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‘Esquerda precisa de um pastor carismático que mostre que é possível ser evangélico e petista’, reflete cientista político
29/10/2024 / 20:28
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Reeleito em Recife, João Campos (PSB) é a principal nova liderança da esquerda, diz o professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas, Jairo Nicolau – Crédito: Nadja Kouchi/TV Cultura

As eleições municipais mostraram um PL forte nas grandes cidades, mas com dificuldades de vencer as diputas de segundo turno, evidenciando os limites de uma direita mais radical, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, analisa o cientista político Jairo Nicolau, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas, em entrevista à BBC News Brasil.

A grande vitoriosa de 2024, continua, foi a direita moderada, enquanto o PT, mais uma vez, mostrou dificuldades em construir jovens lideranças.

Na sua visão, a recuperação lenta da sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ocorre por falta de propostas e ideias, mas pela ausência de novos quadros que cativem o eleitor.

“A direita está se renovando. O PT precisa se modernizar internamente e formar líderes. Essa é a minha ideia, diferente desse negócio de fazer documento [com novas propostas], chamar intelectual para conversar, ouvir pastores”, afirma Nicolau.

“Não, [a esquerda] precisa de um pastor carismático petista, que seja querido na comunidade evangélica e mostre que você pode ser evangélico e petista, que a vida vai bem”, reforça.

O PT venceu em 252 municípios em 2024, uma alta em relação a 2020 (182), mas ainda longe do recorde de 2012 (624). E conquistou apenas uma capital, em vitória apertadíssima de Evandro Leitão sobre o bolsonarista André Fernandes (PL) no segundo turno.

Em contraste, o PL fechou essa eleição conquistando o maior número de grandes cidades (aquelas com mais de 200 mil eleitores, em que pode haver segundo turno): foram 16 municípios, sendo quatro capitais — Maceió (AL), Rio Branco (AC), em Cuiabá (MT), e Aracaju (SE).

A sigla, no entanto, acumulou derrotas no round final da disputa municipal. O partido só levou seis das 22 cidades em que disputava o segundo turno.

Jovens expoentes do bolsonarismo, como Bruno Engler, em Belo Horizonte, e André Fernandes, em Fortaleza, tiveram votações expressivas, mas não foram capazes de atrair a maioria do eleitorado.

Para Nicolau, esses resultados mostram uma rejeição da maioria do eleitorado a candidatos de direita com discurso mais ideológico, em uma eleição que o foco estava em questões locais de cada cidade.

Na sua leitura, a tendência da próxima eleição nacional, em 2026, quando o Brasil elegerá governadores e o presidente da República, é que os candidatos moderem seu discurso nas disputas de segundo turno.

Para Nicolau, a vitória de Bolsonaro em 2018, quando o agora ex-presidente foi eleito sem suavizar suas ideias radicais, foi atípica e não deve se repetir.

“O Bolsonaro [eleito em 2018] é uma exceção e, talvez, tenha criado a ilusão de que a radicalização leva à vitória numa eleição”, disse, ao comentar a atuação de candidatos aliados ao ex-presidente, como Cristina Graeml (PMB), que manteve o discurso fortemente bolsonarista na reta final da disputa e perdeu para Eduardo Pimentel (PSD).

Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à BBC News Brasil, editada por razões de concisão e clareza.

BBC News Brasil – Candidatos do PL tiveram bom desempenho em grandes cidades no primeiro turno, mas o partido perdeu quase todas as capitais que disputava no segundo, principalmente para outros candidatos de direita ou da centro-direita. Isso evidencia os limites do bolsonarismo?

Jairo Nicolau – Eu gosto de trabalhar com os resultados das eleições para as câmaras municipais. Esse dado captura melhor o enraizamento, o espraiamento dos partidos pelo território.

Por esse critério, o PL foi um dos partidos que mais cresceram. É, claro, na última eleição municipal, eles não tinham ainda recebido a migração da família Bolsonaro [ocorrida no final de 2021] e dos políticos mais próximos ao Bolsonaro.

Mas o que mais me surpreendeu foi o desempenho do PL nas grandes cidades. O PL é o partido mais votado para as câmaras municipais das cidades com mais de 500 mil habitantes. Ele praticamente empata com o PSD nas cidades entre 100 mil e 200 mil habitantes.

Então, é um partido que sai das urnas muito bem no primeiro turno. Ainda não vi os números fechados após o segundo turno, mas o PL, certamente, ficou entre os três partidos com mais prefeituras nas grandes cidades [o PL é o partido que comandará mais cidades com mais de 200 mil eleitores, com 16 prefeituras, seguido de PSD, com 15].

Agora, o que você chamou atenção é muito importante. São derrotas fortes [nas capitais no segundo turno], em cidades em que os candidatos eram lideranças emergentes, como Belo Horizonte [em que Fuad Noman, do PSD, derrotou Bruno Engler] e Fortaleza [em que Evandro Leitão, do PT, venceu André Fernandes]. Em Curitiba, Cristina [Graeml, do PMB, que perdeu para Eduardo Pimentel, do PSD] não era do PL, mas era uma figura ligada ao mundo bolsonarista. E isso chama atenção: a derrota desses candidatos, na média, mais jovens e mais radicais politicamente.

BBC News Brasil – Isso mostra um limite para candidaturas mais radicalizadas?

Jairo Nicolau – É cedo pra fazer uma generalização, eu não acompanhei no detalhe todas as disputas, mas vi que alguns desses candidatos radicalizaram em questões comportamentais, morais, na última semana.

Isso aconteceu em Belo Horizonte, em Fortaleza, em Curitiba. Uma mobilização de temas de família e acusações pessoais aos outro candidatos, mobilizando discursos que ficaram muito vinculados à direita nos últimos anos. É um erro de estratégia que, nos anos 90, muitas vezes a esquerda cometeu [ao não moderar suas pautas].

Essa é décima eleição municipal depois que a nova Constituição foi aprovada. Os eleitores vão aprendendo que querem um gestor das questões da cidade.

Eu não vi nenhum candidato radicalíssimo, que foi pro segundo turno, ganhar a eleição, seja pela direita ou pela esquerda, porque a eleição no segundo turno, salvo algumas exceções, e uma delas foi justamente o Jair Bolsonaro em 2018, é uma eleição [que o candidato se move para o centro]…

Dificilmente você conquista uma vitória radicalizando como candidatos da direita bolsonarista fizeram.

E alguns candidatos de esquerda, não é que eles radicalizaram [nesta eleição], eles fizeram um movimento para o centro, mas não deu, como o caso da Maria do Rosário [petista que perdeu em Porto Alegre para Sebastião Melo, do MDB] e do Guilherme Boulos [do PSOL, que perdeu para Ricardo Nunes, do MDB, em São Paulo].

São cidades que têm uma rejeição à esquerda forte. É uma dificuldade vencer enquanto, no outro lado, tem uma grande frente conservadora.

Então, no balanço final, acho que, da perspectiva partidária, o PL é um vencedor. Da perspectiva política, de conquistar cidades, o PL é um perdedor nesse segundo turno.

Lembro que isso aconteceu algumas vezes com a esquerda nos anos 90: ía para muitas cidades no segundo turno, mas perdia porque a cidade rejeitava a política à esquerda. Agora, eu acho que aconteceu o contrário.

As cidades rejeitando políticos mais à direita ou querendo trazer uma discussão doutrinária, uma discussão ideológica, para o âmbito de uma eleição que as pessoas sabem que o prefeito vai cuidar é do transporte, do posto de saúde, das questões locais.

Houve um superdimensionamento do papel do Bolsonaro [para alavancar candidaturas]. E, se fosse o Lula [atuando com força nas campanhas deste ano], ou qualquer liderança, eu diria o mesmo.

A maioria dos eleitores municipais não vai fazer uma escolha porque o seu candidato a presidente [na eleição anterior] indicou.

BBC News Brasil – Você pontuou que 2018 foi uma eleição atípica, em que o Bolsonaro ganhou sem moderar seu discurso. E em 2022, ele perdeu, mas por muito pouco. O resultado dessa eleição municipal pode sinalizar que um candidato tão radicalizado vai ter dificuldade de derrotar Lula ou outro candidato que ele apoiar em 2026?

Jairo Nicolau – Essa lição já deveria ter sido aprendida olhando as eleições municipais desde 1992.

A eleição de 1988, a primeira eleição geral para prefeito e vereador [após a Ditadura Militar], foi a única nacionalizada por conta da morte dos operários em Volta Redonda [em uma greve na CSN reprimida pelo Exército] a poucos dias da eleição.

Aquilo criou uma onda de comoção [que favoreceu algumas vitórias da esquerda, como a eleição de petista Luiz Erundina, em São Paulo].

Tirando essa eleição, as outras todas foram eleições em que a pauta local de cada cidade prevaleceu.

Então, esse aprendizado já teria que ter sido feito por todos os políticos. O Bolsonaro [eleito em 2018] é uma exceção e, talvez, tenha criado a ilusão de que a radicalização leva à vitória numa eleição.

Aquela eleição é muito excepcional, sobretudo, porque Bolsonaro ganhou uma eleição em casa. Não estou dizendo que foi isso [que o elegeu], mas, vamos lembrar: Bolsonaro não foi a um debate, a uma sabatina.

Ele ficou em casa o segundo turno inteiro, e uma boa parte do Brasil só foi conhecer o Bolsonaro falando e apresentando suas ideias, depois que ele assumiu a Presidência.

Então, é uma eleição absolutamente atípica, e acreditar que esse modelo vai se repetir é desconhecer o Brasil e forçar a mão nessa ideia da polarização.

Quer dizer, ele [Bolsonaro] presente é capaz ainda de cultivar uma parte do país. Radicalizando, ele tem essa capacidade.

Mas, nessa eleição, ele foi mais moderado, por incrível que pareça, e também tinha uma máquina [partidária], uma máquina do centrão, do PL.

Fez uma campanha em que defendia o seu legado na Presidência, era outra lógica.

Se pegarmos as manchetes de 2020, amanhã [segunda-feira] você pode repetir [as mesmas machetes]: foi uma vitória do centro, da centro-direita.

Eduardo Paes [reeleito no Rio de Janeiro pelo PSD]. Belo Horizonte reelegeu [Fuad Nomam, do PSD]. São Paulo também [com a vitória de Ricardo Nunes, do MDB]. Salvador já tinha [reeleito Bruno Reis, do União Brasil] no primeiro turno.

No Recife, exceção [com a reeleição do João Campos, do PSB, no campo da esquerda]. No cômputo geral, é uma vitória das forças de direita moderada. Mas já tinha sido assim, não é novidade nenhuma. As novidades acontecem na margem.

BBC News Brasil – Uma novidade foi o Bolsonaro como cabo eleitoral dos candidatos do PL, em um partido estruturado. Qual o saldo do desempenho do Bolsonaro?

Jairo Nicolau – Eu, que acompanho mais a política com ênfase em processos de longo prazo, mais estruturais, estou menos interessado no Bolsonaro, como pessoa física, e mais no PL como pessoa jurídica.

A gente hoje tem um partido de direita, urbano, majoritário em termos de votação nas grandes cidades, estruturado. Aqui no Rio de Janeiro, tem a segunda maior bancada [na Câmara de Vereadores].

Em São Paulo, tem a segunda [empatado com MDB, ambos atrás do PT]. Em Belo Horizonte, a primeira [empatado com o PT]. Nas câmaras municipais, ele foi bem em várias cidades. Aqui no Rio, se interiorizou. Em São Paulo, conquistou algumas cidades importantes, espraiou também pelo território.

O Bolsonaro continua como uma liderança inconteste do campo da direita. Se ele fosse concorrer daqui a dois anos, e a probabilidade é baixíssima [devido a sua condenação na Justiça Eleitoral que o deixou inelegível], eu ficaria muito preocupado com o desempenho.

Ele sempre foi criticado por nunca ter sido um líder partidário. Dessa vez, ele resolveu organizar um partido. Ou seja, a gente tem um casamento entre uma liderança popular de direita, a mais popular que a direita brasileira já produziu depois da redemocratização, e um partido que podia ser qualquer um desses de direita, e ele escolheu o PL.

Agora, vamos olhar o lado mais estrutural [do desempenho dos candidatos do PL no segundo turno]: quantos desses derrotados serão candidatos ao Senado em 2026 com chances de serem eleitos?

Vamos ver também como o PL se saiu nas outras cidades, cidades médias. Acho que é mais interessante para a gente pensar esse processo da política brasileira no tempo.

BBC News Brasil – Mas, retomando à pergunta anterior, essas derrotas do PL no segundo turno indicam um espaço menor para candidaturas mais radicais na disputa presidencial de 2026?

Jairo Nicolau – Se perguntarem antes de qualquer eleição, a estratégia boa para o candidato, seja de direita ou de esquerda, é se movimentar para o eleitor de centro.

E centro no Brasil não é só o centro representado pela Simone [candidata do MDB derrotada em 2022 e hoje ministra do Planejamento] ou setores do PSDB mais moderados e intelectualizados. Isso não é a massa que muda uma eleição presidencial.

O centro é onde ficam as pessoas mais anódinas, politicamente menos informadas, mais desinteressadas. É esse lugar que os políticos precisam mirar para ganhar uma eleição, e foi o que o Lula fez.

A gente fala da vitória do Lula, como [resultado de] um apoio do centro, vindo da Simone Tebet, da Marina silva [ministra do Meio Ambiente], mas é [resultado de] um eleitor pragmático de São Paulo, das regiões metropolitanas, insatisfeito com a política de saúde da pandemia, como as pesquisas mostraram, que dão não para o Bolsonaro [em 2022].

Então, eu vejo que o processo foi centrífugo, foi pros polos [em 2018 e 2022].

Agora, se eu tivesse que apostar, eu imaginaria uma eleição, na disputa presidencial e dos governadores, com uma tendência mais centrípeta, com os candidatos buscando uma certa moderação, independente de quem concorrer.

BBC News Brasil – E quem está bem posicionado a partir da eleição municipal para disputar a Presidência em 2026? Ou está muito em aberto?

Jairo Nicolau – Está muito aberto. O Lula continua sendo o candidato óbvio [da esquerda], mas, por razões outras, não pelo [desempenho do] governo, mas pelas razões alegadas de saúde, da [possível falta de] vontade dele, pode ser que ele não disputa e reeleição.

A direita teria um grande nome competitivo, se fosse [o Bolsonaro como] o nosso [Donald] Trump [que disputa a eleição novamente nos EUA] voltando. Se o nosso Trump não puder concorrer, abre-se ali um vazio no campo não de esquerda: desde os segmentos moderados de centro, tipo PSD, passando por setores da direita, como o União Brasil, até o PL.

E, claro, que sempre se coloca o nome do Tarciso [de Freitas, governador de São Paulo, do Republicanos] como o nome óbvio [na disputa presidencial], mas acho que tem muito chão para rolar.

Lembra que em 2020 o Dória também apareceu como nome óbvio para presidente, após Bruno Covas se eleger [prefeito de São Paulo] com seu apoio. Doria tanto acreditou que ele largou o governo de São Paulo [mas acabou não viabilizando sua candidatura presidencial].

O jogo está muito mais aberto que em 2020. É muito cedo para fazer qualquer especulação, sobretudo por conta das singularidades que afetam as duas lideranças mais populares do Brasil atualmente.

BBC News Brasil – O Tarcísio sai dessa eleição fortalecido como uma liderança mais independente do Bolsonaro?

Jairo Nicolau – Eu não sei. O que eu ouço é que o movimento [para eventualmente disputar a eleição presidencial] é que ele se filie ao PL. Com exceção da vitória do Bolsonaro [em 2018], que concorreu com um partido praticamente inexistente [o PSL], os partidos fazem diferença para a disputa presidencial.

Concorrer pelo Republicanos é um desafio: é menos tempo de televisão, é pouco dinheiro. Então, naturalmente, ele iria para o PL. Indo para o PL, acho que ele não vai abrir mão do prestígio, da força do Bolsonaro.

Mas acho que tem muita água para rolar. As eleições municipais não são as eleições [locais] americanas, em que há uma espécie de prévia da força dos partidos. Elas [as eleições municipais brasileiras] servem para reacomodação muito pontual das forças políticas.

A gente já sabe que o PL cresceu, o PSDB afundou, que o PT não foi tão mal, que não ganhou muitas cidades, mas melhorou nas câmaras municipais. Enfim, o partido respira.

O PSB também [foi bem], mas o PDT foi mal. Esse tipo de coisa a gente aprende porque tem processo de longo prazo. Agora, eu não gosto muito dessas especulações, porque eu sei que elas, em geral, falham, sobretudo das eleições municipais para as nacionais.

BBC News Brasil – Você tem apontado que essa eleição mostra, mais uma vez, a falta de novas lideranças na esquerda. Por que há dificuldade de renovação nesse campo?

Jairo Nicolau – Eu não sei. O que me irritou um pouco foi esse clichê [em algumas análises] de que a esquerda não sabe conversar com o Brasil e precisamos fazer um novo programa para falar com a periferia, entender o empreendedorismo, entender os evangélicos.

Eu acho que o que falta à esquerda não é ideia, não é proposta, mas novas lideranças. Precisa de um estudo sobre organização do PT, sobre como funciona o processo decisório do partido, para dizer por que o PT envelheceu com as suas lideranças.

A Natália [Bonavides], de Natal, que perdeu a eleição [para Paulinho Freire, do União Brasil], é uma das jovens mais talentosas que vi no PT nos últimos dez, 15 anos.

Por que o PSOL consegue? ‘Ah, por questões de pauta identitária’. Não acho que seja isso. O PSOL, de alguma maneira, atrai a juventude universitária em muitas cidades, atrai uns setores da classe média, e o PT não tem atraído.

A gente vê muita renovação pela direita. O pessoal torceu muito o nariz com cursos [de formação política] como o que a [deputada federal do PSB por São Paulo] Tabata Amaral fez [RenovaBR]. Será que não é o caso do PT começar a criar quadros, atrair jovens para assistirem cursos de formação e serem candidatos?

A Tabata Amaral não começou no movimento estudantil. Ela começou como uma liderança do mundo acadêmico, tinha acabado a formação nos Estados Unidos, chegou aqui, fez um curso desses, montou uma rede e começou a carreira.

O PT precisa se modernizar internamente e formar líderes. Essa é a minha ideia, diferente desse negócio de fazer documento, chamar intelectual para conversar, ouvir pastores… Não, precisa de um pastor carismático petista, que seja querido na comunidade evangélica e mostre que você pode ser evangélico e petista, que a vida vai bem.

BBC News Brasil – O resultado do PT nessa eleição diz algo sobre o potencial de Lula em 2026?

Jairo Nicolau – Nada, não quer dizer nada. O PT melhorou sua votação para câmaras municipais, subiu nas grandes cidades. O desempenho desastroso do PT foi em 2016, melhorou um pouquinho em 2020, melhorou um pouquinho agora.

Em 2022, fez a segunda bancada [da Câmara dos Deputados]. Com essa votação para as câmaras municipais [em 2024], o PT deve continuar com a segunda ou, no máximo, terceira bancada na Câmara dos Deputados [em 2026], vai continuar com poder.

E o desempenho do Lula não tem nada a ver com o PT. O desempenho do Lula é Lula. O PT vai, sim, ter problema, se o Lula não puder ser candidato.

BBC News Brasil – O João Campos pode ser apontado como uma nova liderança da esquerda? Tem potencial para liderar o campo nacionalmente no futuro?

Jairo Nicolau – Eu vejo como a principal [nova liderança], se você pensa líderes abaixo de 40 anos [João Campos tem 30].

Ele é muito talentoso, um fenômeno eleitoral. Sem dúvida, a probabilidade de que ele continue como uma das principais lideranças da próxima década é óbvia. Mas ele não está o PT, está num partido menor.

BBC News Brasil – O João Campos não ser do PT e ser de Pernambuco, um Estado que não é tão importante em tamanho eleitoral, pode limitar a capacidade de liderança?

Jairo Nicolau – Acho que não, um político se nacionaliza. Sem fazer uma comparação descabida, o pai dele [Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em 2014, quando disputava a eleição presidencial pelo PSB], que também foi um grande político, se nacionalizou quando virou ministro do Lula [de 2004 a 2005], foi governador de Pernambuco [de 2007 a 2014].

Ele ainda é muito jovem, é pouco conhecido nacionalmente. Então, ainda tem um longo processo de nacionalização do nome que precede qualquer especulação [sobre seu futuro].

BBC News Brasil – O resultado das disputas municipais, com uma alta taxa de reeleição e predomínio da centro-direita, sinaliza algo sobre a composição do Congresso em 2026?

Jairo Nicolau – Eu acho que o [próximo] Congresso vai ser muito parecido com o atual. Tem sido esse padrão.

Provavelmente, 20% a 25% [dos próximos congressistas serão] da esquerda. Alguns segmentos de centro devem subir, MDB, PSD, e alguns partidos à direita. Por outro lado, teremos o PL, provavelmente, como maior partido de novo, pelos resultados das municipais, pela presença do Bolsonaro, e pelas lideranças, porque eles têm lideranças emergentes, como o Bruno Engler, o André Fernandes, o Fred Rodrigues [derrotado em Goiânia por Sandro Mabel, do União Brasil]. São todos jovens e têm uma carreira [pela frente].

E mesmo a Cristina [Graeml], que não é tão jovem assim, mas ela apareceu com muita força e já se fala na candidatura dela ao Senado pelo no Paraná. Eles vêm com muita força.

*Por Mariana Schreiber, Da BBC News Brasil