No cenário atual da política, onde o debate público se deslocou para os feeds das redes sociais e aplicativos como WhatsApp, viralizar virou o novo “falar ao povo”. Mas será que todo político em mandato deveria buscar essa fama instantânea? Ou estamos diante de uma armadilha perigosa disfarçada de engajamento?
Deixa eu te falar uma coisa: nem toda fama é útil. Nem todo viral serve para construir um mandato sólido e fortalecer sua imagem como político.
É tentador, eu sei. Um vídeo que “bomba”, que circula por grupos do Brasil inteiro, milhares de visualizações e curtidas em poucas horas. Parece que finalmente estão vendo o seu trabalho, né? Só que tem um detalhe: popularidade não é poder e muito menos voto garantido.
Viralizar pode parecer o caminho mais rápido para o topo da popularidade, mas para quem está exercendo um cargo público, a pergunta não é “como fazer um vídeo bombar”, e sim: “isso fortalece meu mandato ou enfraquece minha autoridade?”
Quando você está em mandato, ocupando cargo público, a pergunta nunca deve ser: “Como eu faço pra viralizar?” Mas sim: “Isso aqui reforça minha autoridade? Isso fortalece a minha gestão? Me aproxima de quem eu represento? Isso fortalece a minha imagem?”
Porque se a resposta for só “vai me dar engajamento”, cuidado. Engajamento sem propósito vira vaidade. E vaidade pode custar caro na política.
De forma rápida e sucinta, vamos falar sobre os benefícios de viralizar. Este é um tema amplamente abordado por especialistas e consultores em marketing político, e de forma geral está presente em muitas rodas de conversa sobre comunicação na política
Vamos ser justos: viralizar, por si só, não é o problema. Quando acontece de forma estratégica, com coerência e propósito, pode sim gerar bons frutos para quem está em mandato.
Em alguns casos, o conteúdo viral ajuda a quebrar barreiras de alcance, melhora a percepção pública, aproxima o político da população e até posiciona o nome no debate de temas importantes.
Mas é fundamental entender: a viralização deve ser consequência de um trabalho bem-feito e não o objetivo principal. Ou seja, viralizar é consequência, e não, objetivo. Porque o que vale mesmo é o quanto isso contribui para fortalecer a sua mandato, e não apenas inflar estatísticas digitais, o que eu gosto de chamar de: “Os indicadores (KPIs) de ego”.
Em resumo, os principais benefícios possíveis da viralização são:
Agora vamos falar do outro lado da moeda, pois nem tudo são likes e aplausos. A viralização pode trazer efeitos colaterais graves, principalmente para quem já ocupa um cargo público.
Na prática, já vi muita gente se empolgar com a repercussão de um vídeo, achar que estava “no auge” e pouco tempo depois, estar apagando incêndio, pedindo desculpa, ou tentando reconquistar a confiança da própria base. O problema da fama instantânea é que ela não vem com manual de uso.
Para quem está em mandato, existe uma linha muito tênue entre se comunicar com inteligência e se expor de forma perigosa. A viralização pode te projetar, sim. Mas também pode desestabilizar, desgastar a sua imagem e enfraquecer sua autoridade, gerando prejuízos gigantescos para o seu capital político.
Então se você quer mesmo jogar esse jogo, é bom conhecer os riscos antes de apertar o “publicar”.
Esse é um erro mais comum do que parece, principalmente entre vereadores e prefeitos. O político se empolga porque o vídeo chegou em todo canto, ganhou comentário de influencer, saiu em site grande, circulou em grupos de fora. Só que… quem vota em você viu?
Porque não adianta ter curtida de São Paulo, Rio de Janeiro e do Amapá, se seu público está no Rio Grande do Sul. O voto tem CEP e se a tua base não foi impactada, a viralização virou só vaidade digital.
Essa é uma das armadilhas mais perigosas da internet. Você grava um vídeo com a melhor das intenções, mas aí alguém corta um pedaço, interpreta de outro jeito, publica com uma legenda maldosa e pronto: a sua fala viraliza do jeito errado. De elogiado, você vira odiado.
Já vi isso acontecer com falas sobre segurança, saúde, educação. Em segundos, a narrativa sai do seu controle e na internet, o cancelamento é mais rápido que a retratação. Além disso, na maioria das vezes quem te ataca nem quer entender, só quer o embate.
Ah, as trends, aquela dancinha do momento, o filtro engraçado, o desafio da semana, o jogo das palavras, a cada poucos dias uma nova trend aparece e tudo parece leve, divertido e inofensivo. Mas me diz uma coisa, com sinceridade: qual é a ligação disso com seu mandato?
Se a população está enfrentando problemas reais, rua esburacada, falta de médico, escola sem estrutura, uma nova lei de regulamentação e te vê dançando no “TikTok”, o contraste pode ser cruel. A sensação que passa é de desconexão, ou pior: de deboche. Fique atento ao momento, seja ele local ou nacional.
Vale o alerta, quando você vira personagem de entretenimento, começa a perder autoridade. Aos poucos, deixam de te ver como líder e o pior, ainda podem começar a te ver como meme.
Mas então devo ignorar, toda e qualquer trend? A resposta é: não. Mas você deve avaliar com muito critério. Antes de entrar em qualquer modinha digital, se pergunte: “Essa trend tem algum vínculo com o que eu defendo, com a realidade da minha cidade, com o momento que minha população está vivendo? Ela me ajudará na construção de minha imagem?”
Se a resposta for sim, adapte com inteligência. Use o formato a seu favor, mas com propósito. Agora, se for só pra surfar na onda e aparecer por aparecer, melhor deixar passar.
Este tópico complementa o item anterior. Um vídeo pode estourar hoje e ser esquecido amanhã, isso é fato. O problema é quando o político se agarra à fama momentânea achando que ela sustenta o resto e vou te falar, não sustenta. Fama não é legado e viralização não é entrega.
Se não tiver consistência, coerência e trabalho por trás, você vai virar aquele que foi lembrado por um vídeo, mas esquecido como político.
A comunicação é uma ferramenta incrível, quando bem utilizada, mas lembre-se ela não é um fim. Ela deve ser estratégica em seu mandato, essa é a sua responsabilidade com quem te confiou um cargo público.
Viralizar pode ser bom, sim. Mas também pode ser a pior coisa que aconteceu com você, se for pelo motivo errado, com o tema errado, na hora errada e/ou do jeito errado.
Para refletir: o seu eleitor não quer um vídeo bom. Ele quer um político presente, firme, que o represente. Se a viralização vier como consequência disso, ótimo. Mas nunca perca o foco do que realmente importa.
Meu conselho? Tenha um plano de comunicação realista, alinhado com a sua identidade e com o que você quer construir. Não corra atrás de viral como se fosse o prêmio máximo, prefira ser coerente e consistente, isso sim constrói autoridade de verdade.