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Tecnologia e inovação: A vida imitando a arte
05/06/2023 / 18:04
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A ficção científica tem um histórico impressionante de prever e inspirar inovações tecnológicas que mais tarde se tornam realidade. Seja em filmes, livros ou até em desenhos animados, como os Jetsons, para citar o exemplo mais óbvio, coisas, objetos, tecnologias, enfim, que já pareceram impossíveis passam a fazer parte do nosso dia a dia, provocando rápido esquecimento de como era a vida sem aquela tecnologia, principalmente as inovações digitais que usamos o tempo todo.

Querendo fugir um pouco do tema inteligência artificial, que trago recorrentemente neste espaço dominical e revendo listas de links de conteúdos que separo para posterior leitura e inspiração, parei na entrevista concedida pelo autor do romance Snow Crash, Neal Stephenson, ao jornalista Tim Bradshaw, do inglês Financial Times, um dos principais jornais financeiros e de negócios do mundo.

O livro, publicado em 1992 e eleito um dos 100 melhores romances em língua inglesa pela revista Time, antecipou uma lista grande de tecnologias em um futuro distópico em que as pessoas se refugiam da realidade em um mundo virtual chamado metaverso (com “m” minúsculo porque aqui se trata de conceito e não a marca, o brand). Os conceitos introduzidos por Stephenson, como criptomoedas, assistentes de voz, avatares, óculos de realidade virtual e jogos online massivamente multiplayer, agora fazem parte de nossa experiência cotidiana.

O autor, por isso, é considerado um visionário  e a entrevista mostra as suas perspectivas sobre o desenvolvimento e a evolução do conceito do metaverso, plataforma que existe hoje e que vem sendo questionada recorrentemente, a ponto de alguns especialistas vaticinarem seu fim, o que o autor não concorda.

Resumidamente, Neal Stephenson afirma que a indústria de jogos desempenhará um papel fundamental na construção plena do metaverso, sendo um verdadeiro motor econômico e tecnológico que impulsionará ainda mais sua evolução e adoção por outras indústrias, como a da saúde, por exemplo. Aí que mora a beleza da coisa. É muito interessante pensar nessa tangência de mercados tão distintos.

Os jogos multiplayer online, para quem não está muito ligado no universo gamer, têm proporcionado às pessoas a experiência de se movimentarem em espaços tridimensionais compartilhados, o que é uma das ideias fundamentais do metaverso.

Como não poderia ser diferente, o autor foi indagado sobre inteligência artificial (IA), assunto mais quente dos últimos tempos e com temperatura só subindo, Stephenson acredita que é importante dar tempo para que essa tecnologia se desenvolva adequadamente. Enquanto o hype em torno da IA está em alta, o autor lembrou que toda a engenharia envolvida requer tempo e não deve ser pressionada por essa badalação, digamos assim. Usando como exemplo a gigantesca oferta de imagens geradas por IA, ele resume em uma frase e de forma genial sua preocupação com a questão tempo envolvida: “a escassez impulsiona a qualidade e a arte”. Portanto, concluiu o visionário autor, é essencial encontrar um equilíbrio entre a capacidade de criação e a escassez para garantir experiências significativas dentro do metaverso.

A visão de Stephenson sobre o metaverso, apresentada no livro “Snow Crash” há mais de três décadas, agora está começando a se tornar uma realidade, num movimento transformador sem precedentes e que todos nós já estamos sentindo e vivenciando. Tanto que ele mesmo, o autor, está envolvido nesse tsunami de inovações que estão chegando. Depois de passar alguns anos no empreendimento de  de foguetes de Jeff Bezos, Blue Origin, Stephenson ingressou na Magic Leap, uma startup de realidade virtual e, ano passado, fundou a Lamina1, uma empresa que usa a tecnologia blockchain para construir um metaverso “aberto e expansivo” nas linhas que o autor imaginou 30 anos antes em seu romance. Não é fascinante perceber como a vida imita a arte?

Para continuar usando como pano de fundo arte e vida, vou concluir essa reflexão de hoje repetindo uma das perguntas feitas a Neal Stephenson pelo jornalista Tim Bradshaw:

 

“Tim: Então, você não está pensando em usar o ChatGPT como co-piloto para escrever seu próximo romance?

Neal  Stephenson: Minha teoria é que quando experimentamos a arte – seja um videogame, uma pintura de Da Vinci ou um filme – estamos tomando um grande número de micro decisões que foram feitas pelos artistas por motivos particulares. Dessa forma, estamos nos comunicando com esses artistas, e isso é muito importante. Algo gerado por IA pode parecer comparável a algo produzido por um ser humano, e é por isso que as pessoas estão tão empolgadas. Mas você não está tendo essa consciência de se comunicar com o criador. Remova isso e é oco e desinteressante.” Será?