de fazer pois o rosto está coberto na maioria do filme, ele não tem tanta mobilidade e precisa fazer uma certa voz específica. O fato dele ter adicionado dimensão e emoção mesmo com essas limitações é algo que demanda muita habilidade e fiquei bem impressionada com isso.

​​Você tem apenas seis posts no seu Instagram, a maioria sobre o filme The Batman e sua bio diz: BLM (Black Lives Matter). Como é a sua relação com as redes sociais?
Minha relação com as redes sociais é complexa, acho que é um lugar estranho. De um lado, é uma ferramenta que une as pessoas e traz conexão e de outro nos afasta cada vez mais. Muitas pessoas saem com seus amigos no mundo real e passam a maioria do tempo tirando fotos para postar no Instagram. É algo que nos tira muito tempo da vida real, então tento deixar a minha vida pessoal bem guardada e estar presente em cada momento ao invés de postar fotos na internet para pessoas que eu não conheço.

Eu amei que o tenente Gordon era um homem negro. Isso é tão importante em termos de representatividade. E tem toda uma nova geração que está sendo apresentada para este universo do Batman com uma mulher-gato negra, qual é a importância deste papel em termos de diversidade?
Acho que é bem importante estarmos abertas a diferentes versões desse personagem. Claro que Eartha Kitt e Halle Berry vieram antes de mim e amo que não sou a primeira mulher negra neste papel. A Selina é uma pessoa que vive numa cidade metropolitana e claro que existem várias pessoas negras nesses espaços, então parece mais real.

Li uma entrevista recente sua onde você disse que no começo da sua carreira as pessoas sempre assumem que se você conseguisse um trabalho, seria por causa do seu sobrenome e da sua família. Quando você acredita que essa pressão e esse estereótipo foram embora?
Não sei, talvez algumas pessoas ainda pensem isso, mas o meu medo foi embora pois trabalhei muito e acreditei no meu processo. Apenas escolhi não focar tanto nisso e sim no meu trabalho e na minha intenção. Não quero desperdiçar meu tempo me preocupando com o que os outros vão pensar.

Você fez um trabalho incrível em filmes e séries como Max Max, Divergente, High Fidelity, Big Little Lies…algum deles te influenciou no papel da Mulher-Gato?
Não sei se os personagens em si influenciaram diretamente, mas acredito que aprendo algo diferente em cada trabalho, seja no jeito que eu me aproximei de algum personagem, ou os erros que cometi ou até no sentimento de que não estava pronta o suficiente para algum papel, que não me arrisquei o tanto quanto gostaria. Acredito que a cada experiência eu aprendi e fui crescendo enquanto artista.

E o que o filme The Batman te ensinou?
Nossa, aprendi tanto! Matt é um mestre no que faz. Ele é tão meticuloso de um jeito que nunca vi antes. Ele é tão específico e se entrega para cada cena, nada é grande ou pequeno. É impressionante o quanto ele presta tanta atenção em cada cena do filme, seja o jeito que alguém segura uma caneta, seja numa cena de perseguição de carro. Tudo isso foi muito inspirador para mim.

VOGUE Brasil