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Os pais podem ser culpados por comportamento violento dos filhos, avalia psicóloga
20/03/2022 / 15:37
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“Me sentia pressionado por precisar realizar atividades de casa como forrar a cama e lavar a louça e também porque eles estavam sempre me cobrando boas notas na escola e culpando o jogo virtual por isso”. Essa foi a explicação dada por um adolescente de 13 anos, apreendido na noite de sábado(19), suspeito de matar a mãe, o irmão de 7 anos e ferir o pai com um tiro que atingiu o tórax. O caso aconteceu na cidade de Patos, sertão da Paraíba e está sendo investigado pela Polícia Civil. Mas o que pode levar um adolescente a assassinar a própria família?

O Portal F5 Online conversou com a psicóloga Josenilda Avelino em busca de respostas sobre as fragilidades emocionais que motivam um crime dessa natureza. Segundo a psicóloga nenhuma motivação para qualquer crime é igual. Cada crime, assim como cada sintoma tem um significado. Ela explica que os filhos dão algum tipo de sinal de psicopatia entre a infância e a adolescência, a exemplo de “aquelas crianças que mentem muito, que nunca parecem sentir culpa por algo de errado que possa ter feito, crianças egoístas que sofrem e praticam bullying e se isolam das demais, ou aquelas que demonstram personalidade dupla na ausência dos pais”.

São diversas as motivações para o cometimento de crimes, alinhados à sua história, qualidade dos laços sociais e familiares. Josenilda Avelino reforça ainda que os pais muitas vezes pecam quando vão ‘corrigir’ os filhos de algo ‘errado’ que possam ter feito e isso tem se tornado cada vez mais comum. “Eles punem colocando de castigo em um quarto, batem na criança na frente dos outros, agridem verbalmente”, destacou.

E quando o rompimento afetivo entre pais e filhos contribui para práticas extremas de violência ao ponto de chegar a assassinatos, como aconteceu na cidade de Patos? Josenilda Avelino é enfática: a negligência dos pais é o principal fator. “Muitos pais se vêem frequentemente lutando contra a culpa quando aceleram a rotina da hora de dormir para voltar ao seu computador, ou quando um compromisso do trabalho significa que ela vai chegar tarde para pegar suas crianças na escola, mas essa ‘negligência’ existe e tem se tornado comum, muitos pais trabalham o dia inteiro e colocam os filhos no integral sem entender que isso os afasta cada vez mais dos filhos”, afirma.

Segundo a psicóloga, é preciso ainda analisar também se houve afeto para saber se há rompimento. Em alguns casos sequer houve algum envolvimento de amor e afetividade na relação familiar.

Os prejuízos quando há na falta de laços afetivos no contexto familiar

A psicóloga Josenilda Avelino esclarece que laços familiares superficiais e pouco afetivos, além de privações emocionais, presença de violência familiar velada, tentativas de fuga de conflitos familiares, isolamento e até mesmo admiração por armas em casa são algumas das características que podem favorecer o desenvolvimento de personalidades com algum grau de psicopatia.

No caso que motivou essa reportagem, o adolescente de 13 anos teria esperado o pai sair de casa —um sargento da polícia—, para pegar a arma do pai e executar a mãe e o irmão mais novo. O fato pode estar alinhado a outras motivações, como financeiras e mesmo por ódio acentuado ou traumas que podem estar associados ao fato do adolescente saber que pode não haver punição, visto que ele não pode ser julgado como criminoso, esclarece a psicóloga.

O que a ciência já revelou sobre esse tipo de crime?

O parricídio e o matricídio são crimes relativamente comuns na história. Descritas em obras importantes e universalmente conhecidas, como Édipo Rei (Sófocles), os irmãos Karamázov (Dostoiévski), Orestéia (Ésquilo), nos estudos de Michel Foucault como a análise do caso Pichon Riviere bem como em textos importantes de Freud. Quando há rompimento afetivo, estes podem ocorrer pela morte de um dos pais, mudanças no estilo familiar, ou mesmo as interações afetivas inexistentes.

Qual o tipo de tratamento é indicado para parricidas?  

A psicóloga Josenilda Avelino diz que é preciso perceber se a criança ou adolescente anda estressado ou mesmo perturbado e orienta que o melhor a fazer é procurar um profissional para que a criança possa ser assistida, de modo que casos como este que aconteceu em Patos possam ser evitados.

“A psicoterapia pode prevenir tal situação ou pode ajudar a refazer situações de violência, muito embora em alguns casos seja impossível refazer esses laços familiares uma vez que eles já estão fragilizados”, disse.

A psicologia, a psicanálise, a psiquiatria entre outras áreas da ciência têm se debruçado ao estudo das motivações do parricídio há muito tempo, mas nenhum deles conseguiu explicar. Por fazer parte de construções muito primitivas do nosso psiquismo, como é evidenciada na literatura Freudiana, matar os pais fica cada vez mais envolvido no mistério e busca por explicações, o que desperta tanto interesse das pessoas, como no caso de Suzane Richthofen. Há quase 20 anos o brasileiro tenta entender as motivações do crime. Amor? Liberdade? Vingança? Herança? Ódio?