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Liderança e comunicação eficiente
23/10/2023 / 07:20
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Neste final de semana li o ótimo livro de Henry Kissinger, Liderança – Seis estudos sobre estratégia (2022). Kissinger foi professor de Harvard, diplomata, especialista em geopolítica, Secretário de Estado e Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos. No livro ele estuda a trajetória de seis líderes políticos – Kontad Adenauer, De Gaulle, Nixon, Adwar Sadat, Lee Kuan Yes e Thatcher – que conheceu e/ou com quem trabalhou e, desta experiência, extraiu a base de suas reflexões sobre o que faz de alguém um verdadeiro líder. Neste artigo, destaco a importância da comunicação eficiente como um dos atributos essenciais para a liderança.

Kissinger escreve que bons líderes despertam no povo um desejo de caminhar ao seu lado:

“Para que as estratégias inspirem a sociedade, os líderes devem ser educadores – comunicando objetivos, dirimindo dúvidas e angariando apoio.”        

Esta passagem revela a importância da comunicação para a liderança e destaca o caráter didático que ela precisa ter – ser simples e direta. Para Kissinger, a comunicação é um atributo essencial da liderança, necessária para inspirar e mobilizar a sociedade. A comunicação partilha e compartilha os objetivos, esclarece dúvidas dos cidadãos (em geral desinformados e desinteressados na maior parte dos assuntos públicos) e persuade para conquistar apoio e adesão.

Alguns atributos da comunicação eficiente não estão na obra de Kissinger, mas são também essenciais ao líder-comunicador.

Um líder deve garantir que foi realmente compreendido. Assegurar-se que não existe nenhuma distorção, nenhuma dissonância, entre o que se queria comunicar e o que foi compreendido pelas pessoas. Isso evita o surgimento de ruídos na comunicação.

Para que as mensagens sejam fixadas, precisam ser repetidas – quantas vezes for necessário para que o conceito fique na memória do público-alvo.

Outra base da liderança é a capacidade de se ter uma escuta social atenta. Saber ouvir o outro, compreender suas necessidades, seus desejos e suas expectativas.

Para isso é essencial manter um canal de diálogo aberto, uma via de mão dupla, que garanta esta escuta atenta. Líderes modernos e eficientes, se estão no governo, mantêm ouvidorias ativas e incentivam a participação popular através de conselhos e de canais abertos de comunicação para sugestões, críticas e reclamações.

Byung-Chul Han em Infocracia, fala da “crise da escuta atenta” na democracia. Diz o autor coreano:

“A atomização e a narcisização crescente da sociedade nos ensurdeceram perante a voz do outro. Levam igualmente a perda da empatia. Hoje, cada um presta homenagem ao culto de si mesmo. Cada um performa e se produz. Não é a personalização algorítmica da rede, mas o desaparecimento do outro, a incapacidade de ouvir atentamente, que é responsável pela crise da democracia.”   

Ou seja, mesmo na sociedade da economia da atenção e da visibilidade em que a capacidade de escutar o outro está cada vez menor, é necessário que o líder construa mecanismos para promover esta escuta atenta, ainda que seja através de pesquisas de opinião pública feitas com regularidade ou através do monitoramento sistemático das interações dos internautas nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens.

Voltando a obra de Kissinger, o autor fala que um dos grandes desafios (ou atributos) do líder é a capacidade analítica, uma avaliação realista da sociedade em que vive, sua história, seus costumes e suas potencialidades. Líderes precisam ter visão, percepção penetrante da realidade para distinguir o que é o mais importante. Separar o que é significativo do que é ordinário, para definir prioridades.

Contudo aqui retorna a questão da comunicação, as prioridades precisam ser construídas e compartilhadas com a sociedade e seus grupos organizados. Líderes que não são capazes de escutar e de compartilhar objetivos não terão vida pública longa.

Segundo Kissinger, líderes precisam conseguir equilibrar seu conhecimento sobre as experiências do passado (conhecer a história para saber o que já foi feito, o que deu certo e o que deu errado, para não repetir os mesmos erros) e tomar decisões com base em informações imperfeitas ou incompletas sobre o que poderá acontecer no futuro.

“Os eventos com frequência ocorrem rápido demais para permitir um cálculo preciso:               os líderes têm de chegar a um parecer com base em uma intuição e hipóteses que não podem ser comprovadas no momento da decisão.”

Os líderes inevitavelmente enfrentam um desafio implacável: impedir que as exigências do presente oprimam o futuro. Líderes comuns procuram apenas gerenciar o momento imediato e ficam presos as circunstâncias impostas pela realidade: grandes líderes (os verdadeiros estadistas) tentam elevar a sociedade à altura de suas visões, manipulando as condições que lhe são impostas e alargando as possibilidades.

Kissinger fala que liderar não é uma ciência e muito se assemelha a uma arte. Para liderar é muito importante a intuição. E é esta percepção intuitiva da direção é o que possibilita ao líder estabelecer objetivos e delinear uma estratégia.

Líderes são, portanto, aqueles que apontam o caminho. E comunicam este caminho escolhido para a sociedade.

Lendo a obra de Henry Kissinger, chego à conclusão que tivemos no Brasil alguns líderes políticos com grande capacidade de comunicação, que conseguiram efetivamente despertar no povo um desejo de caminhar ao seu lado. Contudo, é muito mais difícil encontrar em nossa história os grandes estadistas, aqueles que:

“(…) fazem a diferença por transcender as circunstâncias herdades e, desse modo, transportar suas sociedades às fronteiras do possível”.

 

*RODRIGO MENDES é estrategista de marketing e comunicação pública com 25 anos de experiência. Publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política, coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições e lideranças.