João Pessoa 24.13ºC
Campina Grande 20.9ºC
Patos 22.27ºC
IBOVESPA 129992.29
Euro 6.1338
Dólar 5.6126
Peso 0.0058
Yuan 0.7939
Presidente da Stellantis defende políticas de estímulo ao consumo do etanol no Brasil
03/04/2023 / 10:10
Compartilhe:

Por que parte da indústria é favorável ao desenvolvimento de carros híbridos movidos a etanol se nada garante que o consumidor vai optar pelo derivado da cana na hora de abastecer o veículo? Ele pode preferir a gasolina, como já faz no caso dos chamados carros flex, que aceitam etanol ou gasolina e que representam a maior parte dos veículos que circulam no país.

Ou é possível pensar na produção de híbridos movidos apenas a etanol? O presidente da Stellantis na América do Sul, Antonio Filosa, defende um “caminho fiscal”. Ou seja, para ele, chegou a hora de o Brasil privilegiar quem escolhe o combustível que reduz em mais de 60% a pegada de carbono em comparação com a gasolina.

Existe, assim, a possibilidade da volta do carro a álcool, modelo lançado na década de 1970 a partir do Próalcool, um programa governamental criado durante a crise mundial do petróleo? O tema é polêmico e exige cautela, já que o programa deixou traumas no brasileiro. O carro a álcool se tornou um “mico” quando os preços da gasolina voltaram a cair. O flex surgiu para acabar com o problema.

O assunto volta à tona diante da necessidade de o Brasil definir políticas para a descarbonização no transporte. “A tecnologia existe”, diz Filosa. O problema é que por mais forte que seja o apelo ambiental, na hora de abastecer, para muitos, o que mais pesa é o bolso, já que nem em todos os Estados o derivado da cana é competitivo. Para Filosa, porém, cabe à indústria esclarecer melhor ao consumidor as vantagens do etanol e ao governo, definir políticas de estímulo ao seu consumo.

Na sexta-feira (31), a Stellantis apresentou o resultado de testes com carros comparando a emissão de CO2 a partir de quatro fontes de energia: gasolina, etanol, elétrico simulando energia gerada na Europa e elétrico com energia gerada no Brasil. A ideia foi juntar elementos para basear a defesa da produção de híbridos movidos a etanol no Brasil, um projeto que o grupo pretende lançar em breve. Segundo Filosa, a Stellantis prepara um grande investimento no Brasil. “Será maior do que a soma de todos das nossas concorrentes”, diz.

Os testes foram realizados em parceria com a Bosch e consideraram as emissões em todo o ciclo, da geração da energia ao uso no veículo. A medição do CO2 foi feita depois de um percurso de 240,49 quilômetros.

O veículo a gasolina emitiu, em todo o processo, a maior quantidade de CO2: 60,64 quilos. O segundo mais poluente foi o elétrico com simulação de uso de energia gerada na Europa, com 30,41 quilos. O que foi abastecido com etanol somou 25,79 quilos e o 100% elétrico com baterias carregadas a partir de energia gerada no Brasil, 21,45 quilos.

“O etanol alcançou quase empate técnico com o carro elétrico abastecido com a energia elétrica do Brasil, gerada, majoritariamente, de fonte renovável, e levou vantagem em relação ao elétrico que circula na Europa”, diz Filosa.

O executivo prevê que, por volta de 2026 ou 2027, o Brasil terá um mercado com maior predominância de veículos eletrificados do que hoje, incluindo híbridos e 100% elétricos. O grupo decidiu produzir híbridos no país, tendo o etanol como principal fonte de energia. Mas ainda não revela datas. No chamado híbrido leve, um dos projetos em discussão na Stellantis, o motor elétrico funciona com a ajuda de outro, a combustão.

Filosa é hoje um dos principais porta-vozes do grupo de empresas que defende a preservação do etanol como combustível e em seu uso em híbridos produzidos localmente. “Isso é mais do que uma questão ambiental; é uma necessidade de eficiência industrial”, diz. Ele acredita no potencial de a Índia, que tem intensificado o uso do etanol, se tornar parceira do Brasil. “O mundo produz hoje 90 milhões de veículos. Em breve, serão 100 milhões. Não podemos imaginar o futuro numa única direção”, destaca.

O executivo italiano visitará esta semana uma grande usina de São Paulo. Ele diz que também tem conversado com fornecedores para juntar esforços em torno de seus argumentos para preservar o polo automotivo brasileiro.

Filosa defende, ainda, a ampliação de estímulos fiscais para pesquisa e desenvolvimento de veículos voltados aos projetos de descarbonização no Brasil. “Temos que premiar a engenharia daqui e não a de Detroit ou Turim”. Segundo ele, o governo já sabe de todas essas suas intenções. “Mas não custa repetir”, diz.

Assim como sabe também da divisão das montadoras em relação a desenvolver ou não híbridos a etanol no Brasil. “O governo sabe que nós gostamos do etanol e sabe que muitos não gostam. Nós conseguimos responder por quê. Será que os outros também conseguem?”

Do Valor Econômico