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Com maior adesão, novos protestos contra Bolsonaro atraem milhares pelo país
19/06/2021 / 21:30
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(FOLHAPRESS) – Milhares de manifestantes se reuniram neste sábado (19) em diferentes cidades do país em protestos contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo organizadores, houve maior adesão em relação aos protestos de 29 de maio, também de oposição ao governo federal.

Os protestos nacionais são pelo impeachment do presidente, por mais vacinas contra a Covid-19 e por auxílio emergencial.

As manifestações ocorrem no mesmo dia em que o país chega a 500 mil mortos pela Covid. Na última semana, houve média de cerca de 2.000 mortos por dia pelo coronavírus Sars-CoV-2. A média diária de novos casos está em torno de 70 mil, o que deixa o atual momento entre os piores da pandemia.

Mesmo diante desse cenário, houve aglomeração de manifestantes em cidades como São Paulo e Rio, apesar das recomendações de organizadores pelo distanciamento social durante os atos. A grande maioria dos manifestantes usou máscaras, ao contrário do que ocorre em atos a favor do presidente.

Os atos foram convocados e apoiados por movimentos sociais, partidos políticos, centrais sindicais, entidades estudantis, torcidas organizadas e grupos envolvidos em causas como feminismo e antirracismo. A organização está centralizada no fórum Campanha Nacional Fora, Bolsonaro.

A quantidade de organizações que endossam a realização dos protestos e o número de cidades com atividades programadas cresceu em relação ao final de maio.

Segundo o fórum de organizadores, houve 427 atos em todo o Brasil, incluindo as 27 capitais, e em 17 países do exterior, com um público total de 750 mil pessoas.

No mês passado, ainda de acordo com a coordenação, houve no total 227 atos, distribuídos em 210 cidades no país e 14 cidades no exterior, com cerca de 420 mil pessoas.

De forma geral, nas grandes cidades, os organizadores contabilizaram público maior nas mobilizações deste sábado em comparação com os atos de 29 de maio.

Em Brasília, o ato foi maior do que o anterior, assim como no Rio, onde os organizadores estimam cerca de 70 mil pessoas no ato deste sábado, contra 50 mil na manifestação de 29 de maio. No Recife, mesmo sob chuva na manhã deste sábado, o evento atraiu mais gente do que o de maio.

Em São Paulo, onde o ato começou por volta das 16h na avenida Paulista, os organizadores comemoraram o aumento do público, estimado por eles em 100 mil pessoas, contra 80 mil na manifestação de maio. Ainda segundo o fórum, a manifestação ocupou 12 quarteirões, contra 10 na última vez.

Procurados pela reportagem, Policia Militar não estimou o número de manifestantes em São Paulo.

No último dia 12, no entanto, a Secretaria de Segurança Pública estimou a participação de 12 mil motos na motociata realizada em São Paulo em apoio a Bolsonaro. O sistema de pedágio da rodovia dos Bandeirantes, porém, contabilizou 6.661 motos no passeio.

Durante a concentração na avenida Paulista, em frente ao Masp, oradores convidavam os participantes a entoarem palavras de ordem como “mais vacina, menos cloroquina” e paródias como “Bolsonaro, eu não me engano, o seu governo é miliciano”.

A chegada à marca de 500 mil mortos era lembrada por cartazes expostos na via e empunhados por manifestantes. “Meio milhão de mortes é genocídio”, dizia um deles.

Neste sábado, Bolsonaro publicou um vídeo de apoio a policiais, mas não comentou as mortes ou os protestos.

Mais uma vez, como nos atos de 29 de maio, houve distribuição de máscaras PFF2, consideradas mais eficientes contra a transmissão do novo coronavírus. Também eram distribuídos adesivos estampados com a mensagem “Fora, Bolsonaro”.

Bandeiras de PT, PC do B, PCO, PCB, CUT (Central Única dos Trabalhadores), Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), UNE (União Nacional dos Estudantes) e CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) foram constantes nos atos.

Embora os protestos tenham como pauta o impeachment do presidente, ambulantes vendiam camisetas do ex-presidente Lula (PT) e faixas com a inscrição “Lula 2022”. Houve, ainda, pessoas usando máscaras personalizadas com o nome do petista. Lula cogitou participar dos atos deste sábado, mas no fim decidiu não comparecer.

Parlamentares e políticos de oposição estiveram presentes nas capitais. Em discurso durante o ato em São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) chamou Bolsonaro de verme e provocou o governador paulista, João Doria (PSDB), a pautar o impeachment entre seus correligionários.

“Bolsonaro está aí para a cumplicidade dessa burguesia, que não tem coragem de pautar o impeachment. Que é o que o Doria devia estar fazendo, ao invés de ficar criticando o Bolsonaro”, disse. “Era pedir pro PSDB pautar o impeachment, porque só o impeachment vai salvar a democracia, só o impeachment vai salvar as vidas.”

Haddad lamentou as 500 mil mortes em decorrência da Covid-19 no país e afirmou que mais 200 mil pessoas devem ser vitimadas pelo vírus se Bolsonaro não for retirado da Presidência.

“Um ano atrás, quando começou a crise sanitária, quando começou a Covid-19 e o Bolsonaro começou a tomar medidas contra o trabalhador, eu fiz uma mensagem dizendo que mais difícil que enfrentar o vírus, era enfrentar o vírus e o verme simultaneamente.”

“Estava na cara que esse sujeito não ia dar a menor bola pro sofrimento da população, estava na cara que ele não ia seguir nenhuma recomendação da ciência, nenhuma recomendação do Ministério da Saúde. Ele ficou com a palhaçada de falar em tratamento precoce, em aglomerar as pessoas, em condenar o uso da máscara, em chamar de marica quem se cuidava. E o resultado está aí, 500 mil mortes oficiais por conta de um genocida que está no poder”, seguiu.

Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL ao Governo de São Paulo, também discursou na avenida Paulista. “No dia 29, a gente lotou essa avenida e cidades de todo o Brasil para dizer que a gente não vai esperar sentado até 2022. A gente não vai esperar passivamente, vendo nosso povo morrer. Hoje está maior ainda”, disse.

Boulos criticou a medida provisória que abre caminho para a privatização da Eletrobras, aprovada pelo Senado na quinta (17) —“vai deixar a conta mais cara e atacar a nossa soberania energética”— e chamou de “cortina de fumaça” a agenda bolsonarista em defesa do voto impresso.

“Quando [Bolsonaro] vem dizer que se não for do jeito dele, vai ter convulsão, o povo vai pra rua… Bolsonaro, vamos passar um recado para você aqui na avenida Paulista: o povo já está na rua e é contra o seu governo”, disse.

Em São Paulo, os manifestantes se deslocaram pela av. Paulista e pela rua da Consolação, rumo à praça Roosevelt, no centro. No trajeto, uma agência do banco Itaú teve o vidro quebrado e foi feita a inscrição “fora, milicos” com tinta spray, além dos símbolos dos movimentos feminista e antifascista.

Outras lojas também foram pichadas. Os manifestantes ainda incendiaram sacos de lixo e pedaços de madeira.

Durante a caminhada, um carro do Sindicato dos Radialistas do estado de São Paulo reproduziu a música “Apesar de Você”, de Chico Buarque, que foi celebrada pelas pessoas que estavam próximas ao veículo. Diversas barracas vendiam churrasco em espeto aos participantes.

Na capital federal e no Rio, manifestantes incluíram na pauta dos atos protesto contra a privatização da Eletrobras, que deve ser aprovada na Câmara no início da próxima semana.

Em Brasília, o ato contou com uma carreata que percorreu algumas vias principais da cidade até a concentração para uma passeata. Indígenas de várias partes do país também se juntaram aos manifestantes para condenar a omissão do governo na proteção desses povos na pandemia e também em protesto contra a mudança na demarcação de terras.

Ao contrário dos atos em favor do governo, os manifestantes não foram autorizados a descer para a praça dos Três Poderes e se concentram no gramado em frente ao Congresso Nacional.

O evento no DF colocou no mesmo carro de som parlamentares de diversos partidos de esquerda.

Discursam com palavras duras contra o presidente, especialmente condenando a condução no enfrentamento da pandemia e o autoritarismo do governo, parlamentares como os deputados federais Talíria Petrone (PSOL-RJ) e Pedro Uczai (PT-SC) e o deputado distrital Leandro Grass (Rede).

Mais à direita no espectro político, o presidente do Cidadania, Roberto Feire, postou imagens nas redes sociais da sua participação no ato deste sábado em Brasília.

No Recife, o ato também uniu representantes de partidos à esquerda que disputam espaço na corrida eleitoral de 2022, como PT e PDT. O estado e a cidade são governados pelo PSB, que também teve representantes no protesto.

No ato anterior, no dia 29 de maio, a Polícia Militar de Pernambuco atacou violentamente as pessoas que protestavam pacificamente contra o governo federal.

Diante do desgaste político, o governo estadual escalou agentes de conciliação para evitar qualquer tipo de animosidade entre polícia e manifestantes. Poucos policiais militares acompanharam os manifestantes à distância.

Os manifestantes tentaram cumprir normas de distanciamento social e se organizaram em três grandes filas. Em megafones, pessoas da organização do ato alertavam para a necessidade de manter o distanciamento e usar o equipamento de proteção.

O Ministério Público de Pernambuco, baseado em decreto estadual que proíbe a realização de eventos públicos e privados para evitar aglomerações, expediu recomendação para que o protesto não fosse realizado.

Em Maceió, a manifestação se concentrou na praça Centenário, no bairro do Farol, e seguiu pela avenida Fernandes Lima. Também ocorreram protestos em Aracaju, Belém, João Pessoa, São Luís e Teresina.

Fora do país, houve manifestações em cidades dos Estados Unidos e em Portugal.

A recomendação dos organizadores dos atos deste sábado era para que todos os usassem máscara (preferencialmente do tipo PFF2), se possível levem máscaras para doação, carreguem álcool em gel e mantenham o distanciamento social. Nos protestos de maio, as orientações foram seguidas, mas houve registros de aglomerações.

No sábado passado, Bolsonaro participou na capital paulista de um passeio de moto com apoiadores, depois de eventos semelhantes em Brasília e no Rio.

O presidente e auxiliares foram multados pelo governo João Doria por não usarem máscara contra a Covid-19 no evento. Motociclistas simpatizantes do governo também deixaram de usar a proteção facial —item que os protestos da oposição dizem diferenciá-los em relação aos dos bolsonaristas.

A Campanha Fora, Bolsonaro é composta por frentes como a Povo sem Medo, a Brasil Popular e a Coalizão Negra por Direitos, que reúnem centenas de entidades, entre elas MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), UNE (União Nacional dos Estudantes), CMP (Central de Movimentos Populares) e Uneafro Brasil.

Partidos de esquerda como PT, PSOL e PC do B também integram a campanha. O PT, que apoiou com mais afinco na véspera o ato anterior, desta vez decidiu entrar para valer na mobilização.

PSOL, PC do B, PCB, UP, PCO e PSTU, que já estavam participando ativamente da articulação, continuam envolvidas. Além disso, outros partidos anunciaram apoio à iniciativa.

Siglas como PSB, PDT e Rede Sustentabilidade adotaram, institucionalmente, posição mais cautelosa —dizendo que não estimulam a formação de aglomerações—, mas sem proibir a presença de seus quadros. Com isso, núcleos e seções regionais desses três partidos decidiram se juntar às manifestações.

Partidos de oposição a Bolsonaro mais à direita ignoraram o tema ou simplesmente deixaram a decisão a critério de cada filiado ou corrente interna.

Bolsonaro minimizou o impacto das marchas contra ele em maio e lançou mão de uma estratégia para tachar a iniciativa como evento de campanha de Lula. O adversário, que não esteve presente, lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições de 2022.

Fora do ambiente partidário, a mobilização somou a adesão das dez principais centrais sindicais, que ficaram reticentes da outra vez, muito pela pressão de categorias profissionais que demonstraram preocupação com a incoerência de se juntar às multidões e defender o distanciamento social.

Na semana passada, o apoio às manifestações foi deliberado em um fórum das centrais, que inclui CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), entre outras.

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que em maio preferiu manter discrição na fase de preparação dos atos, desta vez incentiva a participação de seus integrantes.

O movimento Acredito, que prega renovação política e está posicionado mais ao centro, também se integrou à organização dos protestos. Já MBL (Movimento Brasil Livre) e VPR (Vem Pra Rua), que levaram a direita às ruas contra governos do PT e hoje se opõem a Bolsonaro, mantiveram distância.

Ativistas envolvidos na convocação deste sábado dizem que a chegada de novas forças e a esperada adesão de mais manifestantes se devem à crescente insatisfação com o governo Bolsonaro, mas também ao clima pacífico e organizado e às precauções sanitárias do protesto anterior.

Promover atos de rua em um cenário de descontrole da Covid foi um dilema que provocou debate em setores da esquerda nos últimos meses, mas a divergência de opiniões foi superada com as convocações para o dia 29 que atraíram milhares de pessoas em cidades do Brasil e de outros países.

O racha foi contornado diante do diagnóstico, feito por líderes do chamado campo progressista, de que solucionar as crises sanitária, econômica, institucional e política é inviável com Bolsonaro no poder.

O CAMINHO DO IMPEACHMENT

– O presidente da Câmara dos Deputados é o responsável por analisar pedidos de impeachment do presidente da República e encaminhá-los

– O atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é aliado de Jair Bolsonaro. Ele pode decidir sozinho o destino dos pedidos e não tem prazo para fazê-lo

– Nos casos encaminhados, o mérito da denúncia deve ser analisado por uma comissão especial e depois pelo plenário da Câmara. São necessários os votos de pelo menos 342 dos 513 deputados para autorizar o Senado a abrir o processo

– Iniciado o processo pelo Senado, o presidente é afastado do cargo até a conclusão do julgamento e é substituído pelo vice. Se for condenado por pelo menos 54 dos 81 senadores, perde o mandato

– Os sete presidentes eleitos após a redemocratização do país foram alvo de pedidos de impeachment. Dois foram processados e afastados: Fernando Collor (1992), que renunciou antes da decisão final do Senado, e Dilma Rousseff (2016)