João Pessoa 29.13ºC
Campina Grande 29.9ºC
Patos 35.12ºC
IBOVESPA 127791.6
Euro 6.1026
Dólar 5.7947
Peso 0.0058
Yuan 0.8012
Padre Júlio Lancellotti afirma ser atacado por milícia de jovens católicos
01/06/2021 / 08:59
Compartilhe:

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após indicar livros progressistas em uma celebração religiosa e em suas redes sociais, o padre Júlio Lancellotti, 72, virou alvo de montagens e mensagens agressivas nos últimos dias. Nesta segunda-feira (31), ele relatou ter sido “bombardeado” pelas redes sociais, ligações no celular e recados no Whatsapp por jovens católicos que fariam parte de uma milícia.

“Manipulam e invadem em nome de um deus cruel e opressor”, disse. “Hoje o dia foi denso e tenso”.

Entre os livros indicados estão “O Deus das vítimas”, de Edevilson de Godoy, sobre a presença divina nos marginalizados; “Teologia e os LGBT+”, de Luís Corrêa Lima, que reflete sobre a realidade dessa população na perspectiva da teologia; e “Deus e o mundo que virá”, uma conversa do papa Francisco com o vaticanista italiano Domenico Agasso, repórter do jornal La Stampa e coordenador do site Vatican Insider, sobre a pandemia.

Em um dos ataques, uma montagem troca a capa do livro “Teologia e os LGBT+” por um catecismo anticomunista. “Católicos falsificarem imagem e produzirem fakes por ódio é lamentável. Além de crime”, o padre afirmou.

Ao indicar o livro que aborda a questão LGBT+, o religioso mandou um recado para os “homofóbicos de plantão”: “Nossas palavras podem salvar vidas ou podem destruí-las”.

O padre é conhecido pelo trabalho que realiza junto à população de rua e já protagonizou cenas como a de quebrar a marretadas pedras colocadas pela prefeitura em um viaduto na zona leste de São Paulo como medida para evitar moradores de rua.

Na semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) postou em uma rede social uma foto com Lancellotti e escreveu: “Estou disposto a viajar o país para levantar a cabeça do nosso povo e dizer: esse país e nosso. Esse país não é o país do ódio”.

Ao falar sobre o episódio, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) questionou a integridade de Lancellotti. “Colocam o Lula com um padre pensando que fosse um padre realmente sério, responsável”, disse.

OUTROS ATAQUES

Em 2019, o padre Ticão, líder comunitário na zona leste de São Paulo, virou alvo de ataques por meio de mensagens de ódio e ameaças de morte após a realização da 36ª Semana da Juventude, na Paróquia São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo.
O evento incluiu rodas de conversa sobre cannabis medicinal e palestra sobre gênero, direitos sexuais, direitos reprodutivos e religião, com a participação da organização Católicas pelo Direito de Decidir.

Na ocasião, um ato realizado em frente à paróquia colocou, em lados opostos, defensores e pessoas que reivindicavam a expulsão do padre da Igreja Católica. Com terços nas mãos, os manifestantes que não apoiavam as ideias defendidas por Ticão rezaram e gritaram palavras de ordem como “Viva a Santa Igreja” e “Salve Roma”.

Já os apoiadores de Ticão reuniram-se com representantes de OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ABI (Associação Brasileira de Imprensa), além de políticos da região, para chamar a atenção da comunidade de Ermelino Matarazzo para as ameaças direcionadas ao padre e aos funcionários da paróquia.

Ticão morreu em janeiro deste ano, aos 68 anos.