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Publicitário diz ter sido pago para fazer pergunta combinada a Bolsonaro quando presidente atacou TV Globo
20/09/2022 / 08:53
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Em uma entrevista para o Fantástico exibida no dia 12 de abril de 2020, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta defendia um alinhamento de discursos dentro do governo em relação à pandemia. Isso porque o brasileiro não estava sabendo se escutava o ministro da Saúde ou o presidente.

Mandetta pregava posições mais alinhadas às autoridades sanitárias, no sentido de restrição do contato social e pelo uso de máscaras. Já o presidente Jair Bolsonaro (PL) era contra o isolamento social e o fechamento do comércio.

Um dia depois, em 13 de abril de 2020, na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro parou para conversar com apoiadores e foi perguntado por um deles se teria assistido na véspera a entrevista de Mandetta ao Fantástico. O presidente respondeu de pronto: “Eu não assisto a Globo”.

A cena, que viralizou nas redes, foi combinada previamente entre o governo federal e o site bolsonarista Foco do Brasil, afirma o publicitário Beto Viana. Naquele dia, ele figurava como apoiador do presidente e foi o responsável por fazer a pergunta.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Viana conta que havia sido indicado por um amigo e contratado, por telefone, por uma pessoa de nome Anderson, do Foco do Brasil, canal bolsonarista criado por Anderson Azevedo Rossi, com 2,9 milhões de inscritos no Youtube.

Ele relata que Anderson o questionou se ele tinha coragem de fazer uma pergunta ao presidente. “Aí ele falou: ‘Eu vou mandar a pergunta aí no WhatsApp e você faz essa pergunta pra ele. Se qualquer outro apoiador for falar com o presidente, você corta porque o presidente está esperando essa pergunta sua. Aí ele mandou o texto do jeitinho que era pra eu falar.”

Mensagens no celular do publicitário mostram mensagens da mesma data recebidas pelo  contato de nome “Anderson Foco do Brasil”.


Mensagens indicam uso de falso apoiador para fazer pergunta ensaiada a Bolsonaro durante a pandemia da Covid – Reprodução

“Eu fiquei até meio sem graça porque imaginei que ele ia falar alguma coisa, falar da entrevista e tal, porque, no meu ponto [de vista], seria uma pergunta de imprensa, mas era uma pergunta para ele poder ‘mitar’. Aí ele ‘mitou”’, diz Viana.

Naquele mesmo dia, às 10h, o fotógrafo recebeu uma TED de R$ 1.100 transferido da conta da “Folha do Brasil Negócios Digitais”, antigo nome do Foco do Brasil. Segundo ele, a informação foi a de que era um adiantamento de seu salário mensal, de R$ 2.000.

O publicitário, que hoje trabalha como motorista de aplicativo, afirma que continuou indo ao cercadinho e foi orientado a não fazer mais perguntas e só figurar como apoiador.

Após alguns dias, ele relata que Anderson disse que o vídeo havia viralizado e ele estaria muito visado, razão pela qual ele seria deslocado para fazer imagens de manifestações bolsonaristas na Esplanada dos Ministérios. Cerca de um mês depois, foi dispensado.

Viana diz que nos dias em que ficou no Alvorada, foi abordado algumas vezes por seguranças, mas que outros liberaram seu acesso dizendo frases como “esse é dos nossos”.

O publicitário Beto Viana – Gabriela Biló /Folhapress

Endereços do Foco do Brasil foram alvos de busca e apreensão da Polícia Federal cerca de dois meses e meio depois, em julho de 2020, no âmbito da investigação dos atos antidemocráticos organizados por bolsonaristas.

A investigação indicou como era a relação de páginas, sites e perfis bolsonaristas com o governo na tentativa de disseminar notícias de interesse do grupo político do presidente.

Inicialmente solicitada pela Procuradoria-Geral da República, a investigação teve pedido de arquivamento feito pelo gabinete de Augusto Aras após se aproximar do núcleo mais próximo de Bolsonaro.

Após isso, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), utilizou o material reunido pela PF para abrir outro inquérito, batizado de milícias digitais. Atualmente, a apuração concentra todos os casos sobre fake news e atos antidemocráticos.

F5 Online com informações da Folha de S. Paulo