Os debates na TV, ainda mais no primeiro turno e com tantos participantes, costumam ser mais importantes por eventuais deslizes ou destemperos dos candidatos do que pela discussão de propostas ou desempenhos brilhantes. Salvo o último, tradicionalmente das TVs Paraíba e Cabo Branco, a poucos dias da eleição, a audiência é baixa, o horário ingrato. Pouca gente de fato vê, muitos eleitores recebem as informações pela repercussão dos portais, blogs e redes sociais.
Todavia, não se pode deixar de registrar o alto nível do debate da TV Manaíra, brilhantemente conduzido pela jornalista Cláudia Carvalho e organizado por Jailma Simone e um enorme time de jornalistas, sob o olhar atento do executivo Cacá Martins, diretor regional do grupo Opinião em todo o Nordeste.
Então, aqui vai uma análise do desempenho, sob o ponto de vista estratégico, de cada um dos sete participantes do primeiro debate desta campanha, nesse domingo (7) à noite, na TV Manaíra/ Bandeirantes.
O candidato do PL Nilvan Ferreira passou todo o debate centrando suas falas críticas contra o governador João Azevedo e o senador Veneziano Vital. Nitidamente poupando Pedro Cunha Lima, com quem, aliás, fez dobradinha em um dos blocos. Saiu-se bem, pois tem facilidade e domínio com o microfone, mas pecou ao não se aprofundar nas propostas apresentadas. Defendeu o presidente Bolsonaro quando debateu com o governador João Azevedo dizendo que o Capitão mandou R$ 1,7 bilhões para o Estado e prefeituras municipais evitando uma quebradeira nas contas do atual governador. Prometeu uma redução de impostos, recuperação do setor de mineração e foco na energia solar mas não conseguiu detalhar nenhuma das propostas. Seu maior pecado foi dizer que a Paraíba já tivera uma participação de 56% do PIB nacional e atualmente tem 43%, o que provocou gargalhada dos demais concorrentes.
O candidato do PSDB, Pedro Cunha Lima, demonstrou muita segurança e um domínio pleno dos números em todas as falas. Deu a entender que após o apoio ao candidato Ciro Gomes, do PDT, vai usar os bons exemplos dos índices da educação do Ceará para embalar melhor suas propostas na área de educação, sua principal bandeira. Num duelo direto com o governador João Azevedo, sacou uma afirmação de que a Paraíba aparece em 24ª posição no quesito transparência pública, obrigando João Azevedo a se enrolar e dizer que na verdade o Estado ocupa a terceira colocação, o que convenhamos, foi um blefe, e dos grandes. Em outro momento, lembrou que 603 mil paraibanos vivem com até R$ 89,00 por mês e somente a educação pode combater com eficiência essa desigualdade social. Foi justamente na educação onde ele mais fustigou o governo. Disse que viu merenda estragada numa escola em Assunção e lembrou que o teto caiu e feriu três alunos de uma escola em João pessoa. Prometeu também acabar com o modelo remoto nas escolas que não oferecem ainda condições dignas para os alunos estudarem. Ao ser questionado sobre segurança pública, deu um banho no governador João Azevedo. Disse que os crimes violentos letais e intencionais que vinham diminuindo nos últimos oito anos voltaram a aumentar, e os assaltos e roubos no comércio subiram 40% . Por fim, lembrou que a Paraíba já teve um efetivo nas polícias de 11 mil homens e mulheres e hoje tem 9 mil, o que mostra o descaso do governo pois, além de não fazer concurso, paga o pior salário do país.
O candidato do PDB, João Azevedo, começou bem leve o debate. Apenas ele e Adjany Simplício lembraram de cumprimentar com os parabéns a jornalista Cláudia Carvalho, aniversariante do dia. Tendo conhecimento de que seria atacado, buscou evitar ficar refém das perguntas para não tropeçar. No caso da derrota que a Cagepa teve para o município de Santa Rita, não quis comentar o assunto. Limitou-se a dizer que não iria privatizar a Companhia numa eventual reeleição. Ao ser questionado sobre um déficit de 120 mil moradias no estado, disse que criou um programa habitacional para quem ganha até três salário mínimos, mas perdeu a oportunidade de explicar se já entregou alguma unidade em seu governo. Saiu-se bem ao ser questionado por Pedro Cunha Lima sob a redução do duodécimo da Assembleia Legislativa e das altas verbas destinadas aos veículos de comunicação, limitando-se a dizer que são questões orçamentarias que precisam de muita responsabilidade, diálogo e jogo de cintura para resolver. Em alguns momentos, tentou ensaiar respostas mais contundentes, mas se perdia no tempo, como em relação ao suposto uso de orçamento secreto por parte de Pedro Cunha Lima no mandato de deputado federal. Num duelo com Nilvan Ferreira, disse que Bolsonaro só mandou R$ 300 milhões para cuidar da pandemia mas voltou a se atrapalhar com o relógio no segundo bloco e não conseguiu explicar com mais clareza a questão de recursos enviados pelo Governo Federal. No embate com Veneziano, saiu pela tangente quando foi indagado sobre quantas escolas havia entregue em sua gestão. Disse que tinha reformado 25 e transferido recursos para 62 municípios fazerem com suas próprias equipes. Perdeu a oportunidade de dizer pelo menos três obras. Também enrolou-se na explicação da quantidade de policiais e, ao ter o microfone cortado, deu a chance de Pedro sugerir que o telespectador buscasse no Google a informação verdadeira. Chamado até pelos nanicos de governador lento, não passou recibo em nenhum instante.
O candidato do MDB, Veneziano Vital, usou e abusou do fato de poder dizer que contará com o apoio de Lula na Presidência para ajudar a realizar seus projetos, caso seja eleito governador. Ainda pegando ritmo nos debates, não conseguiu detalhar alguns dos projetos apresentados, preferindo focar no “Paraíba sem Fome”, com uma proposta ousada de investir R$ 1 milhão por dia em restaurantes comunitários e cozinhas populares para matar a fome de muitos paraibanos. Comprometeu-se também em descentralizar os serviços da saúde com a a construção do Hospital de Trauma do Sertão e mais duas outras regiões, e ampliar a rede de maternidades. Seu ponto alto no debate foi quando emparedou o governador João Azevedo, perguntando sobre o número de escolas construídas em seu governo. Fugiu do blá, blá, blá de Nilvan Ferreira, que vez por outra insinuava uma relação com o governo João Azevedo, e manteve a política da boa vizinhança com os demais candidatos, especialmente Pedro Cunha Lima. Defendeu Ricardo Coutinho quando questionado, mas de forma inteligente, sem ampliar o tema e não cair na armadilha dos adversários.
Bem ao seu estilo falante, iniciou o debate prometendo criar um comitê de segurança diretamente ligado ao governador, com monitoramento, inclusive no campo. Criticou a lentidão do governo que inaugurou o Hospital do Bem e “só três anos depois comprou um tomógrafo”. Foi pra cima de Nilvan Ferreira, que disputa com ele no mesmo campo da direita deixando claro uma dor de cotovelo por ter um perfil mais à direita do que o candidato do PL que, segundo ele, sempre flertou com os movimentos de esquerda na Paraíba. Nos últimos blocos, Major Fábio abriu o verbo contra os demais demais candidatos, atirando em quase todos eles.
Bem no estilo alternativo do PSTU, criticou a segurança pública, o feminicídio e a morte de negros. Lembrou que o ICMS é um absurdo e tem aumentado desde 2019 no atual governo de João Azevedo. Lamentou a falta de políticas públicas nas áreas de educação, saúde e moradia e alfinetou as oligarquias paraibanas que se revezam no poder de pai para filho.
A candidata do PSOL Adjany Simplicio manteve sua postura de gentileza com todos os concorrentes sem deixar de apresentar suas propostas e ideias. Defendeu a autonomia financeiro do Estado, mas preservando de forma gradual as pessoas que ganham menos e buscando diminuir a desigualdade social. Fez questão de defender o governo da ex-presidente Dilma Roussef (PT) e dizer após do golpe a desigualdade social aumentou de forma exponencial.
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