No dia 19 de março ocorreu o seminário “Descarbonização: os caminhos para a mobilidade de baixo carbono no Brasil” no Centro Internacional de Convenções de Brasília. Esse mega evento foi promovido pela empresa Esfera BR em conjunto com o Acordo de Cooperação de Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCB).
O seminário contou com a presença de figuras importantes do governo federal, incluindo o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante; o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta; e o economista Luciano Coutinho.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, estava na programação, mas, na véspera, não pôde comparecer e acabou sendo substituído pelo ministro Gilmar Mendes, do STF. O presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, esteve presente e dividiu um painel com Mendes.
Além disso, representantes da indústria automobilística, fabricantes de peças, setor de biocombustíveis e entidades representativas participaram do evento. A abertura e trechos do seminário estão disponíveis no Youtube, no canal Esfera BR.
Esse momento marcou o início de um novo movimento que visa impulsionar de vez a mobilidade sustentável no Brasil. O objetivo é reduzir significativamente as emissões de carbono provenientes de veículos leves e pesados no país. O diferencial desse esforço é que ele representa uma coalizão pioneira, incentivando o uso de todas as rotas tecnológicas de baixo carbono disponíveis para alcançar uma mobilidade limpa, econômica e socialmente responsável. Além disso, busca garantir segurança energética e promover incentivos à economia, geração de empregos, renda e neoindustrialização.
No Acordo de Cooperação de Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCB), participam empresas produtoras e entidades do setor sucroenergético e de biogás, bem como sistemistas e a indústria de autopeças. Montadoras, associações, entidades de tecnologia, engenharia, pós-venda e sindicatos também fazem parte dessa iniciativa.
Seis grandes sindicatos de trabalhadores filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) também estiveram presentes e são membros ativos do MBCB através da entidade IndustriALL Global Union, que é uma federação sindical global.
Essa é a primeira vez que o setor produtivo de etanol da Paraíba, representado pelo Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado da Paraíba (Sindalcool-PB), se integra a uma iniciativa nacional através da entidade Bioenergia Brasil.
De acordo com o presidente-executivo do Sindalcool-PB, Edmundo Barbosa, o MBCB é fruto de um trabalho que iniciou há cerca de cinco anos. Edmundo revela que, antes, havia pouco diálogo do setor de biocombustíveis com as montadoras e entidades como a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), cenário que mudou após participações dessas organizações em eventos da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) e da SAE Brasil, “a casa do conhecimento da mobilidade brasileira”.
“A cooperação da agroindústria dos biocombustíveis com a indústria automobilística é a essência da mudança cultural deste acordo, com tantos benefícios para o Brasil e para a meta do pleno emprego. A participação dos trabalhadores (da cadeia produtiva) neste acordo é também muito positiva e contribui para a participação nas decisões do Brasil da transição energética”, disse Edmundo.
O MBCB encomendou o Estudo inédito da LCA Consultores e MTempo Capital intitulado “Trajetórias Tecnológicas mais Eficientes para a Descarbonização da Mobilidade”.
O estudo examinou o panorama automotivo do Brasil até 2050, considerando a tendência global em direção aos veículos híbridos e elétricos. Os resultados indicam que os veículos híbridos estão emergindo como líderes em termos de impacto econômico positivo. A análise completa está disponível neste link.
As projeções sugerem que os veículos híbridos (HEV) superam os veículos elétricos (BEV) em produção, Produto Interno Bruto (PIB), criação de empregos e arrecadação de impostos. Espera-se um aumento significativo de 1.062.947 postos de trabalho no setor de transporte e um incremento projetado de R$ 877 bilhões no PIB em comparação com o cenário de controle (Status Quo), no qual não há mudanças estruturais na configuração atual dos veículos.
As análises indicam que a predominância de veículos totalmente elétricos pode acarretar perdas consideráveis para a economia brasileira, dado que esses veículos requerem menos componentes a serem produzidos localmente. No entanto, tais carros dependerão da importação de componentes estratégicos para suas baterias, como células de lítio e outros minerais, cuja produção é altamente concentrada em poucos países e em instalações industriais de grande escala, amplamente apoiadas pelos respectivos governos locais.
“Para a convergência global híbridos é apontado um crescimento da produção em bilhões de reais 3,5 vezes maior nos próximos anos até 2050. Na arrecadação de impostos, haverá nesse cenário uma previsão de 460 bilhões de reais e, o mais animador, é na análise do cenário dos empregos com geração maior que 14 milhões de empregos, quadro muito superior ao número de empregos do cenário global dos veículos elétricos. O estudo reflete a realidade que se observa na maioria dos municípios brasileiros em que o etanol e os demais biocombustíveis trouxeram vantagens e benefícios para toda população”, comenta Edmundo Barbosa.
Ainda no quesito híbridos, a plataforma Mobi Auto publicou que a consultoria Bright apresentou um cenário para 2030 resultante do que realmente pode acontecer entre fabricantes de veículos e autopeças, concessionárias, mobilidade como serviço (assinaturas e locações), além de processos de reciclagem. A matéria pode ser lida na íntegra aqui.
As três categorias de híbridos somadas – básicos (32,5%), plenos (10,4%) e plugáveis (5,6%) – dominariam as vendas de veículos leves com 48,5% do total daqui a seis anos. Elétricos ficariam apenas com 9,8% e os motores a combustão com os restantes 41,7%.
Para Edmundo Barbosa, neste momento histórico de convergência na indústria brasileira pela mobilidade de baixo carbono, há melhor compreensão sobre a importância de examinar integralmente o ciclo de vida do produto, desde a extração dos minérios utilizados em toda cadeia, passando pela fabricação de todos os componentes e do próprio veículo, geração e consumo de energia, uso da terra para a produção de biocombustíveis, até o descarte adequado dos produtos e materiais embarcados.
“A análise do ciclo de vida do berço ao túmulo é o principal ponto. O cenário de convergência híbridos é o que gera menores emissões de CO2 sob a hipótese de uso exclusivo de etanol. O fator de uso do etanol também é o principal na descarbonização da frota atual de veículos existentes cuja substituição se dará ano a ano”, afirmou Barbosa.